Folha de Londrina

AVENIDA PARANÁ

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Um dos nomes injustamen­te esquecidos da literatura brasileira é o de Gustavo Corção

Um dos nomes injustamen­te esquecidos da literatura brasileira é o de Gustavo Corção (1896-1978). Para alegria deste cronista de sete leitores, a Vide Editorial está relançando as obras do talentosís­simo escritor católico. “A Descoberta do Outro”, livro em que Corção relata o seu processo de conversão à Igreja, é uma verdadeira preciosida­de do gênero confession­al inaugurado por Santo Agostinho há 1.600 anos. Pensando em vocês, meus sete leitores, selecionei alguns trechos dessa obra fascinante:

“Todo amigo verdadeiro é um amigo de infância.” “Estamos no tempo, mas não somos do tempo. E como estamos no tempo somos pacientes; e como não somos do tempo somos impaciente­s. O cristão é realmente, segundo a esperança, vigilante como um soldado e confiante como uma criança. Cuidadoso como um soldado que o Rei mandou vigiar os confins de seu Império, e descuidado como uma criança que dorme.”

“O mundo de amanhã, que mal entrevemos nessa aurora de sangue, ou voltará ao Cristo ou se perderá.”

“A Caridade está em toda a parte. Encontramo-la em todos os lugares e em todas as horas. Ela é paciente; suporta o mundo sem Fé; corre atrás do mundo sem Esperança. Persiste, aguenta, esconde-se para servir e mostra-se para ajudar. Está aqui, está ali, não se cansa, não se irrita. O mundo é um abismo de Caridade; é um vale de lágrimas, das lágrimas da Caridade.”

“Esperar, para o cristão, é providenci­ar e preparar para o hóspede, é ser vigilante como um soldado, humilde como um soldado, confiante como a criança. Anos atrás as crianças tinham um sentido vivo da esperança, porque gostavam muito de brincar de soldado e de dona de casa que recebe visitas. (...) A Esperança cristã encontra nos corações dos adultos, cada vez mais, a raiz da nossa infância quase calcinada.”

“Jesus planta o reino de Deus não aqui ou ali (isto é, no espaço) nem acompanhad­o de sinais (isto é, no tempo), mas no meio de nós ou dentro de nós. A justiça já veio e o reino já está entre nós.”

“O reino de Deus está no encontro em que Pai e filhos se atiram num imenso abraço de reconcilia­ção.”

“Para nós, o maior esplendor da Idade Média está numa cruz de carvão que S. Tomás traçou numa porta que dava para o pecado e nas chagas que um dia apareceram nas mãos dum pobre de Assis.”

“Nos dias que se seguiram, lembro-me bem, eu não podia passar quinze minutos sem pensar no santo nome de Deus. Era um assédio, um atropelo, era uma verdadeira perseguiçã­o que me acuava contra o altar. Uma onda de mérito de todos os santos, um vento de todas as orações, puxava-me o chão embaixo dos pés. E eu não sabia que o silencioso mover dos lábios de toda a cristandad­e cuidava de mim, dizia um segredo que me interessav­a, como os cochichos da gente grande nas vésperas de Natal, quando eu era pequenino...”

“A função principal do artista consiste em trazer uma mensagem da infância, defendendo-nos da secura do racionalis­mo e da aridez do cientifici­smo. A arte se afirma como uma vitória sobre os conflitos, como um ensaio de ressurreiç­ão.”

Passagens memoráveis da obra de um grande escritor brasileiro injustamen­te esquecido: Gustavo Corção (1896-1978)

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Filipe.Lopes/Shuttersto­ck

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