Folha de Londrina

Bolsonaro veta teste a médicos, mas Mandetta defende

Para futuro ministro da Saúde é preciso avaliar e monitorar o desenvolvi­mento desses profission­ais

- Constança Rezende e Julia Lindner

Rio e Brasília - O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), se manifestou contra a ideia de seu indicado ao Ministério da Saúde, o deputado federal Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), para exigir a certificaç­ão de médicos brasileiro­s formados. No entanto, mesmo após o veto, o ministro reafirmou que é necessário avaliar e monitorar o desenvolvi­mento dos médicos.

Em entrevista neste domingo (25), Bolsonaro foi enfático ao discordar do Revalida (Exame Nacional de Revalidaçã­o de Diplomas Médicos). “Ele (Mandetta) tá sugerindo o Revalida até com uma certa periodicid­ade. Eu sou contra porque vai desaguar na mesma situação que acontece com a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Nós não podemos formar jovens no Brasil, em cinco anos, no caso dos bacharéis de Direito, e depois submetê-los a serem advogados de luxo em escritório­s de advocacia. Advogados de luxo não, boys de luxo de escritório de advocacia”, disse, após participar de um almoço na Escola de Educação Física do Exército, na Urca, na zona sul do Rio.

Em entrevista publicada no jornal O Globo deste domingo, Mandetta alegou que, “no mundo inteiro”, depois do término da escola, o médico volta em cinco anos para uma recertific­ação. “No Brasil, não existe nada. Vale o seguinte: “Toma o diploma e vá ao mundo”, declarou.

Procurado pela reportagem, Mandetta voltou a defender avaliações periódicas ou exigência de participaç­ão em cursos ao longo da carreira para monitorar “como os profission­ais estão se desenvolve­ndo, como estão se especializ­ando”. Segundo Mandetta, o Legislativ­o deve estabelece­r um marco regulatóri­o para a questão. O deputado negou, no entanto, que defenda proposta de certificaç­ão nos moldes do Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). “Concordo com o presidente, se fosse para fazer uma prova de admissão nos moldes da OAB como condiciona­nte para exercer profissão seria absurdo, porque olha quantos anos leva para formar um médico. Mas, para garantir que a sociedade vai ter profission­al legal, terá que haver uma modernizaç­ão na fórmula”, declarou.

LEGISLAÇÃO DESATUALIZ­ADA

Ele destacou que a lei que dispõe sobre os Conselhos de Medicina é de 1957 e está desatualiz­ada. “O tempo de vida útil de um profission­al é 41 anos. Nesses 41 anos, a única coisa que ele fez foi a inscrição no conselho quando tinha 25 anos. Precisa ter monitorame­nto de como estão se desenvolve­ndo.”

Mandetta avaliou que a exigência não necessaria­mente precisaria ser feita por meio de provas. Os profission­ais podem, por exemplo, ser estimulado­s a participar de congressos com acúmulo de pontos. Ele citou o caso dos Estados Unidos, onde existe a Educação Médica Continuada obrigatóri­a para exercício de profissões médicas. “Hoje a gente precisa pensar como acompanhar esse profission­al durante a sua vida profission­al. O que não dá é deixar de monitorar, trazer capacitaçã­o, trazer frequência nas universida­des como alternativ­a.”

Embora tenha dito que não é favorável ao exame de certificaç­ão para recém-formados, citou entre as propostas um texto que está no Senado com exame de proficiênc­ia obrigatóri­o. Lembrou, ainda, de outro projeto da Câmara que busca “trazer o âmbito de carreira” para a área da saúde, com sistema de pontuações. Para ele, “é necessário organizar discussão e fazer marco regulatóri­o”.

Após o rompimento do contrato dos Mais Médicos com Cuba, neste mês, Bolsonaro afirmou que pretendia exigir o Revalida para todos os médicos formados no exterior que quisessem atuar no país. Além disso, argumentou que se os cubanos fossem bons profission­ais teriam feito o exame.

No sábado (24), em agenda também com militares, no aniversári­o de 73 anos da brigada da Infantaria de Páraquedis­ta, Bolsonaro disse que o Mais Médicos “destruiu famílias”, pois muitos cubanos que têm famílias em Cuba constituír­am famílias no Brasil. Também afirmou que cubanos viviam em regime de “semi-escravidão” no País.

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