Qualidade do café torrado e moído
Imagine uma IA capaz de avaliar uma amostra de café e, de forma rápida, identificar se a bebida é gourmet ou de má qualidade apenas através do grão torrado e moído passando por um microscópio? Esse nível de tecnologia está sendo desenvolvido pela Embrapa Instrumentação há cinco anos e, em 18 meses, deve estar disponível em indústrias e cooperativas ligadas ao setor cafeeiro. No futuro próximo, não duvide se você encontrar um equipamento portátil com esse grau de avaliação disponível no supermercado, numa cafeteira portátil ou até mesmo em uma propriedade rural. O cafeicultor saberá em instantes a qualidade da sua produção, antes mesmo de preparar uma xícara de café na varanda de casa.
A ferramenta inteligente até aqui é um protótipo, mas em breve terá a capacidade incrível para auxiliar o trabalho de provadores de café - especialistas em análise sensorial - e, assim, consolidar uma tecnologia especificamente voltada à certificação baseada na Qualidade Global (QG) do Programa de Qualidade do Café (PQC) da ABIC (Associação Brasileira da Indústria do Café). A Associação, aliás, firmou este mês um contrato de cooperação técnica com a Embrapa visando melhorias na qualidade e desempenho do sistema.
Hoje, a avaliação de qualidade mais confiável é a sensorial e feita por provadores humanos, que avaliam uma percepção conjunta de características, como aroma, sabor, corpo, acidez, adstringência, amargor, fragrância entre outras que contribuem para a composição da qualidade do café.
Já a CoffeeClass - como foi batizada a tecnologia - interpreta padrões em imagens ampliadas do café torrado e moído e correlaciona-os com sua qualidade global identificada na bebida. Para isso, emprega técnicas de imagens de “reflectância e fluorescência”, que usam luzes diferenciadas sob a amostra do café para evidenciar compostos ligados à qualidade da bebida. Tudo isso através de um microscópio pouco maior que uma caneta.
A pesquisa com a tecnologia teve início em 2013 e foi desenvolvida pelo analista da Embrapa e doutor em Ciência da Computação e Matemática Computacional, Ednaldo José Ferreira. O trabalho foi realizado no âmbito do Consórcio Pesquisa Café. A grande sacada do projeto, segundo ele, foi associar um microscópio à IA e assim extrair informações correlacionadas à qualidade do café. O grande desafio está em extrair as informações de valor em meio a um “mar de dados”. “Será que as informações que estou extraindo do pó são as melhores? Isso envolveu muito estudo dos dados antes de gerar um sistema inteligente. Há todo um trabalho de ciência de dados (até que a IA, de fato, funcione)”, explica Ferreira.
A entidade ainda não consegue falar em custos para a tecnologia. Mas o pesquisador explica que o microscópio custa de R$ 2 mil a R$ 5 mil, sem claro, incluir o processo de valoração do software capaz de interpretar esses dados e apontar a qualidade do produto. “O foco da pesquisa sempre foi gerar um aparato simples e de baixo custo, que pudesse ser operado sem dificuldades, com comandos mínimos, por todos os atores da cadeia do café, na própria fazenda, antes de sair do campo, nos laboratórios, cooperativas, torrefadoras, supermercados, cafeterias, entre outros.
Atualmente, o Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo, e segundo maior consumidor. Um movimento de exportação que ultrapassou US$ 5 bilhões no ano passado. Números que fazem com que a tecnologia, aliás, possa atingir patamares impressionantes no futuro. “Ela pode ser portada, por exemplo, para plataformas móveis, como um celular. Com um aplicativo e algum aparato externo ao aparelho será possível fazer essa avaliação de qualidade.”