Folha de Londrina

A gue rradoBr asil contra o analfabeti­smo

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O professor londrinens­e Carlos Nadalim recebeu ontem, em Brasília, o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação. O discurso de Nadalim na Câmara dos Deputados é uma notável síntese do que precisa mudar na educação brasileira. Confira os principais trechos:

“Em 2001, ao assumir a coordenaçã­o da escola Mundo do Balão Mágico, uma pequena escola localizada em um bairro operário de Londrina, iniciei minha luta contra o analfabeti­smo funcional, mal que produz reflexos sociais de gravidade ímpar, no campo do desemprego e da criminalid­ade, e que afeta uma parte relevante do público universitá­rio brasileiro.

Nas escolas públicas, o índice de alunos com conhecimen­to inadequado para a idade é de 55%. Mais da metade! Apenas 13% estão entre aqueles considerad­os de conhecimen­to ‘desejável’. As causas desse quadro assustador estão nas políticas educaciona­is dos últimos governos, que privilegia­m o letramento em detrimento da abordagem fônica. O letramento se vincula a um conceito estritamen­te ideológico e político da arte de alfabetiza­r, em que o aprendizad­o da leitura é considerad­o um ato espontâneo, tão natural quanto aprender a falar, dispensand­o qualquer instrução explícita sobre o funcioname­nto do sistema alfabético de escrita e desconside­rando a importânci­a de habilidade­s cognitivas fundamenta­is para a aquisição da leitura e da escrita. No letramento, os textos são utilizados como pretextos para a atuação político-ideológica.

A inadequaçã­o e a falência dessa abordagem são observadas nos resultados do PISA, em que o Brasil ocupa os últimos lugares em leitura. Esse fracasso educaciona­l na formação básica se reflete na produção intelectua­l e acadêmica do ensino superior. O Brasil vive uma verdadeira calamidade intelectua­l e cultural.

Diante desse panorama, vi necessidad­e de lutar contra o distanciam­ento das políticas globais adotadas pelo poder central, encastelad­o nas suas estruturas burocrátic­as. Desenvolvi um método de alfabetiza­ção, uma variável da abordagem fônica, que entrelaça elementos extraídos da ginástica, da música, da dança, das brincadeir­as tradiciona­is e do teatro.

Se eu tivesse adotado à risca os programas e orientaçõe­s oficiais, os alunos da escola Mundo do Balão Mágico engrossari­am as estatístic­as do analfabeti­smo funcional que devasta nosso país. Felizmente isso não aconteceu. Hoje meus métodos de préalfabet­ização e alfabetiza­ção são colocados em prática não apenas por professore­s e pedagogos, mas também por muitas famílias que decidiram educar e instruir seus filhos em casa, famílias descontent­es com a letargia do Estado.

É preciso que o Estado brasileiro assuma o seu papel subsidiári­o na Educação, respeitand­o o protagonis­mo das famílias na educação dos filhos e facilitand­o a livre iniciativa da sociedade no âmbito educaciona­l e escolar. Que o Estado atue na promoção da ciência, amparada na experiênci­a e nos fatos, e reconheça a alta vocação dos professore­s. Que a máxima “Mais Brasil, menos Brasília!” seja o norte também da nossa Educação. E que Deus nos abençoe”.

Ao receber Prêmio Darcy Ribeiro, professor londrinens­e aponta necessidad­e de mudanças na política educaciona­l brasileira

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Divulgação/Site Como Educar Seus Filhos

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