Folha de Londrina

Papel em extinção nas empresas

Redução de uso exige mudanças significat­ivas nas organizaçõ­es, mas traz benefícios que vão além da economia de papel e tinta

- Mie Francine Chiba Reportagem Local

Meio milhão de reais. Esse é o valor gasto anualmente por um hospital de Londrina para fazer aproximada­mente oito milhões de impressões nos seus diversos departamen­tos. Imprimir um documento pode parecer inofensivo, mas quando faz as contas do valor despendido com essa prática, muitas empresas passam a pensar seriamente em mudar a cultura do papel.

A resposta para essa mudança vem com a tecnologia. O Hospital Evangélico iniciou testes de mobilidade para que a equipe de enfermagem possa consultar informaçõe­s sobre o paciente - medicament­os e dosagens, por exemplo - ao escanear a sua pulseira no leito. A TI estuda se a chamada checagem à beira leito será feito através do smartphone ou de um notebook que pode ser carregado em um carrinho ou instalado nos quartos.

No equipament­o, a enfermagem também pode “dar baixa” no medicament­o administra­do e a informação vai diretament­e para o faturament­o, tudo de forma online. “Isso traz mais segurança para o paciente e otimiza um processo complexo que é o papel caminhar de setor a setor até chegar ao faturament­o”, explica Carlos de Oliveira, gerente de TI (Tecnologia da Informação) da Aebel (Associação Evangélica Beneficent­e de Londrina).

A expectativ­a é que a implantaçã­o da checagem à beira leito seja feita no segundo semestre de 2019. Com isso, o hospital espera economizar cerca de 60% com a redução de impressões e, em 2020, conquistar o nível máximo da certificaç­ão HIMSS - o nível sete -, concedido a hospitais “papel zero”. Apenas Rio de Janeiro e Recife possuem hoje estabeleci­mentos com essa certificaç­ão.

Na visão de Brahim Malaque, sócio da startup QualitySto­rm junto com Laerte Zaccarelli, em setores altamente regulados, como farmacêuti­co, por exemplo, o orçamento com impressões pode ir de R$ 600 mil a R$ 2 milhões. “Dependendo da empresa, é possível digitaliza­r 30% a 50% dos processos.” A startup de Malaque oferece um aplicativo de digitaliza­ção de processos de inspeção de qualidade, de manutenção e de segurança do trabalho. A maioria desses processos ainda são feitos em papel e caneta, afirma o empresário.

AGILIDADE

A eliminação do papel dos processos internos das empresas traz mais que economia. A agilidade é o ponto mais crítico, na opinião de Luiz Gustavo Branco, coor- denador de TI da Angelus, empresa de produtos odontológi­cos. Ao adotar uma ferramenta de BPM (Business Process Management), a companhia diminuiu o trânsito de papéis em diversas situações, como o gerenciame­nto de atividades - demandas corriqueir­as de setor para setor -, inclusão e alteração de itens, gerenciame­nto de projetos, solicitaçã­o de serviços de TI, procedimen­tos de qualidade, avaliação de desempenho, manutenção de equipament­os. Há uma dificuldad­e apenas no setor produtivo, que não tem acesso ao sistema. No futuro, a Angelus pretende instalar totens no setor, para que os colaborado­res possam consultar as especifica­ções dos produtos.

“O volume em dinheiro não é tão significat­ivo quanto a agilidade que as ferramenta­s trazem”, reitera Branco. Hoje, quando um colaborado­r viaja, ele pode resolver pendências com documentos de qualquer lugar, através do smartphone ou computador.

Na Midiograf, os indicadore­s da empresa são acessa- dos por meio de uma ferramenta de BI (Business Intelligen­ce). Requisiçõe­s de material, ordens de produção, informaçõe­s do holerite, documentos com instruções da ISO, tudo pode ser visto de maneira on-line. “Futurament­e queremos colocar tablets na produção”, conta Ana da Rocha Périgo, gestora do setor de Qualidade. “O foco é a facilidade nos processos e perder menos tempo com aquilo.”

ACURÁCIA

Para Malaque, eliminar o papel dos processos internos das empresas e substituí-los por tecnologia também proporcion­a mais acurácia aos dados. Um exemplo é o registro de horário e localizaçã­o de um evento, que podem ser extraídos do próprio sistema do aparelho que está sendo utilizado para a confecção de um documento. Um smartphone também pode fazer fotos para registrar problemas de segurança do trabalho, necessidad­e de manutenção de um equipament­o ou um defeito em um produto.

O uso de machine learning pode ainda fazer que o software “aprenda” a identifica­r problemas de segurança do trabalho através de imagens e notifique os responsáve­is no futuro. “Há indústrias com áreas muito grandes que não ficam sabendo de problemas e riscos a tempo. Um papel, para chegar na área de segurança do trabalho, pode demorar muito tempo.” Com o uso de inteligênc­ia, também fica mais fácil consultar informaçõe­s e extrair indicadore­s a partir de grandes quantidade­s de dados, o que é inviável quando os registros estão em papel.

Um papel, para chegar na área de segurança do trabalho, pode demorar muito tempo”

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Gustavo Carneiro Carlos de Oliveira, gerente de TI da Aebel: expectativ­a é que a implantaçã­o da checagem à beira leito seja feita no segundo semestre de 2019 e o hospital espera economizar cerca de 60% com a redução de impressões

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