Problemas de infraestrutura
Embora a nota da engenharia mecânica da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) de Londrina no Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) seja a máxima, o conceito do MEC (Ministério da Educação) não é. O curso recebeu nota quatro. Isso porque a falta de infraestrutura impactou o resultado, como explicou o professor Ricardo Salvo. Alguns laboratórios são provisórios e ainda há blocos em construção. “O que pesou foi a infraestrutura. Ano passado tínhamos menos coisas do que hoje. É um curso novo. Na época que eles vieram não foi possível mostrar muita coisa, os laboratórios não estavam adequados”, acrescentou Juliano Iossaqui, chefe do Departamento de Mecânica.
Salvo justifica que os docentes “sempre tentam fazer o máximo possível para melhorar”, mas que a qualidade do curso passa pela infraestrutura. “Quando o bloco entrar em operação, vai melhorar. Está começando a ser construído agora, era para ter sido iniciado há tempo”, disse. Outro contratempo, segundo o docente, é o fato da UTFPR não conseguir guardar dinheiro. “Sempre que chega no final do ano, os recursos são recolhidos. No início do ano começa do zero”, contou.
Segundo Iossaqui, a distribuição do recurso “demora um pouco para chegar até a UTFPR de Londrina”. “Ficamos de certa forma prejudicados porque não estamos na reitoria em Curitiba. O que for possível, vem para cá”, alegou. Salvo concorda: “Existem planilhas e critério técnico para a distribuição, mas o critério político é inerente ao processo”.
A estudante Letícia Barcala diz que a principal dificuldade do curso é a prática. “Aqui é muito voltado para a área acadêmica, a professora teve de improvisar um laboratório de usinagem. Por
mais que não seremos técnicos, precisamos saber mexer nas coisas, não só a parte teórica”, contou.
QUALIDADE E ESFORÇO
Salvo destaca o esforço da docência e dos alunos. “Os estudantes colocam de forma clara que são um pouco mais cobrados na mecânica. É uma cultura que criamos para buscar a excelência”, esclareceu. Mas Barcala lembra que os maiores índices de reprovação do Paraná estão na mecânica. Segundo o Camec, às vezes são recebidas reclamações de crises de ansiedade por parte dos estudantes, que são instruídos a procurar a psicóloga da faculdade. “É óbvio que não adianta chegar na excelência sem ter formandos, mas esse ponto também está sendo trabalhado”, completou Salvo.
O curso de mecânica de Curitiba também ficou entre os cinco mais bem ranqueados, com nota máxima. Todavia, Salvo lembra que foram 152 alunos prestando o exame na capital. “Isso ajuda a visualizar a questão da qualidade, que é institucional”, garantiu.
Todos os docentes efetivos alocados no Departamento de Mecânica são doutores. Para o professor, a nota quatro no conceito MEC não se deu apenas pela falta de blocos na UTFPR de Londrina. “Outros itens tiveram origem na questão da retenção, embora não seja um quesito explícito dentro dos critérios de avaliação, a entrevista com os alunos foi muito considerada pelos avaliadores. Foi uma avaliação extremamente criteriosa”, acrescentou.
Um imbróglio que justifica a retenção, de acordo com Salvo, é a deficiência que os alunos trazem de certas disciplinas do ensino médio. “O professor tem que tentar de alguma forma suprir essa necessidade do aluno e, além de suprir essa necessidade, tem que cumprir a ementa. Se o aluno não tiver um conhecimento daquela disciplina, ele terá dificuldade na sequência”, comentou.
Docentes que trabalham nas disciplinas básicas terem de recuperar as deficiências dos alunos trava o andamento do curso, na opinião de Salvo. “Nós temos alunos excelentes, mas de forma geral a maior parte traz deficiências. Contudo, o professor não pode focar nesse grupo, ele tem que tentar nivelar todo mundo. Quando ele faz isso, parte dessas deficiências é carregada e chega às disciplinas específicas. Isso acaba criando uma retenção grande dentro das disciplinas específicas do curso.”
Por meio de nota, a UTFPR de Curitiba afirmou que “a matriz de rateio orçamentário dos campi considera o número de alunos matriculados, com a ponderação por peso de curso, entre técnico, tecnologia, bacharelado, licenciatura, mestrado e doutorado. A aplicação do índice foi aprovada pelo Conselho Universitário em março deste ano”.
Segundo a universidade, o curso de mecânica da UTFPR de Londrina “ainda deve ter a estrutura ampliada por meio dos investimentos iniciados no dia 30 de outubro. Com isso, está sendo viabilizada a construção de dois novos blocos, que irão contemplar laboratórios, áreas de permanência e desenvolvimento de projetos dos cursos de engenharia mecânica e de engenharia química”.
Conforme a nota, “a primeira etapa será de ampliação da infraestrutura predial em 2.000 metros quadrados de área construída. A segunda etapa envolverá a instalação de divisórias e aquisição de equipamentos e mobiliários. O valor total das obras ultrapassa R$ 3 milhões, a partir de recursos do MEC (Ministério da Educação), da Seti (Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior) e do campus em si”.(I.F.)