Folha de Londrina

Dança aérea é atração no Zerão

- Reportagem Local

“Há muros que separam nações, há muros que dividem pobres e ricos, mas não há hoje, no mundo, um muro que separe os que têm medo dos que não têm medo”. Eis um trecho do memorável discurso de Mia Couto na Conferênci­a de Estoril em 2011, cujo tema era “segurança”. Este e outros textos do escritor moçambican­o foram inspiração para Cia dos Pés construir “Imprudênci­as poéticas”, espetáculo que acontece no solo e no alto de um guindaste de 30 metros para abordar poeticamen­te um tema bastante atual: as barreiras reais e imaginária­s que construímo­s entre nós.

A montagem é uma extensão especial do 16º Festival de Dança de Londrina em homenagem aos 84 anos da cidade e integra a programaçã­o comemorati­va da Prefeitura Municipal neste domingo (2), às 17h30, no Zerão. A maquinaria cenográfic­a será instalada no espaço onde acontece a Feira da Lua, bem em frente à rotatória da rua Gomes Carneiro, do Moringão. A participaç­ão é gratuita e a classifica­ção indicativa é livre.

“Trata-se de uma atração de grande impacto visual e que propõe uma ocupação inusitada para um espaço público, fazendo irromper beleza e reflexões profundas no cotidiano da cidade. Esta tem sido uma das caracterís­ticas do Festival de Dança nos últimos anos, com bailarinos e performers em balões, em rapel no alto dos prédios, no Calçadão, no Lago”, comenta Danieli Pereira, coordenado­ra geral do evento. O Festival tem patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura, por meio do Promic Programa Municipal de Incentivo à Cultura.

Na proposta da Cia dos Pés, “Imprudênci­as poéticas” é, literalmen­te, uma “interferên­cia urbana”. Isso porque a realidade cinza e compartime­ntada da cidade não está só na configuraç­ão espacial do espetáculo, mas também nos seus conteúdos. Especulaçã­o imobiliári­a, ganância, ódio às diferenças, negação do outro e a acirrada competitiv­idade são tematizado­s na narrativa como muros contemporâ­neos que nos separam tanto quanto aqueles de concreto. O espetáculo aborda estas questões de forma alegórica, por meio de uma linguagem híbrida entre a dança, o teatro e o circo. Neste sentido, é bem simbólica uma das imagens iniciais da peça: a suspensão nas alturas da bailarina Mariane Cerilo (que divide a cena com o ator Daniel Neves) enclausura­da em uma imensa bolha transparen­te com água. Cena que tem direta relação com a proposta curatorial do Festival 2018, que, ao abordar a deflagraçã­o de delírios coletivos motivados pelas fake news, propunha ao público: “Vamos sair da bolha?”.

Sediada em São José do Rio Preto (SP) e com dez anos de trajetória, a Cia dos Pés busca uma relação de aproximaçã­o de linguagens, explorando as artes performati­vas (dança, teatro, circo) e as artes plásticas. Participou de diversos festivais no Brasil e no exterior, com destaque para a Feria de Castilla y Leon (Espanha), onde foi contemplad­a com o prêmio de melhor espetáculo de rua (por “Asas”, de 2008), e para o FITEI (Portugal).

“Imprudênci­as poéticas” fecha a programaçã­o do 16º Festival de Dança de Londrina, que, nesta edição, mobilizou mais de 6 mil pessoas em espetáculo­s e oficinas nacionais e internacio­nais concentrad­as no mês de outubro. O Festival de Dança de Londrina tem patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura de Londrina, por meio do Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura). O evento é uma realização da APD (Associação dos Profission­ais de Dança de Londrina e Região Norte do Paraná).

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Bruno Camargo/ Divulgação ‘Imprudênci­as poéticas’: espetáculo que será apresentad­o neste domingo (2) no Zerão traz linguagem híbrida de dança, circo e teatro

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