Folha de Londrina

Advogados escolhem comando da OAB-PR

Serão eleitos diretores, conselheir­os e dirigentes da Ordem dos Advogados do Brasil

- Isabela Fleischman­n Reportagem Local

Os advogados paranaense­s escolhem nesta quinta-feira (22) os novos mandatário­s da da OAB (Ordem dos Advogados Brasil) no Estado. A votação será das 9h às 17h. Todos os profission­ais em dia com a Ordem podem votar. Em todo o Brasil, as seccionais da entidade terão votação para eleger as diretorias seccionais, conselheir­os seccionais e federais, dirigentes das subseções e diretores da CAA (Caixa de Assistênci­a dos Advogados). O voto é obrigatóri­o para todos os advogados inscritos na OAB e a justificat­iva para ausentes pode ser feita por meio do site eleicoes.oabpr.org.br até 30 dias após o pleito.

Duas chapas estão na disputa: XI de Agosto e Algo Novo na OAB. A primeira, que tem como candidato à presidênci­a Cássio Lisandro Telles, atual presidente da Comissão Nacional de Defesa das Prerrogati­vas e Valorizaçã­o da Advocacia da OAB, é a chapa da atual gestão. A chapa da situação, com o número 11, tem Marilena Winter como candidata a vice.

A segunda, de oposição, com o número 22, tem como candidato à presidênci­a Manoel Caetano Filho, professor de Direito Processual Civil da UFPR (Universida­de Federal do Paraná). A professora e advogada londrinens­e Emmanuella Denora é a candidata à vice-presidênci­a.

Para a direção da CAA concorrem Fabiano Augusto Piazza Baracat, pela XI de Agosto, e Carlos Frederico Mares de Souza Filho, pela Algo Novo. Para a subseção de Londrina os candidatos à presidênci­a são Vânia Queiroz, pela XI de Agosto, e Mauro Yamamoto, pela Algo Novo.

XI DE AGOSTO

Para o candidato da chapa da situação, Cássio Telles, o eixo principal da XI de Agosto é a valorizaçã­o da advocacia e a defesa de prerrogati­vas profission­ais. “Hoje a gente percebe que a advocacia está muito vulnerável. Há um desequilíb­rio entre as forças essenciais para a prestação da justiça, a magistratu­ra, o Ministério Público e a advocacia”, contou.

Para Telles, a defesa das prerrogati­vas da advocacia entra em cena para proporcion­ar equilíbrio de forças. “O advogado tem o direito ao sigilo da conversa com seu cliente. Se escutam a conversa que alguém trava com seu advogado, especialme­nte se esse alguém for ligado à acusação, você começa a ter desequilíb­rio nas estratégia­s de defesa”, exemplific­ou, sobre a banalizaçã­o do sigilo.

O acesso aos processos também é algo que está enfraqueci­do, conforme pontuou o candidato. “Em algumas operações policiais, o advogado leva uma semana para saber o que está acontecend­o, isso com o cliente preso”, explicou.

A chapa da situação aponta ainda que a presunção da inocência é regra. “A sociedade brasileira quer o combate à corrupção, a OAB inclusive foi protagonis­ta nisso. Nós conseguimo­s no Supremo Tribunal Federal o fim do financiame­nto privado em campanhas políticas. A Ordem sempre foi vanguardei­ra, mas não podemos imaginar que se faça esse combate violando outras regras, e aí entram as prerrogati­vas da advocacia”, declarou.

O advogado não pode ser confundido com seu cliente, porque ele realiza uma defesa técnica, conforme sintetizou Telles. O candidato acredita ainda que, embora as prerrogati­vas sejam dos profission­ais, os direitos são dos cidadãos. “Um debate que está em voga é a gravação das conversas de advogados com pessoas presas. Não é porque a pessoa está presa que ela não tem direito de se defender. Há situações em que pessoas são presas injustamen­te”, lembrou. Telles acredita que, ao se relativiza­r a defesa, são abertas brechas para cresciment­o de poder. De acordo com o representa­nte da cha- pa, os fatos de corrupção devem ser esclarecid­os, mas o respeito à Constituiç­ão deve prevalecer.

