Folha de Londrina

Economista­s apontam confiança em alta, mas recuperaçã­o lenta

Representa­ntes de diferentes setores se reuniram em Curitiba para fazer o diagnóstic­o do ano e indicar perspectiv­as para 2019

- Economia@folhadelon­drina.com.br Rafael Costa Reportagem Local

Confiança em alta e recuperaçã­o lenta. Este foi o diagnóstic­o que prevaleceu no evento “Discutindo Economia: Perspectiv­as para 2019”, realizado na última quartafeir­a (28), no Corecon-PR (Conselho Regional de Economia do Paraná). A mesa, promovida anualmente desde 2010, reuniu representa­ntes dos três setores econômicos, que fizeram um diagnóstic­o de 2018 e apontaram suas expectativ­as para o ano que vem.

Acontecime­ntos internos eexternos,comoagreve­dos caminhonei­ros ocorrida em maio, as eleições e a crise na Argentina, foram citados como fatores com impacto sobre diferentes setores ao longo do ano no País e no Estado, enquanto sinais de desacelera­ção da economia mundial e alto desemprego devem frear o cresciment­o no ano que vem.

“A percepção é de otimismo”, avaliou Carlos Magno Bittencour­t, mediador do debate e vice-presidente da entidade. “Está sendo buscada a retomada em bases sólidas. Há muita coisa para arrumar, e isso não acontecerá de uma hora para a outra. Temos muitos ajustes a serem feitos. Houve muitas incorreçõe­s no passado. Es- se é o momento de arrumar a casa, e isso leva um tempo”, avaliou.

Pedro Loyola, economista e assessor da Faep (Federação da Agricultur­a do Estado do Paraná), lembrou que a agricultur­a se recuperou rapidament­e em 2017 apesar da conjuntura negativa do ano, que incluiu episódios como a Operação Carne Fraca e as delações da JBS na Operação Lava Jato. Neste ano, um período de seca afetou o milho safrinha, mas o Estado se manteve na liderança da produção de culturas como trigo, feijão e cevada.

Fatores como a guerra comercial entre China e Estados Unidos ajudaram a exportação de soja - em outubro deste ano, o Brasil já havia superado o volume exportado para o país asiático em 2017.

Loyola disse que, para o próximo ano, deve ser mantida a safra cheia. A abundância e boa distribuiç­ão de chuvas de um provável El Niño devem favorecer a produção. “O clima vai ser excelente para o Paraná”, projetou. “A gente deve crescer em torno de 6 a 7% na produção de grãos.”

O economista da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná) Roberto Zürcher lembrou da retração de 22,3% no desempenho da indústria paranaense de 2014 a 2017 depois de um histórico de altas. Ele prevê um cresciment­o de 4% em 2018 - patamar que deverá ser mantido em 2019.

O destaque positivo fo- ram os índices de confiança, na indústria de transforma­ção o mais alto desde o início da série, em 2010, e na indústria da construção o mais alto desde junho de 1996. “As expectativ­as dos industriai­s estão muito fortes”, disse. “Há também a expectativ­a de que a construção se recupere.”

Antoninho Caron, da ACP (Associação Comercial do Paraná), contou que a percepção, ao conversar com representa­ntes dos três setores, é realmente de otimismo. Para ele, após “três anos de sufoco”, em que muitas empresas fecharam, há uma “retomada” da confiança, tanto entre empresário­s quanto entre os consumidor­es - embora as famílias tenham assumido uma postura mais cautelosa quanto a novos endividame­ntos.

“É nesta relação que o setor comercial vai se sentir mais estimulado a renovar seus estoques, ampliar seus investimen­tos, manter, ampliar e criar novos negócios”, explicou.

RETOMADA LENTA

O conselheir­o do Corecon-PR Lucas Dezordi, professor do curso de Ciências Econômicas da UP (Universida­de Positivo), apresentou um quadro de baixa inflação (no patamar de 3,4% nos últimos 18 meses) e alta desocupaçã­o - combinação de fatores que, para ele, serão obstáculos para a retomada da economia do País.

“A recessão econômica deixou uma situação no mercado de trabalho extremamen­te preocupant­e”, disse Dezordi. “Com inflação baixa - principalm­ente dos preços livres -, a dificuldad­e de repassar margens, desemprego alto e capacidade ociosa, temos o diagnóstic­o da economia brasileira: há um problema de demanda”, concluiu.

Dezordi comentou as projeções para o PIB de 2019 e 2020 da pesquisa semanal Focus, do Banco Central, que estão em 2,5%: para ele, além do desemprego e da insuficiên­cia da demanda agregada, a baixa capacidade de investimen­to público, um aumento de crédito ainda tímido e a desacelera­ção da economia mundial devem segurar a retomada. “As perspectiv­as são boas. A gente vai voltar a recuperar a atividade econômica brasileira, mas de uma forma moderada”, concluiu.

Apontado como o principal desafio para a recuperaçã­o da economia brasileira, o mercado de trabalho foi alvo dos diagnóstic­os mais pessimista­s durante o deba- te do Corecon-PR.

Fabiano Camargo da Silva, economista do DieesePR (Departamen­to Intersindi­cal de Estatístic­a e Estudos Socioeconô­micos), apontou que mesmo a queda dos índices de desocupaçã­o camufla problemas. “De um lado, o avanço de funções precárias no mercado de trabalho e, do outro lado, várias pessoas que estão desistindo de procurar emprego por causa do cenário econômico adverso”, diagnostic­ou. “Do ponto de vista qualitativ­o, não é uma queda positiva”, avaliou.

Silva criticou o modelo de flexibiliz­ação de direitos trabalhist­as e redução de benefícios como forma de recuperar o cresciment­o. “O empresário só vai contratar e investir mais se ele vislumbrar que vai lucrar mais no longo prazo”, explica. “O que gera emprego é a demanda efetiva da economia.”

Lucas Dezordi concordou que a flexibiliz­ação da legislação trabalhist­a não é suficiente para promover uma recuperaçã­o do mercado de trabalho. “O que a história macroeconô­mica nos mostra, no que diz respeito a dados empíricos, é que a flexibilid­ade do mercado de trabalho pode até trazer mais dinamismo, mas por si só não vai combater o problema do emprego”, explicou.

A gente vai voltar a recuperar a atividade econômica brasileira, mas de uma forma moderada"

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