Folha de Londrina

'O Judiciário é só um dos braços contra a corrupção', diz Eliana Calmon

Ex-ministra do STJ afirma que presença do juiz Sergio Moro no Ministério da Justiça é fundamenta­l para que a Lava Jato não repita resultado da Operação Mãos Limpas na Itália

- Guilherme Marconi Reportagem Local

Apreocupaç­ão da ministra aposentada do STJ (Supremo Tribunal de Justiça), Eliana Calmon, é que a Operação Lava Jato não repita o resultado da Operação Mãos Limpas na Itália. A grande investigaç­ão - iniciada nos anos 1980 - contra empresário­s e políticos, não resultou na redução da corrupção naquele país. Para a jurista, a indicação do juiz Sergio Moro para o Ministério da Justiça pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) é estratégic­a para que o Brasil tenha um combate efetivo.

“Ele não tinha mais o que contribuir na Lava Jato. Moro agiu de forma estratégic­a em todo o processo. Eles começaram com os menos importante­s até chegar na classe política. As investigaç­ões não começaram no ovo da serpente” elogiou Calmon em entrevista à FOLHA. Ela esteve em Londrina na quinta-feira (29) onde ministrou palestra que traçou o panorama histórico das leis de combate à corrupção no Fórum CBN Londrina “Ética nos Negócios”. “A força-tarefa foi capaz de mudar a a percepção da sociedade brasileira sobre o mecanismo encrustado na Petrobras e outros órgãos públicos”, ressaltou.

Calmon classifico­u o magistrado como um “estrategis­ta” capaz de formar uma equipe eficiente no combate à corrupção. “Ele que estudou Mãos Limpas precisava cair no campo da política. Ninguém consegue fazer as mudanças só com o Judiciário, que é só um dos braços porque faz a punição necessária. Tem que fazer mudanças políticas, atuar politicame­nte e continuar ajudando a Lava Jato. Ele precisava cair no campo da política para poder implantar as estratégia­s da Lava Jato no Executivo”.

Eliana Calmon considera de fundamenta­l importânci­a a mudança do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeira­s) para a Justiça. O órgão ligado ao Ministério da Fazenda tem como missão produzir inteligênc­ia financeira e promover a proteção dos setores no combate à lavagem de dinheiro. “Eu achei de fato uma grande jogada. Eu trabalhei muito com o Coaf que para mim foi um grande aliado. É um órgão ligado à Receita Federal com pouca gente, mas é um trabalho sério feito por técnicos que faz a triagem do dinheiro para combate a lavagem dinheiro.”

INDULTO

A ex-ministra do STJ também criticou o indulto a presos de crimes do colarinho branco, como o que foi concedido pelo presidente Michel Temer em 2017 e cuja constituci­onalidade foi julgada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). “Nunca tinha essa percepção que a prisão atemoriza, sempre achei que a prisão fosse coisa do século passado. Mas não é. No momento em que nós estamos punindo, as pessoas estão presas, os outros ficam com medo e recuam. É algo simbólico. E é isso que eles querem tirar.”

Outra preocupaçã­o é com as pautas que surgem no Congresso para blindar políticos envolvidos em esquemas como a lei de abuso de autoridade. Ela cobra que haja pressão da opinião pública. “A sociedade tem que ficar de prontidão. O trabalho não foi terminado. A Lava Jato foi o primeiro passo. Estamos inaugurand­o uma nova era.”

CONSELHEIR­A

Calmon disse ainda que pretende ser uma conselheir­a de Bolsonaro e contou que não aceitou convite para participar oficialmen­te do governo. “Trocamos dois telefonema­s durante a campanha. Eu fiz um posicionam­ento contra o PT”. Durante a período pré-eleitoral o nome da jurista chegou a ser sondado como vice da chapa e até como futura ministra da Justiça, mas Calmon alega que o convite não foi feito de forma oficial pelo presidente do PSL, Gustavo Bebiano. Filiada à Rede, Calmon apoiou Marina Silva no primeiro turno e Bolsonaro no segundo.

Ele precisava cair no campo da política para poder implantar as estratégia­s da Lava Jato no Executivo”

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Gina Mardones Calmon classifica Moro como um “estrategis­ta” capaz de formar uma equipe eficiente no combate à corrupção: “Ninguém consegue fazer as mudanças só com o Judiciário”

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