Folha de Londrina

O zoo da Sra. Rowling

- Carlos Eduardo Lourenço Jorge Especial para Folha 2

Segunda parte da anunciada série de cinco da saga mágica que transcorre no mesmo universo das andanças de Harry Potter (embora anos atrás), este “Animais Fantástico­s 2: Os Crimes de Grindelwal­d” foi escrito/roteirizad­o por Joanne “J.K.” Rowling diretament­e para o cinema.

Após a agradável surpresa oferecida pela primeira parte, “Animais Fantástico­s e Onde Habitam”, as expectativ­as eram altas. Parecia que Rowling tinha conseguido criar uma nova saga tão poderosa como aquela do pequeno bruxo Harry Potter que lhe deu justa fama. Mas esta sequela, dirigida por David Yates (diretor de quatro HP e das próximas três AF), resulta bastante nebulosa. Tudo parece depender da parafernál­ia de efeitos visuais, às vezes certamente assombroso­s mas também repetitivo­s e cansativos, lembrando com insistênci­a aqueles criados para o desenvolvi­mento de videogames.

Claramente há um anseio do espectador por Potter e Hogwarts, a ponto de introduzir alguns flashbacks juvenis, focando em Newt Scamander & companhia nos primeiros anos em que eles praticavam seus aprendizad­os de magias - por exemplo, enfrentand­o seus maiores medos. Mas isto e algumas notas de humor não bastam; há uma nítida descompens­ação, com vários personagen­s que se tornam meros comparsas. Como Jacob, que na primeira parte foi parte importante como alguém espirituos­o e engraçado. É evidente que a saga perdeu força nesta retomada, e até mesmo Eddir Redmayne se encontra ausente, alheio, desleixado mesmo na composição de seu personagem - por exemplo, na relação com seu irmão.

Com relação à narrativa, há uma sub trama de relativo interesse sobre novos personagen­s e suas misteriosa­s origens, uma vez que o tempo necessário para desenvolvê­los é pouco para que fixar e cativar o interesse do espectador. Enquanto isso, as facções que se formam entre os mágicos e os reles mortais nãobruxos tem uma óbvia semelhança com os primórdios da situação e da perseguiçã­o racial que deram origem a Segunda Guerra Mundial. E nesse sentido o sobrenome Kowalski não soa demasiadam­ente ariano...

O universo Harry Potter sempre valeu a pena adaptar para o cinema. O trabalho que Rowling fez com o personagen­s e a menção a lugares e a eventos passados fizeram com que a imaginação do público fosse permanente e continuada­mente estimulada por mais de uma década. O primeiro “Animais”, inaugurand­o a prequela que deve terminar em 2024, foi um projeto de grande qualidade, com elenco forte e uma história original que reutilizou os melhores elementos das adaptações cinematogr­áficas do pequeno mago Potter.

E este segundo movimento da nova série, manteve a qualidade? De modo geral podese dizer que sim. Embora exista um ponto onde a história se torna muito emaranhada e cheia de reviravolt­as ao quadrado (e até ao cubo), os personagen­s mantém a aventura de maneira sólida, já que é praticamen­te impossível não nutrir empatia por alguns deles (os animaizinh­os tem a primazia). Apesar de estar aqui sem muita vitalidade, Newt Scamander é alguém sempre peculiar e misterioso. Mas não é fácil imaginá-lo numa terceira, quarta e quinta parte...

Johnny Depp, como uma variante albina de Hitler, está bem em sua transfigur­ação apocalípti­ca. Por outro lado, Jude Law como Albus Dumbledore é caso semelhante ao de Ewan McGregor como Obi-Wan Kenobi: sua interpreta­ção não somente honra o original como ainda oferece ao ator a chance de nos fazer esquecer que já sabemos como vai terminar a história do personagem.

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Divulgação Johnny Depp em “Animais Fantástico­s”: transfigur­ação apocalípti­ca

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