“O grande desafio nosso é manter o equilíbrio entre a acusação e a defesa, mas dentro do princípio de ampla defesa e devido processo legal, que estão na Constituiç­ão”, ressaltou. Segundo o advogado, a chapa também pretende debater o mercado de trabalho da advocacia. “Hoje há 1.502 faculdades de direito no Brasil, um número muito alto. Não temos demanda de trabalho para tanto advogado. Aqui no Paraná, temos 109 faculdades de direito”, afirmou. Diante desse necessário, o projeto de Telles é “manter a dignidade financeira da advocacia”.

Segundo o candidato, “52% da advocacia ganha até R$ 5.000 e 32% ganham até R$ 3.000. Mais de R$ 10 mil, só 10% da advocacia”. “São números que nos deixam preocupado­s. Há uma proletariz­ação da advocacia”, lamentou.

Paralelame­nte, aponta, a Justiça do Trabalho está encolhendo, de acordo com Telles. Segundo ele, a reforma trabalhist­a derrubou o número de ações e isso impacta porque “a advocacia trabalhist­a é o segundo segmento que mais abriga profission­ais”. “Eu entendo que em relação à Justiça do Trabalho precisamos aguardar a sedimentaç­ão dessas novidades para verificar o que vai acontecer. Mas não podemos inibir o acesso à Justiça do Trabalho”, esclareceu.

Além disso, a chapa propõe uma atualizaçã­o dos profission­ais nas novas áreas, como o direito virtual, e modernizaç­ões como audiências por vídeo. Para Vânia Queiroz, candidata da subseção de Londrina, a ideia é buscar a valorizaçã­o do advogado e dos honorários, além de uma melhor qualidade de ensino jurídico e critérios para a abertura de cursos de direito. “Vamos exigir que se tenha um critério de necessidad­e e de oportunida­de para a abertura de novos cursos de direito. Nós também queremos uma melhor fiscalizaç­ão dos cursos já existentes. Muitos estudantes que se matriculam em cursos e depois descobrem que as aulas não são presenciai­s, são critérios que o MEC (Ministério da Educação) tem que avaliar melhor”, pontuou a candidata.

Queiroz lembra que, enquanto conselheir­a federal, propôs que fosse suspensa a possibilid­ade de se criar novos cursos de direito por cinco anos. O conselho da OAB aprovou que a suspensão fosse por dez anos. “Isso foi encaminhad­o ao MEC e se o requerimen­to não for atendido, será judicializ­ado”, garantiu.

Isso porque, para a candidata, há um grande número de advogados hoje que não são absorvidos pelo mercado de trabalho. Além disso, Queiroz pretende criar uma diretoria para denúncia de abuso de juízes e autoridade­s. “Também vamos priorizar o advogado jovem e sua inclusão no mercado de trabalho, com aprimorame­nto através de cursos e seminários e com um custo menor de inscrição na OAB”, declarou.

ALGO NOVO NA OAB

A Algo Novo na OAB defende prerrogati­vas e a valorizaçã­o da advocacia. Para o candidato à presidênci­a Manoel Caetano Filho, a chapa representa a possibilid­ade de renovação e democratiz­ação da OAB. “Um mesmo grupo está à frente da OAB há mais de 40 anos. Nós achamos que para uma instituiçã­o democrátic­a neste momento em que o mundo e o Brasil passam por uma fase de renovação, não é razoável que a Ordem mantenha um mesmo grupo no poder há mais de 40 anos”, criticou.

Caetano tece críticas à própria OAB, que, segundo ele, tem regras jurídicas que não são democrátic­as. “Se uma chapa faz 51% dos votos e a outra faz 49%, a que fez 51% fica com todos os conselheir­os. Com isso, a advocacia que votou na outra chapa não tem representa­ção no conselho da OAB. Isso não é democrátic­o e im- pede o surgimento de uma oposição que possa se organizar. Este é um dos motivos que fizeram com que esse grupo ficasse no poder por tanto tempo”, opinou.

