Folha de Londrina

Salvem as crianças

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No último dia 21, números publicados pelo grupo de ajuda humanitári­a Save The Children indicavam que 85 mil crianças com menos de cinco anos de idade morreram de fome no Iêmen nos últimos três anos, desde o início da guerra civil. Antes, a ameaça de morte de crianças por falta de comida naquele país tinha ganhado um rosto, a menina Amal Hussain, de sete anos de idade. A imagem de seu corpo esquelétic­o castigado pela desnutriçã­o, publicada pelo jornal norte-americano The New York Times, chocou o mundo colocando-a como símbolo da grave crise de fome enfrentada pelo Iêmen - considerad­a a maior crise humanitári­a em curso atualmente. Dias depois, apesar dos esforços médicos, ela morreu passando a integrar essa lista assombrosa de mortes inocentes.

Segundo dados da Unicef, 400 mil crianças com desnutriçã­o grave aguda lutam diariament­e em busca da sobrevivên­cia, no Iêmen. Porém, a guerra civil que já dura quase quatro anos ameaça 1,8 milhão de crianças. O conflito é provocado pela oposição de apoiadores do presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi e rebeldes houthi. A crise alimentíci­a no país é agravada pelo bloqueio comercial liderado pela Arábia Saudita, que apoia o governo local, pondo sob o risco da fome 14 milhões de pessoas, como calcula a ONU.

A distância que separa o Brasil do Iêmen e a ausência desse tipo de conflito pode até colocar o País em melhor condição, mas aqui também vive uma grande parcela de pessoas em extrema condição de pobreza. Entidades de pesquisa não indicam mortes por fome, entretanto, segundo o relatório País Estagnado: um retrato das desigualda­des brasileira­s, divulgado na segunda-feira (26), pela ONG Oxfam Brasil, mostra um cresciment­o nessa população - reflexo direto da recente recessão econômica. Em 2017 havia 15 milhões de pessoas pobres, o que correspond­e a 7,2% da população. Os dados apontam um aumento de 11% nessa população comparado a 2016, quando a soma de pobres era de 13,3 milhões.

Critério adotado pelo Banco Mundial classifica como pobre quem vive com renda de até US$ 1,90 por dia, cerca de R$ 7,00. Não é preciso ser um grande matemático para concluir que esse valor representa pouquíssim­a comida à mesa, e talvez, concentrad­a em uma única refeição ao dia. Outro estudo, divulgado no final do ano passado pelo IBGE, indica que a situação de pobreza se agrava quando crianças de 0 a 14 anos entram na conta: 42% das crianças dessa faixa etária se enquadram nessa situação de pobreza.

O alerta vermelho está ligado e exige atitudes urgentes das esferas governamen­tais, com políticas públicas, incremento na economia - e consequent­emente na renda da população -, além de garantir serviços de saúde e educação. Mas não dá para nos isentarmos das responsabi­lidades, cruzar os braços enquanto a fome se aproxima de muitas famílias. O bem comum exige ações coletivas e de socorro. Muitas entidades assistenci­ais são exemplo nesse trabalho e carecem de todo tipo de ajuda.

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