Folha de Londrina

AVENIDA PARANÁ

Londrina tem dez cubanos que deixaram de atuar nas UBS; prefeitura aguarda definição do Ministério da Saúde

- Geral@folhadelon­drina.com.br Pedro Moraes Reportagem Local

Cada um de nós tem entes queridos que deixaram suas vidas nessa guerra chamada trânsito

Asaída dos médicos cubanos no programa Mais Médicos já causa inseguranç­a aos usuários das UBS (Unidades Básicas de Saúde) de Londrina. Atualmente dez profission­ais de Cuba atuam no atendiment­o nos postos de saúde e por enquanto não há definição de quando eles deixarão de atender, mas o resultado já começa a ser sentido por quem procura uma consulta. Foi o que aconteceu na UBS do Conjunto Aquiles Stenghel, na zona norte. “Minha irmã hoje (sexta-feira, 16) tentou uma consulta com um clínico geral e avisaram a ela que só tem data para agosto do ano que vem. Em meio a tanta espera, diminuir o número de médicos fica ainda mais complicado”, apontou a dona de casa Rosana Nogueira, 32, que foi ao local pegar guia de exames de pré-natal. “Apesar das dificuldad­es, o atendiment­o é bom, e em relação a primeira vez que fiquei grávida, há nove anos, o serviço melhorou muito”, elogiou.

A desinforma­ção também era grande e parte da população não estava nem ciente da mudança no programa. A dona de casa Maria do Socorro Ferreira, 55, estava habituada a ser atendida por um médico cubano e lamentou a saída dele. “Eu tinha um pouco de dificuldad­e de falar com ele no princípio, mas depois deu tudo certo. Ele é atencioso e competente. Acompanha meu tratamento de hipertensã­o e da coluna. Estou muito triste com o que está acontecend­o. Deviam esperara repôr os médicos antes de retirar o que estão trabalhand­o”, avaliou.

Em outro posto de saúde da cidade, os funcionári­os comentavam a saída dos colegas cubanos. Bem aceitos, eles são considerad­os discretos quando falam sobre o regime de Cuba. “Eles não chegaram a reclamar de dinheiro ou da distância da família, mas eles comemoram muito ter a chance viajar pelo País e poder usar a internet livremente”, comentou uma funcionári­a que preferiu não se identifica­r. A FOLHA procurou os médicos que atuam na cidade, mas foi informada que eles não estão autorizado­s a falar sobre a decisão do governo cubano.

A Secretaria Municipal de Saúde aguarda a definição do Ministério da Saúde sobre quais serão as próximas medidas a serem tomadas. Segundo o secretário municipal Felippe Machado, a cidade tem 39 médicos de família, sendo que dez deles são cubanos. A situação causa preocupaçã­o. “Aguardamos como será feito esse novo edital e inclusive trabalhamo­s para aumentar o número desses profission­ais que são capacitado­s e prestam bom serviço. A população elogia”, explicou Machado.

No dia 9, o prefeito Marcelo Belinati anunciou a convocação de 55 médicos para a rede municipal. Os profission­ais - clínicos gerais e ginecologi­stas - serão alocados no Programa Saúde da Família (PSF), que foram aprovados em concursos de 2015 e 2016. As contrataçõ­es terão um impacto anual na folha de pagamentos de R$ 6 milhões e são um plano para diminuir as filas na cidade.

“A ideia é poder ter sempre um médico à disposição nas unidades de município, mas, com a saída dos cubanos, isso pode dificultar. Fora isso, o ingresso dos médicos depende de uma burocracia, mas se eles forem ágeis, podem começar a trabalhar em 15 dias”, detalhou o secretário.

Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde, 933 médicos do Mais Médicos, sendo 458 cubanos, atuam em 187 municípios e dois distritos sanitários indígenas do Paraná. Segundo o governo do Estado, um comunicado oficial federal informou a lista da primeira leva que deixará o Paraná no dia 25 de novembro - serão 44 profission­ais de municípios variados. O município com o maior número de profission­ais é Ponta Grossa, com 56. Já Curitiba conta com 5 médicos.

REUNIÃO INCONCLUSI­VA

Em Brasília, integrante­s da equipe técnica do Ministério da Saúde se reuniram nesta sexta-feira com membros da Opas (Organizaçã­o PanAmerica­na de Saúde) e representa­ntes da Embaixada de Cuba para discutir a saída de profission­ais cubanos do Mais Médicos. Uma nova reunião está marcada para segunda-feira (19), para definir o cronograma de saída dos médicos cubanos e a entrada de profission­ais brasileiro­s nas 8.332 vagas que serão abertas.

De acordo com a pasta, o edital para selecionar os novos médicos vai acontecer ainda em novembro, mas não tem data definida. As reuniões são para definir as próximas etapas e discutir medidas para que nenhum município seja prejudicad­o.

Na quarta-feira (14), o governo de Cuba anunciou que deixará o Mais Médicos por causa de declaraçõe­s “depreciati­vas e ameaçadora­s” do presidente eleito Jair Bolsonaro. Segundo o Ministério da Saúde, desde a criação do programa, nenhuma denúncia de irregulari­dade e erro médico envolvendo médicos cubanos foi feita por meio da ouvidoria do SUS (Sistema Único de Saúde). (Com Agência Estado)

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Ricardo Chicarelli “Em meio a tanta espera, diminuir o número de médicos fica ainda mais complicado”, apontou a dona de casa Rosana Nogueira
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