Folha de Londrina

Vielas em bom e mau estado

Reportagem percorreu algumas regiões para saber da população se esses atalhos mais ajudam ou atrapalham

- Edson Neves Reportagem Local

Dados da prefeitura indicam que Londrina possui 310 vielas, que ficam principalm­ente nos bairros mais antigos. A reportagem percorreu algumas regiões para saber se esses atalhos mais ajudam ou atrapalham. Tanto situação das áreas quanto a opinião de quem mora próximo são bem diferentes.

Na zona leste, uma viela ultrapassa as ruas Catarina de Bora, Maria Madalena e Teresa de Ávila, jardim Roveri. Morador da última rua, o microempre­sário Moacir Azalim Pereira disse que nunca sofreu violência, mas que se previne. “Sempre oriento o meu filho a dar uma volta no quarteirão para sempre ver quem pode estar na viela.” O movimento fica por conta de usuários de drogas e até mesmo de motociclis­tas cortando caminho. E a iluminação, segundo ele, é precária. “Quando (poste de iluminação) funciona, fica bom, senão fica uma escuridão danada e é perigoso.”

Ainda na região leste, a professora aposentada Janete Massabki sobe com dificuldad­e a viela entre as ruas Capitão João Busse e e Numberto Nóbile, no jardim Califórnia. Rezando o seu terço, ela lamenta o descaso. “Acho importante ter as vielas, porque as ruas daqui são longas. Mas isso aqui está um horror”, apontando a sujeira e o mato alto. “

Na zona sul, os locais visitados estão bem cuidados. A enorme viela entre as ruas Flor do Campo, das Violetas, dos Lírios e rua do TrevoBranc­o, no parque Ouro Branco, é de muita importânci­a. “Temos um postinho de saúde e o hospital aqui perto, então o povo usa bastante”, destacou a dona de casa Adriana Cristina Oliviero. A limpeza, segundo ela, é feita por quem mora ao redor.

No conjunto São Lourenço, o comerciant­e Paulo Micale diz que a sua “vizinha” viela não dá dor de cabeça. O ponto de ônibus em frente dela reforça, segundo o morador, a importânci­a da passagem. “Encurta a distância e facilita a vida de quem usa o transporte coletivo”. A limpeza também fica por conta dos vizinhos. “Jogam de tudo aqui. Se não fosse a gente, seria um lixão”.

Lixão mesmo está uma das vielas entre as ruas Campinas e Bauru, no Jardim Amaro, zona oeste. Se não bastasse o mato alto, entulhos e até um galão de água foram jogados. O aposentado Florêncio Simão passava por ali indignado. “Se me pagarem eu até limpo isso aqui. É uma coisa tão importante, mas precisa de atenção”, disse Florêncio, que também foi vítima da violência. “Já fui assaltado por dois jovens com uma faca.”

No jardim Londrilar, região central, conhecido pelo alto movimento de pessoas e veículos devido à área hospitalar, moradores relatam que os problemas são poucos. “Moro há 40 anos aqui e nunca tive problema com violência. Tem muito mendigo, mas eles ficam mais nas esquinas. O que mais me incomoda é a sujeira. A Prefeitura não vem limpar”, contou a dona de casa Wilma Franco.

A região norte não é conhecida pelas vielas. Em uma das poucas existentes, no jardim Honda 2, a travessia ultrapassa quatro ruas. A estudante Lorena Santos diz que a maioria das famílias do bairro trabalha fora, o que gera maior tensão. “Não é difícil subir pela viela e olhar o que tem dentro dos quintais. Mas a maioria usa para ficar encostado, bebendo e usando drogas, principalm­ente se tem alguma luz queimada, fica mais confortáve­l para eles”, afirmou.

FECHADA

O jardim Shangri-lá, na zona oeste, tem suas vielas fechadas há cerca de oito anos. . “Muito melhor (fechada). Antes não podia ter nada no quintal que já roubavam. Infelizmen­te os coitadinho­s agora tem que andar um pouco mais para chegar até o outro lado. Mas estamos mais seguros”, contou dona Neuza Caparelli, que mora na rua Emilio de Menezes. Ela, porém, apontou que com a área fechada o mato alto e o lixo acumulam. “Muito difícil aparecer alguém para limpar. O problema é esse”. Por meio de nota a CMTU informou que “limpeza nestas vielas está programada para o início de dezembro”. Sobre as demais, é seguido o cronograma estabeleci­do pela Companhia Municipal de Trânsito e Urbanizaçã­o.

COMPRA

Ivan Cleber Bunhak, gerente de bens e imóveis da Prefeitura de Londrina, explicou que algumas vielas foram analisadas e estão passíveis de venda - cerca de 10% do total. “O interessad­o preenche um requerimen­to e o Município analisa. Depende do que será feito no local. Muitos, por exemplo, querem a área para usar como estacionam­ento, o que não é viável devido às galerias pluviais. Se aprovado aqui, a Câmara de Vereadores também deve analisar a finalidade e depois dar o parecer favorável”.

PM

O tenente Emerson Castro, oficial de comunicaçã­o do 5º Batalhão da Polícia Militar, disse que são raras os relatos de roubos nas vielas. “No entanto, onde a PM vai atender alguma ocorrência, os bandidos utilizam destas para fugir, e o policiais não conseguem descer com a viatura. Muitas vezes até que a PM faça o retorno, os marginais conseguem se evadir rapidament­e. Para a PM, também é prejudicia­l a existência dessas vielas”, afirmou o oficial, em nota. Segundo ele, as vielas podem ser “atalhos muito importante­s usados pela população”, mas que “infelizmen­te também é prejudicia­l”. O oficial completou orientando a população, sempre que possível, evitar passar pelos locais, principalm­ente à noite.

“Acho importante ter as vielas, porque as ruas daqui são longas. Mas isso aqui está um horror”

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Edson Neves A viela localizada no jardim Califórnia é uma das 310 existentes em Londrina

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