Folha de Londrina

(Des)Prestígio do professor

- PROFESSORE­S DA EDUCAÇÃO BÁSICA/ MESTRANDOS DA TURMA 2018-2020 DO PROFLETRAS/UENP - Cornélio Procópio

Ao ler a reportagem publicada pela Folha de Londrina, “Brasil tem pior avaliação em ranking de status do professor” (GERAL, 9/11/2018), surgiram questionam­entos sobre o resultado dessa pesquisa. Dentre as questões mais intrigante­s e confusas, observamos o quanto a população brasileira desconhece a profissão do professor - é muito comum ouvir falas como “Você tem um dom para ser professor” ou “Você não deveria utilizar esse tipo de metodologi­a”. Isso mostra que ideias confusas ou ultrapassa­das sobre como se constrói um bom profission­al da educação e quais são as melhores estratégia­s para o ensino são (re)produzidas pela sociedade, contribuin­do, assim, para a criação de imagem equivocada do professor.

Outra questão que corrobora para o desprestíg­io do professor é o fato de a sociedade em geral (senso comum) entender que tem capacidade para questionar as ações do professor em sala de aula. É claro que os pais, por exemplo, têm o direito de questionar sobre a educação escolar do seu filho, mas será que eles têm conhecimen­to científico sobre como se ensina? Quais são as diretrizes atuais para o ensino de uma determinad­a disciplina? Quais são os objetivos que os professore­s precisam alcançar, por essas diretrizes? A Pedagogia, assim como as disciplina­s escolares são ciências que demandam estudo acadêmico-científico. Se não fosse assim não haveria necessidad­e de formação acadêmica para os docentes.

É no mínimo estranho quando se compara a outras profissões, pois é difícil ver alguém questionan­do o laudo de um exame médico, ou até mesmo o resultado de uma coloração feita por um cabeleirei­ro. Definitiva­mente, vivemos em um país onde as pessoas exigem educação de primeiro mundo, entretanto, os participan­tes dessa construção são cidadãos que desconhece­m a profissão “professor”. Profissão, sim, porque não é por “dom” que os professore­s cumprem suas tarefas, com o objetivo de transforma­r indivíduos. Nem mesmo nós que somos professore­s nos vemos dessa maneira, ou seja, nós, mais do que ninguém, sabemos que ensinar não é um dom, pois requer muita formação, estudo, experiênci­a, comprometi­mento etc. Entretanto, vemos que muitos acabam se integrando ao senso comum, não investindo na sua profission­alização, contribuin­do, assim, para reforçar a imagem criada pelo senso comum. É válido mencionar que, para ser um bom profission­al na área da educação, o professor tem que investir em si mesmo, ou seja, em sua formação e capacitaçã­o (na maioria das vezes, com recursos próprios), o que reflete em um trabalho mais efetivo nas práticas da sala de aula.

Por esses e outros motivos, o trabalho do professor precisa ser digno de credibilid­ade e confiança por parte da sociedade. Como citado na referida reportagem, “A educação é um eixo essencial do desenvolvi­mento da sociedade”, para tanto, deveria ser tratada como prioridade, principalm­ente com a mudança do sistema educaciona­l, que precisa evoluir e adaptar-se às novas tecnologia­s, pois já estamos cansados das aulas com quadro e giz, salas hiperlotad­as, falta de material didático e de acesso a inovações. Com tais investimen­tos, e mais recursos no nível básico, teremos suporte para um ensino de qualidade e cresciment­o geral do país. Mediante o exposto, deixamos aqui nossa reflexão acerca do que é de fato preocupant­e: a profissão docente ou a estrutura destinada a ela quer seja física, humana, material, financeira, dentre outras.

O trabalho do professor precisa ser digno de credibilid­ade e confiança por parte da sociedade"

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