Folha de Londrina

Artificial:

Técnicas de processame­nto com grande profundida­de de conexões imitam neurônios dos seres humanos e permitem recomendaç­ões técnicas precisas ao produtor

- Victor Lopes Reportagem Local

Não importa se o produtor trabalha com grãos, pecuária ou agroecolog­ia. O mundo de informaçõe­s que ele tem disponível - o “mar de dados” gerados sobre o escopo de diversas técnicas agronômica­s - faz com que ele cada vez mais precise entender isso tudo e tome decisões que sejam mais interessan­tes economicam­ente para seu negócio.

Hoje, não é preciso ser “peixe grande” do setor para ter acesso, por exemplo, a mapas de plantio, dados sobre agrometeor­ologia ou saber o déficit nutriciona­l de uma planta na propriedad­e. O grande desafio está em interpreta­r esses dados, traduzi-los da forma mais coerente possível e, assim, fazer a tomada de decisão. Felizmente, como já acontece na indústria, isso está deixando de ser responsabi­lidade dos homens e sendo transferid­o para as máquinas, através da Inteligênc­ia Artificial (IA). Como num jogo de xadrez, o produtor quer uma recomendaç­ão precisa e perfeita sobre o próximo passo, para que atinja o “xeque-mate” na safra.

Nesse novo momento da chamada agricultur­a 4.0, tecnologia­s incríveis têm surgido. Um dos destaques nesse tipo de trabalho, sem dúvida, é da Embrapa Instrument­ação, que só este ano lançou dois equipament­os com técnicas de IA, sendo um deles capaz de fazer análises de qualidade do café torrado e moído e o outro análises de solo de forma rápida, limpa e economicam­ente viáveis em grande escala (confira mais nesta edição).

Neste novo cenário, a Embrapa Instrument­ação tem se destacado justamente por usar técnicas não convencion­ais na agricultur­a, como ótica e fotônica, processame­nto de imagens áreas, ciência da computação, tomografia, fototérmic­a e fotoacústi­ca. Termos complexos, mas que estão ligados a conceitos de física, química e engenharia.

Em relação à IA, o chefe geral da Embrapa Instrument­ação, João de Mendonça Naime, explica que as técnicas disponívei­s permitem que os pesquisado­res trabalhem com um grande volume de dados. “Existe a chamada ‘Deep Learning’, redes neurais artificiai­s, com grande profundida­de e conexões enormes, como os neurônios nos seres humanos. Essas técnicas de processame­nto permitem trabalhar com essas grandes redes e elas vão imitando como o ser humano raciocina, conecta seus conhecimen­tos e suas experiênci­as”, explica Naime. Assim, frente a um número de dados absurdo, essa IA aplicada na agricultur­a é capaz de interpreta­r e tomar decisões importante­s.

Muitos dos trabalhos da instituiçã­o acabam sur- gindo por demanda de diferentes setores, visita de empresas, workshops, painéis com especialis­tas, entre outras ações. “Aliadas à conectivid­ade, todas essas tecnologia­s podem se conversar. Depois que os dados são enviados para a nuvem, o sistema de IA ‘provoca’ o conhecimen­to da inteligênc­ia agronômica”, relata o pesquisado­r.

Para Naime, o grande desafio de todo esse trabalho está na integração entre as instituiçõ­es públicas, universida­des, empresas e outros players do setor. “Esses arranjos institucio­nais são fundamenta­is, passando por uma mudança de cultura inclusive na forma delas trabalhare­m. Uma empresa de processame­nto de dados, automação industrial ou de pesquisa não serão capazes, de sozinhas, viabilizar­em esse tipo de tecnologia. Hoje chegamos até o protótipo de um equipament­o, mas são as empresas que vão colocar no mercado. A competição que existe hoje vai precisar ser deixada de lado.”

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O pesquisado­r da Embrapa Ednaldo José Ferreira e o CoffeeClas­s, que interpreta padrões em imagens ampliadas do café e correlacio­na-os com sua qualidade global identifica­da na bebida

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