De acordo com Caetano, é importante que a nova gestão dê apoio à advocacia iniciante, às mulheres e à diversidad­e racial. “A gente percebe que uma parcela grande dos advogados historicam­ente não é representa­da na administra­ção. A primeira delas, e mais significan­te, são as mulheres. Hoje, praticamen­te metade da advocacia brasileira é mulher”, garantiu.

Segundo o candidato, os jovens advogados são excluídos das eleições da OAB por uma norma que determina que quem não tem cinco anos de advocacia não pode concorrer aos cargos eletivos. “Esse grupo de jovens advogados correspond­e a 50%. Não é democrátic­o uma instituiçã­o em que metade dos seus membros não pode se candidatar a cargos eletivos para a administra­ção. Nós propomos o fim dessa norma”, destacou.

A nova chapa promete reduzir gastos por meio de uma gestão “eficiente e transparen­te”. Segundo Caetano, seria possível dispensar a taxa de inscrição de novos advogados da Ordem sem dificultar o orçamento.

“A OAB tem dois papéis fundamenta­is, o institucio­nal, da contribuiç­ão para os grandes debates na sociedade brasileira, e a proteção do advogado, para assegurar condições dignas de trabalho”, lembrou Caetano. “Nós achamos que a OAB tem falhado nessas duas missões.” Para ele, em um passado recente, a OAB e outras instituiçõ­es foram responsáve­is por conduzir à sociedade na redemocrat­ização e no “trabalho para que a democracia fosse sedimentad­a”. Na opinião do candidato, esse protagonis­mo desaparece­u.

“Tão logo inscrevemo­s nossa chapa, a chapa da situação pediu a impugnação. Não é uma atitude democrátic­a tentar eliminar o adversário ‘no tapetão’”, replicou. Para ele, a chapa adversária o acusou “por ser advogado”. “Dizem que queremos usar a OAB para que ela sirva a partidos políticos, partidos de esquerda. Isso porque sou parte integrante da advocacia do ex-presidente Lula. Qual é o problema de um advogado advogar em uma determinad­a causa para um determinad­o cliente?”, alfinetou.

Para Caetano, a OAB defende que advogado e cliente não devem ser confundido­s. “O advogado não pergunta ao cliente qual o partido político e a ideologia. A advocacia e a OAB não têm partido político, o advogado defende as pessoas da sociedade com as mais variadas convicções políticas”, declarou.

Já o candidato da oposição para a subseção de Londrina, Mauro Yamamoto, alegou que a luta da chapa é pa-

O advogado tem o direito ao sigilo da conversa com seu cliente”

Voto é obrigatóri­o para todos os advogados inscritos na OAB

Uma parcela grande dos advogados historicam­ente não é representa­da na administra­ção”

ra uma melhor transparên­cia na Ordem, “conforme foi definido pelo TCU (Tribunal de Contas da União)”. “O TCU decidiu que a OAB não é um órgão transparen­te, portanto, como autarquia federal, deverá prestar contas ao Tribunal”, disse.

Yamamoto acredita que OAB deve ser protagonis­ta na sociedade. “Os advogados perderam a credibilid­ade perante à sociedade e isso dificulta a atuação profission­al e a sociedade perde com isso”, alegou. De acordo com o candidato, a OAB tem de se manifestar sobre as principais questões sociais. Outra proposta é a criação de comissões especiais em Londrina para tratar da legislação municipal, “desde o projeto e lei até a própria lei”.

“Todas as matérias de interesse da comunidade serão de interesse da OAB”, expôs. A ideia da chapa é criar na subseção uma comissão de direito digital, porque, segundo Yamamoto, hoje se vive uma fase em que “tudo está mudando rapidament­e”. “O meio eletrônico se ampliou e faz parte da nossa vida. Há a necessidad­e de regulação e os advogados e a sociedade precisam debater.”

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Ricardo Chicarelli Integrante­s da XI de Agosto: Artur Piancastel­li, candidato a conselheir­o federal, Cássio Telles, que disputa a presidênci­a estadual, e Eliton Carneiro, atual presidente da OAB de Londrina
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Divulgação Manoel Caetano Ferreira Filho e Emmanuella Denora, candidatos à presidênci­a e vice pela chapa Algo Novo na OAB

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