Economistas apontam confiança em alta, mas recuperação lenta
Representantes de diferentes setores se reuniram em Curitiba para fazer o diagnóstico do ano e indicar perspectivas para 2019
Confiança em alta e recuperação lenta. Este foi o diagnóstico que prevaleceu no evento “Discutindo Economia: Perspectivas para 2019”, realizado na última quartafeira (28), no Corecon-PR (Conselho Regional de Economia do Paraná). A mesa, promovida anualmente desde 2010, reuniu representantes dos três setores econômicos, que fizeram um diagnóstico de 2018 e apontaram suas expectativas para o ano que vem.
Acontecimentos internos eexternos,comoagrevedos caminhoneiros ocorrida em maio, as eleições e a crise na Argentina, foram citados como fatores com impacto sobre diferentes setores ao longo do ano no País e no Estado, enquanto sinais de desaceleração da economia mundial e alto desemprego devem frear o crescimento no ano que vem.
“A percepção é de otimismo”, avaliou Carlos Magno Bittencourt, mediador do debate e vice-presidente da entidade. “Está sendo buscada a retomada em bases sólidas. Há muita coisa para arrumar, e isso não acontecerá de uma hora para a outra. Temos muitos ajustes a serem feitos. Houve muitas incorreções no passado. Es- se é o momento de arrumar a casa, e isso leva um tempo”, avaliou.
Pedro Loyola, economista e assessor da Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), lembrou que a agricultura se recuperou rapidamente em 2017 apesar da conjuntura negativa do ano, que incluiu episódios como a Operação Carne Fraca e as delações da JBS na Operação Lava Jato. Neste ano, um período de seca afetou o milho safrinha, mas o Estado se manteve na liderança da produção de culturas como trigo, feijão e cevada.
Fatores como a guerra comercial entre China e Estados Unidos ajudaram a exportação de soja - em outubro deste ano, o Brasil já havia superado o volume exportado para o país asiático em 2017.
Loyola disse que, para o próximo ano, deve ser mantida a safra cheia. A abundância e boa distribuição de chuvas de um provável El Niño devem favorecer a produção. “O clima vai ser excelente para o Paraná”, projetou. “A gente deve crescer em torno de 6 a 7% na produção de grãos.”
O economista da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná) Roberto Zürcher lembrou da retração de 22,3% no desempenho da indústria paranaense de 2014 a 2017 depois de um histórico de altas. Ele prevê um crescimento de 4% em 2018 - patamar que deverá ser mantido em 2019.
O destaque positivo fo- ram os índices de confiança, na indústria de transformação o mais alto desde o início da série, em 2010, e na indústria da construção o mais alto desde junho de 1996. “As expectativas dos industriais estão muito fortes”, disse. “Há também a expectativa de que a construção se recupere.”
Antoninho Caron, da ACP (Associação Comercial do Paraná), contou que a percepção, ao conversar com representantes dos três setores, é realmente de otimismo. Para ele, após “três anos de sufoco”, em que muitas empresas fecharam, há uma “retomada” da confiança, tanto entre empresários quanto entre os consumidores - embora as famílias tenham assumido uma postura mais cautelosa quanto a novos endividamentos.
“É nesta relação que o setor comercial vai se sentir mais estimulado a renovar seus estoques, ampliar seus investimentos, manter, ampliar e criar novos negócios”, explicou.
RETOMADA LENTA
O conselheiro do Corecon-PR Lucas Dezordi, professor do curso de Ciências Econômicas da UP (Universidade Positivo), apresentou um quadro de baixa inflação (no patamar de 3,4% nos últimos 18 meses) e alta desocupação - combinação de fatores que, para ele, serão obstáculos para a retomada da economia do País.
“A recessão econômica deixou uma situação no mercado de trabalho extremamente preocupante”, disse Dezordi. “Com inflação baixa - principalmente dos preços livres -, a dificuldade de repassar margens, desemprego alto e capacidade ociosa, temos o diagnóstico da economia brasileira: há um problema de demanda”, concluiu.
Dezordi comentou as projeções para o PIB de 2019 e 2020 da pesquisa semanal Focus, do Banco Central, que estão em 2,5%: para ele, além do desemprego e da insuficiência da demanda agregada, a baixa capacidade de investimento público, um aumento de crédito ainda tímido e a desaceleração da economia mundial devem segurar a retomada. “As perspectivas são boas. A gente vai voltar a recuperar a atividade econômica brasileira, mas de uma forma moderada”, concluiu.
Apontado como o principal desafio para a recuperação da economia brasileira, o mercado de trabalho foi alvo dos diagnósticos mais pessimistas durante o deba- te do Corecon-PR.
Fabiano Camargo da Silva, economista do DieesePR (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), apontou que mesmo a queda dos índices de desocupação camufla problemas. “De um lado, o avanço de funções precárias no mercado de trabalho e, do outro lado, várias pessoas que estão desistindo de procurar emprego por causa do cenário econômico adverso”, diagnosticou. “Do ponto de vista qualitativo, não é uma queda positiva”, avaliou.
Silva criticou o modelo de flexibilização de direitos trabalhistas e redução de benefícios como forma de recuperar o crescimento. “O empresário só vai contratar e investir mais se ele vislumbrar que vai lucrar mais no longo prazo”, explica. “O que gera emprego é a demanda efetiva da economia.”
Lucas Dezordi concordou que a flexibilização da legislação trabalhista não é suficiente para promover uma recuperação do mercado de trabalho. “O que a história macroeconômica nos mostra, no que diz respeito a dados empíricos, é que a flexibilidade do mercado de trabalho pode até trazer mais dinamismo, mas por si só não vai combater o problema do emprego”, explicou.
A gente vai voltar a recuperar a atividade econômica brasileira, mas de uma forma moderada"