Folha de Londrina

Colorindo vidas

Projeto muda a paisagem dos muros de centros de educação infantil e busca a valorizaçã­o do Vista Bela

- Vítor Ogawa Reportagem Local

Um projeto batizado de “Aqui a Vista é Bela” mudou o aspecto do entorno de duas creches da zona norte de Londrina. As ações são inspiradas em experiênci­as bem sucedidas do morro do Vidigal, no Rio de Janeiro. Segundo o coordenado­r, o rapper e educador social Leandro Palmerah, crianças e moradores são envolvidos em temas como cultura, educação, preservaçã­o e valorizaçã­o do espaço público

Existem algumas iniciativa­s que transforma­m a sociedade. O projeto “Aqui a Vista é Bela” pode se enquadrar como uma delas. Por meio dele é possível constatar a mudança da paisagem no entorno do CMEI (Centro Municipal de Educação Infantil) Professora Vanderlain­e Aparecida Rodrigues Ribeiro, no conjunto Maria Celina, e na região do CMEI Irmã Maria Nívea, no residencia­l Vista Bela, ambos na zona norte de Londrina; além de envolver crianças e moradores da região.

O “Aqui a Vista é Bela” envolve cultura, educação, preservaçã­o e valorizaçã­o do espaço, para que o bairro não fique esquecido. “As crianças estão crescendo e vendo essa cultura. Essa última ação, realizada no dia 2, teve desfile das meninas negras e também contou com atividades esportivas como o jiu-jitsu e futebol. As crianças ficaram muito felizes mesmo. Quando viram as ações circenses, comandadas pelo pessoal do Clac, ficaram muito alegres”, destacou o coordenado­r do projeto, o rapper e educador social Leandro Palmerah.

Ele ressalta que recentemen­te teve uma conversa com moradores do morro do Vidigal (RJ) e eles falaram que têm orgulho de morar lá. “A cantora Rihanna tem casa lá. O jogador de futebol inglês Beckham também.Isso abriu a minha mente. A gente também pode fazer do nosso lugar algo que as pessoas tenham orgulho de morar”, destacou. Segundo Palmerah, mesmo com tráfico intenso e violência em níveis altos no Vidigal, eles conseguira­m transforma­r o espaço em um bairro. “Sei que o Rio de Janeiro já é uma cidade turística, mas isso que a gente propõe para o Vista Bela é desenvolve­r uma cultura no bairro, mas é ao mesmo tempo uma crítica social ao governo, que fez um bairro sem escola, sem equipament­o de saúde, sem centro cultural e sem biblioteca”, apontou. “Uma criança precisa comer, esporte, educação e cultura. Mas isso foi negado no começo do bairro”, declarou Palmerah.

“Sou aluno de biblioteco­nomia e atuo como agente cultural, mas que pátria educadora existe hoje? Precisamos exercer atividade cultural intensa e precisamos que os moradores da região cresçam sob outros aspectos, mas para isso é necessário que tenham pessoas que incentivem isso. Esse é nosso objetivo daqui para frente, nem que tenha buscar recursos fora”, declarou.

TEMÁTICA INFANTIL

A diretora do CMEI Irmã Maria Nívea, Valdirene Maria Stremel Movio, aprovou a realização do projeto. “Esses grafites coloridos proporcion­am alegria para os muros da escola. É a segunda vez que o muro recebe pintura artística pelo projeto e motiva as crianças a terem contato com a cultura do bairro”, destacou. “A maioria das crianças participou da ação no domingo e elas gostaram muito”, acrescento­u.

Karina Pereira, mãe da aluna Eleonora, 4, achou a pintura muito bonita. “O bairro muda totalmente. Dá uma vida. Não é só um rabisco. Minha filha gostou mui- to. Ela ficou comentando sobre os desenhos”, observou. “Muda o ambiente. As crianças gostaram. Elas passaram a mão sobre os desenhos, tentaram identifica­r os desenhos”, apontou a cabeleirei­ra Dielly Souza da Silva. A dona de casa Rafaela Fernanda tem três filhas (de 10, sete e um ano e oito meses), sendo que duas já estudaram na CMEI do bairro e gostou muito dos muros coloridos. “É uma escola muito boa e é legal que eles realizem essas atividades”, apontou.

A diretora do centro de educação ressaltou que a única exigência para os desenhos é que eles tivessem temática infantil. “Eu fico 10 horas por dia na unidade e me deixa feliz ver um projeto como esse, que visa cuidar da escola e valoriza o lugar em que as crianças estudam. A meninada fica solta, pula muro, mas ao ver que tudo fica limpo, organizado, deixa a gente feliz quando entra na escola. A gente vê que ficou um trabalho artístico”, declarou Movio, que tem como imagem preferida uma mulher ao lado de flores.

Diretora da instituiçã­o há quatro anos, Movio observou que ainda falta muita estrutura no bairro. “Temos só essa creche, falta um posto de saúde mais próximo e não temos praças. Enfrentamo­s o vandalismo da própria sociedade”, declarou.

“Uma criança precisa comer, esporte, educação e cultura. Mas isso foi negado no começo do bairro”

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Fotos: Saulo Ohara “Precisamos exercer atividade cultural intensa e precisamos que os moradores da região cresçam sob outros aspectos”, afirma o coordenado­r do projeto, o rapper e educador social Leandro Palmerah

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