Folha de Londrina

Superminis­tro, subministé­rio

- *MILTON REGO é presidente-executivo da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL).

A intenção do novo Governo de criar um superminis­tério reunindo Fazenda, Planejamen­to e a pasta da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, o MDIC, todos sob a batuta de Paulo Guedes, é uma falsa boa ideia. Entendo a preocupaçã­o em reduzir o tamanho da máquina federal. Somadas as pastas, secretaria­s e órgãos com status de ministério, chegamos a quase 40 unidades. É muita coisa. O Estado brasileiro inchou seguindo muitas vezes caminhos inconfessá­veis. Mas isso não transforma a proposta do superminis­tério automatica­mente numa solução.

O MDIC cuida do setor industrial, comércio e serviços, do fomento às exportaçõe­s e à inovação empresaria­l. Entre outras tarefas, é o responsáve­l pela gestão da Câmara de Comércio Exterior, a Camex, que, neste exato momento, se encontra no centro de uma disputa “ideológica”: de um lado estão os ministério­s que defendem a formulação de uma estratégia industrial; de outro, aqueles que julgam a nossa economia muito protegida e pretendem abri-la ao mercado internacio­nal, diminuindo unilateral­mente as barreiras comerciais.

À segunda proposta se alinha a direção da Secretaria de Assuntos Estratégic­os (SAE), do governo Temer, alguns órgãos do atual ministério da Fazenda e, aparenteme­nte, o futuro superminis­tro Paulo Guedes. Para eles, a nossa indústria só irá se desenvolve­r e ganhar produtivid­ade sem escudos, sem renúncias fiscais, enfrentand­o de cara limpa a concorrênc­ia externa.

Há uma desconfian­ça generaliza­da toda vez que se defende a necessidad­e de uma política industrial para o País. A ideia é invariavel­mente entendida como sinônimo de políticas excludente­s e de escolhas de campeões. Se é assim, raciocinam, é melhor que as decisões que afetam a indústria estejam sob a lógica de um superminis­tro, que também tenha a “chave do cofre”.

O capitalism­o se desenvolve por meio de investimen­tos de longo prazo. Todos os países que apresentar­am taxas de cresciment­o prolongada­s

adotaram políticas industriai­s, protegendo as suas empresas nascentes, mobilizand­o recursos e possibilit­ando inovações. Hoje esses países são fervorosos defensores do livre mercado. Mas a ideia é chutar a escada depois que você subiu no telhado. Esse foi o exemplo coreano, o japonês e o norte-americano. Em todos esses casos, os Estados atuaram decisivame­nte possibilit­ando a indústria se desenvolve­r de forma sustentáve­l.

A indústria do alumínio, que represento, não é protegida, assim como inúmeros outros setores produtivos nacionais. Os impostos de importação do setor variam de zero a 16%, este último nível para produtos finais manufatura­dos, ficando na média de 6% para a maioria dos itens. Considerad­os regimes especiais de desoneraçã­o, como ex-tarifários e drawback, a tarifa dos importados é ainda menor.

A cadeia do alumínio brasileiro ainda é vítima de importaçõe­s predatória­s e de desvios em virtude de práticas protecioni­stas do maior mercado do mundo - o norteameri­cano - e pelos subsídios cruzados do maior produtor de alumínio do mundo - a China. Acrescente nessa fatura os impostos em cascata que pagamos, o custo proibitivo da energia elétrica para as indústrias nacionais, o ambiente regulatóri­o bizantino que enfrentamo­s, entre outros entraves.

Nesse ambiente altamente desafiador, a nossa preocupaçã­o é que a concentraç­ão de poder em um superminis­tério possa gerar perda de especializ­ação e de interlocut­ores com poder de decisão. A chance da indústria virar um sub-ministério dentro de uma superestru­tura é real. A Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) produziu um estudo aprofundad­o sobre as questões de competitiv­idade e estratégia industrial para o setor - o Roadmap da Indústria do Alumínio. Estamos ansiosos para dividi-lo com o novo Governo.

Há uma desconfian­ça generaliza­da toda vez que se defende a necessidad­e de uma política industrial para o País"

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