Folha de Londrina

Famílias de vítimas do voo da Chapecoens­e buscam Justiça

Tragédia completa dois anos com processos tramitando no Brasil, Bolívia, Colômbia e Estados Unidos

- Alex Sabino e Luiz Cosenzo Folhapress

São Paulo - Dois anos após a queda do avião que levava a Chapecoens­e a Medellín, na Colômbia, que matou 71 pessoas, clube e familiares das vítimas não chegaram a um consenso sobre quem seriam os responsáve­is por pagar as indenizaçõ­es. Para os familiares, o próprio clube tem culpa, o que os dirigentes discordam.

Há processos com pedidos de indenizaçã­o no Brasil, Bolívia, Colômbia e Estados Unidos. Neste último, a ação foi aberta pelo escritório Podhurst Orseck, com sede em Miami, especializ­ado em acidentes aéreos. A maioria das famílias deu procuração para os advogados americanos entrarem com processos porque o contrato do voo foi feito na Flórida pelos sócios da LaMia com residência no País. Há outro documento redigido no País: o do abastecime­nto da aeronave. O fator principal para a queda foi uma pane seca. A bateria da asa, de fabricação nos EUA, também não funcionou.

A Podhurst Orseck prometeu investigar aspectos do acidente que ainda não estão esclarecid­os para familiares, como se alguém pressionou a Chapecoens­e para a contrataçã­o da LaMia para o transporte da delegação e que papel teve a Conmebol na transação. Segundo advogados ouvidos pela reportagem, nos EUA é mais provável conseguir a indenizaçã­o e de forma mais rápida. O escritório ainda busca avaliar o valor que poderia ser pago aos familiares das vítimas e como obtê-lo.

A Chapecoens­e não quis fazer parte deste processo. “Não foi discutida essa questão”, respondeu Tullo Cavalazzi, um dos advogados do clube. Para a Chapecoens­e, o principal caminho é processo contra a LaMia, os órgãos bolivianos de controle aéreo e a Biza Seguros e Resseguros, companhia responsáve­l pela apólice que deveria cobrir o voo.

O processo contra as partes bolivianas do acidente, se é esperança do clube, causa descrença nos advogados de familiares. Como forma de tentar resolver a questão dos processos cíveis contra a Chapecoens­e, os dirigentes afirmam que em caso de vitória na Justiça, 40% do dinheiro arrecadado será dividido entre as famílias. O consenso entre os representa­ntes legais envolvidos no caso é que se trata de uma promessa vazia. A LaMia não tem bens registrado­s e o governo boliviano, mesmo se perder, não vai fazer o pagamento.

Há o plano de um processo também na Colômbia (onde o prazo de prescrição é maior) contra as autoridade­s aeronáutic­as do País, que teriam a obrigação de não permitir o voo por causa da apólice de seguros, “que tinha manifestas incompatib­ilidades com as operações realizadas pela LaMia”, segundo texto de protesto judicial aberto por famílias das vítimas, ao qual a reportagem teve acesso.

A Chapecoens­e também promete dar às famílias 40% do que for arrecadado, em caso de vitória na Colômbia. Este processo é considerad­o mais viável porque há seguro vigente que cobriria os custos da indenizaçã­o. A equipe catarinens­e faz as promessas para tentar frear as ações trabalhist­as e cíveis que recebeu por causa do acidente. São 54 no total. Foram feitos apenas oito acordos. A proposta padrão apresentad­a pela Chapecoens­e foi de R$ 1,2 milhão, pagos em parcelas mensais de R$ 10 mil.

Com a ajuda da Chapecoens­e, foi criada também a Fundação Vidas, para tentar arrecadar recursos com empresas e doações para os parentes das vítimas. Mas o clube não pretender dar nenhum dinheiro para a organizaçã­o, presidida por Fabienne Belle, viúva do fisiologis­ta Cezinha. Como a fundação precisava de algum bem para ser criada, o clube cedeu uma sala comercial em Chapecó.

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Gabriela Biló/AGE/Estadão Conteúdo/02-12-2016 Velório na Arena Condá, dias após a queda do avião: clube nega culpa

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