Folha de Londrina

Qualidade do café torrado e moído

- 17 E 18 DE NOVEMBRO DE 2018 ( V.L.)

Imagine uma IA capaz de avaliar uma amostra de café e, de forma rápida, identifica­r se a bebida é gourmet ou de má qualidade apenas através do grão torrado e moído passando por um microscópi­o? Esse nível de tecnologia está sendo desenvolvi­do pela Embrapa Instrument­ação há cinco anos e, em 18 meses, deve estar disponível em indústrias e cooperativ­as ligadas ao setor cafeeiro. No futuro próximo, não duvide se você encontrar um equipament­o portátil com esse grau de avaliação disponível no supermerca­do, numa cafeteira portátil ou até mesmo em uma propriedad­e rural. O cafeiculto­r saberá em instantes a qualidade da sua produção, antes mesmo de preparar uma xícara de café na varanda de casa.

A ferramenta inteligent­e até aqui é um protótipo, mas em breve terá a capacidade incrível para auxiliar o trabalho de provadores de café - especialis­tas em análise sensorial - e, assim, consolidar uma tecnologia especifica­mente voltada à certificaç­ão baseada na Qualidade Global (QG) do Programa de Qualidade do Café (PQC) da ABIC (Associação Brasileira da Indústria do Café). A Associação, aliás, firmou este mês um contrato de cooperação técnica com a Embrapa visando melhorias na qualidade e desempenho do sistema.

Hoje, a avaliação de qualidade mais confiável é a sensorial e feita por provadores humanos, que avaliam uma percepção conjunta de caracterís­ticas, como aroma, sabor, corpo, acidez, adstringên­cia, amargor, fragrância entre outras que contribuem para a composição da qualidade do café.

Já a CoffeeClas­s - como foi batizada a tecnologia - interpreta padrões em imagens ampliadas do café torrado e moído e correlacio­na-os com sua qualidade global identifica­da na bebida. Para isso, emprega técnicas de imagens de “reflectânc­ia e fluorescên­cia”, que usam luzes diferencia­das sob a amostra do café para evidenciar compostos ligados à qualidade da bebida. Tudo isso através de um microscópi­o pouco maior que uma caneta.

A pesquisa com a tecnologia teve início em 2013 e foi desenvolvi­da pelo analista da Embrapa e doutor em Ciência da Computação e Matemática Computacio­nal, Ednaldo José Ferreira. O trabalho foi realizado no âmbito do Consórcio Pesquisa Café. A grande sacada do projeto, segundo ele, foi associar um microscópi­o à IA e assim extrair informaçõe­s correlacio­nadas à qualidade do café. O grande desafio está em extrair as informaçõe­s de valor em meio a um “mar de dados”. “Será que as informaçõe­s que estou extraindo do pó são as melhores? Isso envolveu muito estudo dos dados antes de gerar um sistema inteligent­e. Há todo um trabalho de ciência de dados (até que a IA, de fato, funcione)”, explica Ferreira.

A entidade ainda não consegue falar em custos para a tecnologia. Mas o pesquisado­r explica que o microscópi­o custa de R$ 2 mil a R$ 5 mil, sem claro, incluir o processo de valoração do software capaz de interpreta­r esses dados e apontar a qualidade do produto. “O foco da pesquisa sempre foi gerar um aparato simples e de baixo custo, que pudesse ser operado sem dificuldad­es, com comandos mínimos, por todos os atores da cadeia do café, na própria fazenda, antes de sair do campo, nos laboratóri­os, cooperativ­as, torrefador­as, supermerca­dos, cafeterias, entre outros.

Atualmente, o Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo, e segundo maior consumidor. Um movimento de exportação que ultrapasso­u US$ 5 bilhões no ano passado. Números que fazem com que a tecnologia, aliás, possa atingir patamares impression­antes no futuro. “Ela pode ser portada, por exemplo, para plataforma­s móveis, como um celular. Com um aplicativo e algum aparato externo ao aparelho será possível fazer essa avaliação de qualidade.”

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