Colorindo vidas
Projeto muda a paisagem dos muros de centros de educação infantil e busca a valorização do Vista Bela
Um projeto batizado de “Aqui a Vista é Bela” mudou o aspecto do entorno de duas creches da zona norte de Londrina. As ações são inspiradas em experiências bem sucedidas do morro do Vidigal, no Rio de Janeiro. Segundo o coordenador, o rapper e educador social Leandro Palmerah, crianças e moradores são envolvidos em temas como cultura, educação, preservação e valorização do espaço público
Existem algumas iniciativas que transformam a sociedade. O projeto “Aqui a Vista é Bela” pode se enquadrar como uma delas. Por meio dele é possível constatar a mudança da paisagem no entorno do CMEI (Centro Municipal de Educação Infantil) Professora Vanderlaine Aparecida Rodrigues Ribeiro, no conjunto Maria Celina, e na região do CMEI Irmã Maria Nívea, no residencial Vista Bela, ambos na zona norte de Londrina; além de envolver crianças e moradores da região.
O “Aqui a Vista é Bela” envolve cultura, educação, preservação e valorização do espaço, para que o bairro não fique esquecido. “As crianças estão crescendo e vendo essa cultura. Essa última ação, realizada no dia 2, teve desfile das meninas negras e também contou com atividades esportivas como o jiu-jitsu e futebol. As crianças ficaram muito felizes mesmo. Quando viram as ações circenses, comandadas pelo pessoal do Clac, ficaram muito alegres”, destacou o coordenador do projeto, o rapper e educador social Leandro Palmerah.
Ele ressalta que recentemente teve uma conversa com moradores do morro do Vidigal (RJ) e eles falaram que têm orgulho de morar lá. “A cantora Rihanna tem casa lá. O jogador de futebol inglês Beckham também.Isso abriu a minha mente. A gente também pode fazer do nosso lugar algo que as pessoas tenham orgulho de morar”, destacou. Segundo Palmerah, mesmo com tráfico intenso e violência em níveis altos no Vidigal, eles conseguiram transformar o espaço em um bairro. “Sei que o Rio de Janeiro já é uma cidade turística, mas isso que a gente propõe para o Vista Bela é desenvolver uma cultura no bairro, mas é ao mesmo tempo uma crítica social ao governo, que fez um bairro sem escola, sem equipamento de saúde, sem centro cultural e sem biblioteca”, apontou. “Uma criança precisa comer, esporte, educação e cultura. Mas isso foi negado no começo do bairro”, declarou Palmerah.
“Sou aluno de biblioteconomia e atuo como agente cultural, mas que pátria educadora existe hoje? Precisamos exercer atividade cultural intensa e precisamos que os moradores da região cresçam sob outros aspectos, mas para isso é necessário que tenham pessoas que incentivem isso. Esse é nosso objetivo daqui para frente, nem que tenha buscar recursos fora”, declarou.
TEMÁTICA INFANTIL
A diretora do CMEI Irmã Maria Nívea, Valdirene Maria Stremel Movio, aprovou a realização do projeto. “Esses grafites coloridos proporcionam alegria para os muros da escola. É a segunda vez que o muro recebe pintura artística pelo projeto e motiva as crianças a terem contato com a cultura do bairro”, destacou. “A maioria das crianças participou da ação no domingo e elas gostaram muito”, acrescentou.
Karina Pereira, mãe da aluna Eleonora, 4, achou a pintura muito bonita. “O bairro muda totalmente. Dá uma vida. Não é só um rabisco. Minha filha gostou mui- to. Ela ficou comentando sobre os desenhos”, observou. “Muda o ambiente. As crianças gostaram. Elas passaram a mão sobre os desenhos, tentaram identificar os desenhos”, apontou a cabeleireira Dielly Souza da Silva. A dona de casa Rafaela Fernanda tem três filhas (de 10, sete e um ano e oito meses), sendo que duas já estudaram na CMEI do bairro e gostou muito dos muros coloridos. “É uma escola muito boa e é legal que eles realizem essas atividades”, apontou.
A diretora do centro de educação ressaltou que a única exigência para os desenhos é que eles tivessem temática infantil. “Eu fico 10 horas por dia na unidade e me deixa feliz ver um projeto como esse, que visa cuidar da escola e valoriza o lugar em que as crianças estudam. A meninada fica solta, pula muro, mas ao ver que tudo fica limpo, organizado, deixa a gente feliz quando entra na escola. A gente vê que ficou um trabalho artístico”, declarou Movio, que tem como imagem preferida uma mulher ao lado de flores.
Diretora da instituição há quatro anos, Movio observou que ainda falta muita estrutura no bairro. “Temos só essa creche, falta um posto de saúde mais próximo e não temos praças. Enfrentamos o vandalismo da própria sociedade”, declarou.
“Uma criança precisa comer, esporte, educação e cultura. Mas isso foi negado no começo do bairro”