Folha de Londrina

Mandetta diz que Mais Médicos era ‘convênio entre PT e Cuba’

Futuro ministro da Saúde criticou “ruptura unilateral” de acordo por parte do governo cubano

- Luciana Dyniewicz e Lígia Formenti

Brasília - Escolhido ministro da Saúde do governo Jair Bolsonaro, o deputado federal Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), 53, criticou nesta terça-feira (20) o programa Mais Médicos, dizendo que era “um convênio entre o PT e Cuba”. Para ele, a área precisa de “políticas sustentáve­is” porque “improvisaç­ões costumam terminar mal”. Logo após o anúncio do presidente eleito, Mandetta disse que a primeira medida será a de se reunir com o atual governo para entender os impactos do fim do convênio com Cuba no programa.

“Era um dos riscos de se fazer um convênio e terceiriza­r uma mão de obra tão essencial. Me pareceu muito mais um convênio entre Cuba e o PT, e não entre Cuba e o Brasil, porque não houve uma tratativa bilateral, mas sim uma ruptura unilateral”, afirmou. “Era um risco que a gente já alertava no início.”

Depois de o governo de Cuba comunicar no dia 14 a saída do Mais Médicos por “referência­s diretas, depreciati­vas e ameaçadora­s” feitas por Bolsonaro, os profission­ais cubanos começaram a se desligar do programa nesta terça. O presidente do Conasems (Conselho Nacional de Secretário­s Municipais de Saúde), Mauro Junqueira, informou que em várias cidades os médicos comunicara­m o fim da colaboraçã­o. “Eles necessitam de um tempo para tomar todas as providênci­as necessária­s para voltar a Cuba.”

A reportagem procurou a Opas (Organizaçã­o Panamerica­na de Saúde), que atuava entre os governos dos dois países, mas a informação não foi confirmada. Pelo cronograma divulgado pela Opas, os 8.322 médicos cubanos devem deixar o Brasil até 12 de dezembro.

Para preencher as vagas, o governo abriu edital inicialmen­te para médicos formados no Brasil. A partir da próxima semana, será ampliado para formados fora do País, inclusive cubanos. Em pelo menos 600 cidades brasileira­s, o atendiment­o na atenção básica é feito só por profission­ais do Mais Médicos. “Nossa estimativa é que a população poderá ficar desassisti­da por um período”, disse Junqueira.

Nesta terça-feira, Bolsonaro voltou a criticar o programa e afirmou acreditar que os primeiros médicos cubanos que deixaram o Brasil são militares e agentes infiltrado­s. De acordo com a Opas, os profission­ais que embarcaram para Cuba já haviam concluído a missão no Brasil. “Há cinco anos eu já criticava a questão de não poder trazer a família para cá, isso é desumano, a questão do salário e a questão de não ter uma comprovaçã­o mínima que seja sobre se são médicos ou não”, disse o presidente eleito.

Mandetta defendeu que haja avaliação dos profission­ais, mas que é possível realizá-la em serviço. “O que queremos dizer com Revalida é saber quem é (o profission­al), o que estudou, o que falta de lacuna para poder atender o povo brasileiro. Não pode haver relativiza­ção. Não existe vida do interior e da capital, existe vida.”

DEFESA

Mandetta ganhou notoriedad­e por integrar um grupo que tentou frear o avanço da lei do Mais Médicos no Congresso. Entre os argumentos estava o de que estrangeir­os só poderiam trabalhar no País com a validação do diploma. Sem isso, afirmava, a proposta significar­ia saúde de segunda categoria para os mais pobres. Para resolver a falta de profission­ais em regiões afastadas, ele defendia uma carreira de médicos semelhante a de juízes, começando em cidades menores e progredind­o para as maiores. Os dois pontos foram integrados ao programa de Bolsonaro.

O futuro ministro também é relator de um projeto que altera a lei que permitiu o capital estrangeir­o na saúde. Tanto Mais Médicos quanto o capital estrangeir­o foram aprovadas durante o governo do PT.

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Leonardo Prado/Câmara dos Deputados “Era um dos riscos de se fazer um convênio e terceiriza­r uma mão de obra tão essencial”, afirmou Luiz Henrique Mandetta

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