AVENIDA PARANÁ
Londrina tem dez cubanos que deixaram de atuar nas UBS; prefeitura aguarda definição do Ministério da Saúde
Cada um de nós tem entes queridos que deixaram suas vidas nessa guerra chamada trânsito
Asaída dos médicos cubanos no programa Mais Médicos já causa insegurança aos usuários das UBS (Unidades Básicas de Saúde) de Londrina. Atualmente dez profissionais de Cuba atuam no atendimento nos postos de saúde e por enquanto não há definição de quando eles deixarão de atender, mas o resultado já começa a ser sentido por quem procura uma consulta. Foi o que aconteceu na UBS do Conjunto Aquiles Stenghel, na zona norte. “Minha irmã hoje (sexta-feira, 16) tentou uma consulta com um clínico geral e avisaram a ela que só tem data para agosto do ano que vem. Em meio a tanta espera, diminuir o número de médicos fica ainda mais complicado”, apontou a dona de casa Rosana Nogueira, 32, que foi ao local pegar guia de exames de pré-natal. “Apesar das dificuldades, o atendimento é bom, e em relação a primeira vez que fiquei grávida, há nove anos, o serviço melhorou muito”, elogiou.
A desinformação também era grande e parte da população não estava nem ciente da mudança no programa. A dona de casa Maria do Socorro Ferreira, 55, estava habituada a ser atendida por um médico cubano e lamentou a saída dele. “Eu tinha um pouco de dificuldade de falar com ele no princípio, mas depois deu tudo certo. Ele é atencioso e competente. Acompanha meu tratamento de hipertensão e da coluna. Estou muito triste com o que está acontecendo. Deviam esperara repôr os médicos antes de retirar o que estão trabalhando”, avaliou.
Em outro posto de saúde da cidade, os funcionários comentavam a saída dos colegas cubanos. Bem aceitos, eles são considerados discretos quando falam sobre o regime de Cuba. “Eles não chegaram a reclamar de dinheiro ou da distância da família, mas eles comemoram muito ter a chance viajar pelo País e poder usar a internet livremente”, comentou uma funcionária que preferiu não se identificar. A FOLHA procurou os médicos que atuam na cidade, mas foi informada que eles não estão autorizados a falar sobre a decisão do governo cubano.
A Secretaria Municipal de Saúde aguarda a definição do Ministério da Saúde sobre quais serão as próximas medidas a serem tomadas. Segundo o secretário municipal Felippe Machado, a cidade tem 39 médicos de família, sendo que dez deles são cubanos. A situação causa preocupação. “Aguardamos como será feito esse novo edital e inclusive trabalhamos para aumentar o número desses profissionais que são capacitados e prestam bom serviço. A população elogia”, explicou Machado.
No dia 9, o prefeito Marcelo Belinati anunciou a convocação de 55 médicos para a rede municipal. Os profissionais - clínicos gerais e ginecologistas - serão alocados no Programa Saúde da Família (PSF), que foram aprovados em concursos de 2015 e 2016. As contratações terão um impacto anual na folha de pagamentos de R$ 6 milhões e são um plano para diminuir as filas na cidade.
“A ideia é poder ter sempre um médico à disposição nas unidades de município, mas, com a saída dos cubanos, isso pode dificultar. Fora isso, o ingresso dos médicos depende de uma burocracia, mas se eles forem ágeis, podem começar a trabalhar em 15 dias”, detalhou o secretário.
Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde, 933 médicos do Mais Médicos, sendo 458 cubanos, atuam em 187 municípios e dois distritos sanitários indígenas do Paraná. Segundo o governo do Estado, um comunicado oficial federal informou a lista da primeira leva que deixará o Paraná no dia 25 de novembro - serão 44 profissionais de municípios variados. O município com o maior número de profissionais é Ponta Grossa, com 56. Já Curitiba conta com 5 médicos.
REUNIÃO INCONCLUSIVA
Em Brasília, integrantes da equipe técnica do Ministério da Saúde se reuniram nesta sexta-feira com membros da Opas (Organização PanAmericana de Saúde) e representantes da Embaixada de Cuba para discutir a saída de profissionais cubanos do Mais Médicos. Uma nova reunião está marcada para segunda-feira (19), para definir o cronograma de saída dos médicos cubanos e a entrada de profissionais brasileiros nas 8.332 vagas que serão abertas.
De acordo com a pasta, o edital para selecionar os novos médicos vai acontecer ainda em novembro, mas não tem data definida. As reuniões são para definir as próximas etapas e discutir medidas para que nenhum município seja prejudicado.
Na quarta-feira (14), o governo de Cuba anunciou que deixará o Mais Médicos por causa de declarações “depreciativas e ameaçadoras” do presidente eleito Jair Bolsonaro. Segundo o Ministério da Saúde, desde a criação do programa, nenhuma denúncia de irregularidade e erro médico envolvendo médicos cubanos foi feita por meio da ouvidoria do SUS (Sistema Único de Saúde). (Com Agência Estado)