Folha de Londrina

Um dia de festa

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Era só a visita apontar na esquina que a meninada já ficava esperta, na expectativ­a de ouvir minha mãe dizer: hoje vou matar um frango para o almoço. “Deixa que eu pego!” - eu logo me prontifica­va, acompanhad­a pelo meu irmão. Debulhávam­os um pouco de milho, e pipipipiii .... chamávamos as galinhas, escolhíamo­s um frango grande e bem gordinho, e saíamos correndo atrás. Pulava a cerca de balaustra, entrava embaixo do assoalho da casa, passava para o quintal do vizinho, subia e descia em árvores, gritando e dando risadas e só voltava com o coitado nas mãos.

Logo a mãe ou a vó pegava, destroncav­a habilmente o pescoço, tirava as penas, cortava as partes seguindo um padrão que toda mulher boa dona de casa devia saber, e a gente ficava ali do lado admirando, olhando curiosos aquela operação que preparava o nosso lindo almoço. - “Olha o que tem no papo, um monte de milho!” - “E tem ovinhos, com certeza era uma franga e ia ser uma galinha poedeira!”

Tudo bem cortado e limpo, o frango (ou franga) amarelinho era temperado e ia para a panela, no fogão a lenha, enquanto se conversava com a visita sobre todas as novidades. Logo o cheiro gostoso enchia a casa e batia direto no nosso estômago que ansiava pelo almoço o qual parecia demorar mais quando tinha gente de fora para comer.

Tudo bem cortado e limpo, o frango (ou franga) amarelinho era temperado e ia para a panela, no fogão a lenha. Logo o cheiro gostoso enchia a casa e batia direto no nosso estômago”

Mas valia a pena esperar. E a gente ia dividindo os pedaços do frango entre nós, na maior sem-cerimônia: - “a coxa é minha”; - “eu fico com as asas, o coração e a moela são da Maria, mas como tem duas coxas, uma fica para o Zé”. - “E o jogo?” - “Ah, esse vocês já sabem que é do vovô Mário porque depois ele gosta de jogar com a gente!”

Esse jogo lembro que era um pedaço de peito com um ossinho em forma de forquilha que, depois de comer a carne, servia para jogar e ganhava aquele que ficasse com a maior parte... Na verdade não ganhava nada, só uns berros de alegria! E o vovô sempre deixava a gente ganhar... Mas, voltando ao frango, cada um tinha o seu pedaço preferido e era um pedaço só, nada de favorecime­nto. Até o miolo, a cabeça, o pescoço, os pés, tudo era muito gostoso e tinha dono. E a gente se deliciava, saboreando vagarosame­nte

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