DIFICULDADE
Curso ficou atrás somente do Instituto Militar de Engenharia na avaliação de desempenho dos estudantes; representantes do colegiado sugerem mudança de metodologia
O curso de engenharia mecânica da UTFPR, que obteve conceito máximo no Enade, tem alto índice de reprovação. Vicepresidente de centro acadêmico expõe nível de exigência e complexidade das disciplinas, que chegam a ter 70% de retenção de alunos. Estudantes destacam necessidade de melhoria da infraestrutura
AUTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) de Londrina recebeu o conceito máximo para o curso de engenharia mecânica pelo Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes). A engenharia mecânica ficou em segundo lugar no ranking, atrás somente do curso do IME (Instituto Militar de Engenharia), no Rio de Janeiro. “Foi uma notícia muito boa”, comemorou Ricardo Salvo, professor da mecânica. Salvo era coordenador do curso no ano passado e foi responsável por inscrever os alunos no exame. “Uma das teclas que a gente sempre bateu, desde o início do curso, foi a qualidade”, contou.
O docente, no entanto, lembra que, embora seja um bom indicador, o curso “ainda está longe do almejado”. Somente dois alunos fizeram a prova que garantiu a segunda colocação para a universidade. A engenharia mecânica é um curso novo na UTFPR Londrina e a primeira turma ingressou no segundo semestre de 2013. Entram na instituição 44 alunos por turma. Atualmente, só há um formado. “Temos um alto índice de reprovação”, explicou Salvo. O professor garantiu que a universidade está trabalhando para reverter isso, “pensando não só na UTFPR de Londrina, mas na universidade de forma geral”.
A Pró-reitoria de Graduação tem organizado fóruns de discussão da metodologia do curso. “Há cerca de dois anos começaram os fóruns de engenharia com a participação de docentes das disciplinas básicas. Foi discutido o que pode ser alterado, buscando minimizar dois grandes problemas que temos hoje, a retenção e a evasão”, explicou.
Para o vice-presidente do Camec (Centro Acadêmico de Engenharia Mecânica) da UTFPR Londrina, Victor Prestes, o nível de exigência da graduação é alto e reflete na retenção e dependência nas matérias. “Há matérias com índice de reprovação acima de 70%”, contou. Segundo ele, a retenção é uma “bola de neve”. “Como tem muita reprovação, você acaba formando ‘bolsões’ e tem que abrir turma extra. Às vezes chega a ter cem alunos fazendo a mesma matéria. E aí não tem condições, não tem livro disponível na biblioteca para todo mundo. Tem uma concorrência grande pelo material”, explicou.
Os representantes do colegiado propuseram uma mudança de metodologia para reverter o quadro. “Basicamente o que temos hoje nas matérias que dão mais problema são avaliações por meio de provas. Às vezes são duas provas por semestre e não há outros critérios de avaliação. Propusemos atividades práticas, mas não foi muito aceito. A maioria dos professores tem um estilo conservador”, explicou Prestes. Ele acredita que, quanto ao conteúdo, não tem como melhorar, já que as matérias são complexas. “Os cursos na área de exatas em geral são complicados”, completou.
Já Salvo acredita que a mudança de metodologia também é uma discussão complexa, porque envolve todos os campi. “Aguardamos a definição final que virá desses fóruns. É um pro- cesso que pode levar em torno de um ano para começar a implementação. Para surgir resultados, acredito que uns dois anos. É muita gente discutindo, é muita gente com mentalidade diferente”, afirmou.
Os alunos no início do curso têm a visão de que professores não passam projetos e se limitam às provas, mas nos primeiros anos os estudantes “ainda estão adquirindo conhecimento base”, replicou Salvo. Para o professor, no fim do curso, os alunos “não aguentam mais projeto”. “Para isso a gente ainda não encontrou a solução, o que a gente tem são alguns projetos de eficiência energética, robótica e aerodesign”, exemplificou. Mas, para a coordenação do curso, embora existam essas opções, levar os projetos para dentro das disciplinas de base, como a matemática pesada e a física, ainda não é viável. “Não temos uma solução, a gente ainda está patinando um pouco”, apontou Salvo.