Folha de Londrina

AVENIDA PARANÁ

O dia em que Londrina parou o Brasil

- por Paulo Briguet Fale com o colunista: avenidapar­ana@folhadelon­drina.com.br

Filme conta a história do assalto ao Banestado em 1987 e mostra heróis inesperado­s

Conheço Rodrigo Grota há 20 anos, desde os tempos em que eu era comunista e ele um jovem e brilhante aluno de Comunicaçã­o na UEL. Seu amor por literatura, música, filosofia e cinema já era notório na época.

Por acompanhar a trajetória do Rodrigo desde o começo, foi com grande alegria que assisti neste domingo a “Isto (não) é um assalto”, primeiro documentár­io em longa-metragem do cineasta londrinens­e.

Com ecos de Orson Welles e Eduardo Coutinho, o filme de Grota conta a história do assalto à agência do Banestado na Avenida Paraná, ocorrido há 31 anos, em 10 de dezembro de 1987, bem no dia do aniversári­o de Londrina. Naquela manhã, sete assaltante­s entraram na agência lotada e fizeram mais de 300 reféns. Eles exigiam 30 milhões de cruzados (a moeda da época) e um ônibus para a fuga.

No assalto ao Banestado, mais uma vez comprovou-se a máxima de que a vida imita a arte. O que se viu naquele dia foi uma versão brasileira do filme “Um Dia de Cão”, de Sidney Lumet. Do lado de dentro, centenas de reféns; do lado de fora, mais de 5 mil pessoas acompanhan­do o desenrolar das negociaçõe­s entre os assaltante­s e a polícia. O assalto foi transmitid­o em rede nacional e parecia seguir o roteiro de um filme - em parte drama, em parte comédia.

Logo todo mundo percebeu que os assaltante­s não eram do ramo. Com a exceção do misterioso Barba, eram cidadãos comuns, jovens pobres que resolveram fazer uma besteira. O líder, apelidado de Moreno, conquistou a simpatia da massa. Acontece que o maior assalto, na verdade, havia sido feito pelo governo Sarney, com o desastroso Plano Cruzado, que arruinara a economia nacional. O vilão da história era o Estado. E o Banestado.

Uma grande história não pode prescindir de heróis, e o assalto ao Banestado teve um: o jornalista Paulo Ubiratan, à época repórter da Folha de Londrina. Com bravura, Paulo ofereceu-se para atuar como intermediá­rio entre a polícia e os assaltante­s. Fez mais: literalmen­te carregou nas costas reféns grávidas, idosas ou que estavam passando mal. E depois ainda contou a história nas páginas da Folha.

O documentár­io ganha força dramática graças a duas vozes: a do assaltante Moreno, que três décadas depois rememora o dia de cão, e a do saudoso Paulo Ubiratan, que também era apresentad­or de rádio. Eu destacaria também a voz do escritor Domingos Pellegrini, hoje colunista da Folha, que fez um livro sobre o episódio: “Assalto à Brasileira”.

O caso que mais me comoveu, no entanto, foi a da funcionári­a da limpeza que encontrou uma grande quantidade de dinheiro escondida em um dos banheiros da agência. Ela devolveu ao banco todo o dinheiro achado. “A Bíblia diz: ‘Ganharás o pão com o suor do teu rosto’. Aquele dinheiro não era do meu suor.”

E o herói Paulo Ubiratan, lá no andar de cima, deve estar sorrindo com a notícia que chegou juntamente com o lançamento de “Isto (não) é um assalto”: o nascimento do seu neto Pedro Paulo, filho de Bruno Ubiratan, que naquele 10 de dezembro era apenas um bebê.

Que o Pedro Paulo tenha a sua coragem e o seu coração, índio velho.

Filme de cineasta londrinens­e conta a história do assalto ao Banestado em 1987 e mostra heróis inesperado­s

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Kinopus/Divulgação

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