O zoo da Sra. Rowling
Segunda parte da anunciada série de cinco da saga mágica que transcorre no mesmo universo das andanças de Harry Potter (embora anos atrás), este “Animais Fantásticos 2: Os Crimes de Grindelwald” foi escrito/roteirizado por Joanne “J.K.” Rowling diretamente para o cinema.
Após a agradável surpresa oferecida pela primeira parte, “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, as expectativas eram altas. Parecia que Rowling tinha conseguido criar uma nova saga tão poderosa como aquela do pequeno bruxo Harry Potter que lhe deu justa fama. Mas esta sequela, dirigida por David Yates (diretor de quatro HP e das próximas três AF), resulta bastante nebulosa. Tudo parece depender da parafernália de efeitos visuais, às vezes certamente assombrosos mas também repetitivos e cansativos, lembrando com insistência aqueles criados para o desenvolvimento de videogames.
Claramente há um anseio do espectador por Potter e Hogwarts, a ponto de introduzir alguns flashbacks juvenis, focando em Newt Scamander & companhia nos primeiros anos em que eles praticavam seus aprendizados de magias - por exemplo, enfrentando seus maiores medos. Mas isto e algumas notas de humor não bastam; há uma nítida descompensação, com vários personagens que se tornam meros comparsas. Como Jacob, que na primeira parte foi parte importante como alguém espirituoso e engraçado. É evidente que a saga perdeu força nesta retomada, e até mesmo Eddir Redmayne se encontra ausente, alheio, desleixado mesmo na composição de seu personagem - por exemplo, na relação com seu irmão.
Com relação à narrativa, há uma sub trama de relativo interesse sobre novos personagens e suas misteriosas origens, uma vez que o tempo necessário para desenvolvêlos é pouco para que fixar e cativar o interesse do espectador. Enquanto isso, as facções que se formam entre os mágicos e os reles mortais nãobruxos tem uma óbvia semelhança com os primórdios da situação e da perseguição racial que deram origem a Segunda Guerra Mundial. E nesse sentido o sobrenome Kowalski não soa demasiadamente ariano...
O universo Harry Potter sempre valeu a pena adaptar para o cinema. O trabalho que Rowling fez com o personagens e a menção a lugares e a eventos passados fizeram com que a imaginação do público fosse permanente e continuadamente estimulada por mais de uma década. O primeiro “Animais”, inaugurando a prequela que deve terminar em 2024, foi um projeto de grande qualidade, com elenco forte e uma história original que reutilizou os melhores elementos das adaptações cinematográficas do pequeno mago Potter.
E este segundo movimento da nova série, manteve a qualidade? De modo geral podese dizer que sim. Embora exista um ponto onde a história se torna muito emaranhada e cheia de reviravoltas ao quadrado (e até ao cubo), os personagens mantém a aventura de maneira sólida, já que é praticamente impossível não nutrir empatia por alguns deles (os animaizinhos tem a primazia). Apesar de estar aqui sem muita vitalidade, Newt Scamander é alguém sempre peculiar e misterioso. Mas não é fácil imaginá-lo numa terceira, quarta e quinta parte...
Johnny Depp, como uma variante albina de Hitler, está bem em sua transfiguração apocalíptica. Por outro lado, Jude Law como Albus Dumbledore é caso semelhante ao de Ewan McGregor como Obi-Wan Kenobi: sua interpretação não somente honra o original como ainda oferece ao ator a chance de nos fazer esquecer que já sabemos como vai terminar a história do personagem.