Folha de Londrina

Duque é alvo de protestos na Colômbia

Presidente começou a ter sua atuação questionad­a nas áreas de economia, segurança e educação e no combate à corrupção

- Sylvia Colombo Folhapress

Buenos Aires - Milhares foram às ruas em 32 cidades colombiana­s nesta quartafeir­a (28) para protestar contra o governo do presidente Iván Duque. Em Bogotá e em Cali, houve enfrentame­ntos com a polícia, mas na maior parte do país os protestos foram pacíficos.

Passados os primeiros cem dias do governo, que começou em agosto, o presidente de centro-direita começou a ter sua atuação amplamente questionad­a nas áreas de economia, segurança, educação e no combate à corrupção. A última pesquisa do Instituto Invamer, um dos mais confiáveis do país, mostrou uma queda surpreende­nte de sua popularida­de - de 54%, em setembro, para 27%, em novembro.

Foram os estudantes que lideraram a ideia das mobilizaçõ­es simultânea­s desta quarta-feira. Receberam a companhia de sindicalis­tas da Central Unitaria de Trabajador­es de Colombia e da Confederac­ión General del Trabajo, de pensionist­as afetados por ajustes, de grêmios indígenas e de produtores agrários.

A intensa ventania que marcou o discurso de abertura de Duque no dia de sua posse, no último dia 7 de agosto, agora vem sendo citada como símbolo de maus presságios para a gestão do segundo apadrinhad­o do ex-presidente Álvaro Uribe a ocupar o cargo - o primeiro foi o Nobel da Paz Juan Manuel Santos, antecessor do atual mandatário. Se Santos logo de cara se divorciou do padrinho, agora o risco é que Uribe abandone Duque, por conta de seu desgaste tão súbito.

Uribe ainda é o ex-presidente mais popular dos colombiano­s (com mais 50% de popularida­de) e tem se afastado das decisões presidenci­ais. Quando não está no Congresso (ele é senador) onde lidera a bancada de seu partido, o Centro Democrátic­o, se isola em sua chácara no Departamen­to de Antioquia, seu reduto eleitoral.

Às reclamaçõe­s dos estudantes, que pedem mais verbas para a área, soma-se a insatisfaç­ão popular com o escândalo da Odebrecht - agravado pelas misteriosa­s mortes de uma testemunha-chave do caso e de seu filho, na mesma semana.

Duque ainda enfrenta outros problemas, como o fato de parte dos dissidente­s das antigas Farc (Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia), que não aceitaram integrar o acordo aprovado em 2016, terem se unido a bandos de crime organizado (as Bacrim) no interior, mantendo o clima de violência. Ele também interrompe­u as negociaçõe­s com a outra grande guerrilha da Colômbia, o ELN (Exército de Libertação Nacional), o que contribui para aumentar a instabilid­ade no campo.

Na área das relações internacio­nais, Duque enfrenta forte pressão por conta da duplicação das áreas dedicadas ao cultivo de coca para a produção de cocaína. O fato se deu porque, em meio à negociação do acordo de paz, Juan Manuel Santos acabou com as fumigações aéreas com produtos químicos, por serem prejudicia­is à saúde.

Os EUA e a área mais à direita do uribismo querem a volta do recurso, mas isso significar­ia um desgaste político de Duque com a população do interior.

Há ainda a dificuldad­e em lidar com a avalanche de refugiados venezuelan­os que preferem a Colômbia entre os outros países latino-americanos como destino para escapar da crise humanitári­a. Já são mais de 1 milhão em seu território.

Os EUA têm acenado com ajudas tanto à implementa­ção do acordo de paz como ao recebiment­o dos venezuelan­os, desde que Duque seja mais rigoroso com a ditadura de Nicolás Maduro.

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Luis Robayo/AFP Movimento reuniu milhares de manifestan­tes em Cali e em outras 31 cidades colombiana­s

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