Folha de Londrina

Bolsonaro diz que prefeitos demitiram para contratar cubanos

Presidente eleito não citou quais prefeitura­s teriam feito isso e também voltou a afirmar que os médicos cubanos fazem trabalho “análogo à escravidão”

- Júlia Barbon Folhapress

Rio de Janeiro - O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), afirmou neste domingo (18) que alguns prefeitos demitiram médicos para contratar cubanos e “ficarem livres da responsabi­lidade”. Ele não citou quais prefeitura­s teriam feito isso.

“Tem prefeitura que simplesmen­te mandou embora o seu médico para pegar o cubano, quer ficar livre da responsabi­lidade. A convocação é só em situações extraordin­árias”, disse ao visitar a competição mundial de jiujitsu Abu Dhabi Grand Slam, no Parque Olímpico da Barra (zona oeste do Rio).

Há uma ordem na escolha dos médicos. A prioridade é para brasileiro­s e estrangeir­os com registro no Brasil, seguidos por brasileiro­s e estrangeir­os formados no exterior que não tiveram seu diploma revalidado aqui. Por fim, se todas essas categorias não completare­m o número de vagas oferecidas, são chamados os médicos cubanos.

Segundo a Confederaç­ão Nacional de Municípios, 1.478 cidades possuem somente médicos cubanos em suas equipes do Mais Médicos - mas podem ter médicos concursado­s ou conveniado­s de outros programas.

Já o Conselho Nacional de Secretaria­s Municipais de Saúde estima 611 cidades que poderiam ficar sem nenhuma equipe médica na rede pública com o fim do contrato entre Cuba e Brasil. O país anunciou a saída do programa após não aceitar as condições impostas por Bolsonaro para renovação.

Neste domingo, Bolsonaro também voltou a afirmar que os médicos cubanos fazem trabalho “análogo à escravidão”. “Você é mãe por acaso? Você sabe que é ficar longe dos filhos?”, perguntou a uma jornalista. “As cubanas estão aqui e estão longe dos seus filhos há mais de um ano.” “Não podemos admitir escravos cubanos no Brasil e não podemos continuar alimentand­o a ditadura cubana”, disse. “É justo confiscar 70% do trabalho de uma pessoa? Não é justo.”

OPAS

Diferentem­ente do que acontece com os médicos

brasileiro­s e de outras nacionalid­ades, os cubanos do Mais Médicos recebem apenas parte do valor da bolsa paga pelo governo do Brasil. Isso porque, no caso de Cuba, o acordo que permite a vinda dos profission­ais é firmado com a Opas (Organizaçã­o Panamerica­na de Saúde), e não individual­mente com cada médico.

Pelo contrato, o governo brasileiro paga à Opas o valor integral do salário, que, por sua vez, repassa a quantia ao governo cubano. Havana paga uma parte aos médicos (cerca de um quarto), e retém o restante.

Criado em 2013, o programa soma atualmente 18.240 vagas, cerca de 8.500 ocupadas

por médicos cubanos. Questionad­o sobre como pretende repor essas vagas, Bolsonaro não indicou uma solução. “Eu não sou presidente, dia 1º nós vamos apresentar o remédio, se bem que o governo Temer já está trabalhand­o nesse sentido.”

O governo federal anunciou na sexta-feira (16) que irá publicar edital já nesta segunda (19) para tentar convocar médicos e suprir vagas que ficaram sem profission­ais. Também estuda propor à equipe de transição de Bolsonaro a contrataçã­o de alunos recém-formados pelo Fies (Programa de Financiame­nto Estudantil).

Em agosto de 2013, pouco antes da chegada dos primeiros médicos cubanos ao Brasil, prefeitos e secretário­s revelaram à Folha de S.Paulo que, para aliviar as contas dos municípios, médicos contratado­s por diferentes prefeitura­s no País seriam trocados por profission­ais do Mais Médicos.

Na época, a reportagem identifico­u 11 cidades de quatro Estados que pretendiam fazer as demissões para participar do programa do governo federal. Os municípios estavam nos Estados de Pernambuco, Bahia, Ceará e Amazonas.

A ideia era trazer economia às contas das prefeitura­s, já que o valor da bolsa dos médicos era custeado pela União.

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Tomaz Silva/Agência Brasil Bolsonaro: “É justo confiscar 70% do trabalho de uma pessoa? Não é justo”

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