(Des)Prestígio do professor
Ao ler a reportagem publicada pela Folha de Londrina, “Brasil tem pior avaliação em ranking de status do professor” (GERAL, 9/11/2018), surgiram questionamentos sobre o resultado dessa pesquisa. Dentre as questões mais intrigantes e confusas, observamos o quanto a população brasileira desconhece a profissão do professor - é muito comum ouvir falas como “Você tem um dom para ser professor” ou “Você não deveria utilizar esse tipo de metodologia”. Isso mostra que ideias confusas ou ultrapassadas sobre como se constrói um bom profissional da educação e quais são as melhores estratégias para o ensino são (re)produzidas pela sociedade, contribuindo, assim, para a criação de imagem equivocada do professor.
Outra questão que corrobora para o desprestígio do professor é o fato de a sociedade em geral (senso comum) entender que tem capacidade para questionar as ações do professor em sala de aula. É claro que os pais, por exemplo, têm o direito de questionar sobre a educação escolar do seu filho, mas será que eles têm conhecimento científico sobre como se ensina? Quais são as diretrizes atuais para o ensino de uma determinada disciplina? Quais são os objetivos que os professores precisam alcançar, por essas diretrizes? A Pedagogia, assim como as disciplinas escolares são ciências que demandam estudo acadêmico-científico. Se não fosse assim não haveria necessidade de formação acadêmica para os docentes.
É no mínimo estranho quando se compara a outras profissões, pois é difícil ver alguém questionando o laudo de um exame médico, ou até mesmo o resultado de uma coloração feita por um cabeleireiro. Definitivamente, vivemos em um país onde as pessoas exigem educação de primeiro mundo, entretanto, os participantes dessa construção são cidadãos que desconhecem a profissão “professor”. Profissão, sim, porque não é por “dom” que os professores cumprem suas tarefas, com o objetivo de transformar indivíduos. Nem mesmo nós que somos professores nos vemos dessa maneira, ou seja, nós, mais do que ninguém, sabemos que ensinar não é um dom, pois requer muita formação, estudo, experiência, comprometimento etc. Entretanto, vemos que muitos acabam se integrando ao senso comum, não investindo na sua profissionalização, contribuindo, assim, para reforçar a imagem criada pelo senso comum. É válido mencionar que, para ser um bom profissional na área da educação, o professor tem que investir em si mesmo, ou seja, em sua formação e capacitação (na maioria das vezes, com recursos próprios), o que reflete em um trabalho mais efetivo nas práticas da sala de aula.
Por esses e outros motivos, o trabalho do professor precisa ser digno de credibilidade e confiança por parte da sociedade. Como citado na referida reportagem, “A educação é um eixo essencial do desenvolvimento da sociedade”, para tanto, deveria ser tratada como prioridade, principalmente com a mudança do sistema educacional, que precisa evoluir e adaptar-se às novas tecnologias, pois já estamos cansados das aulas com quadro e giz, salas hiperlotadas, falta de material didático e de acesso a inovações. Com tais investimentos, e mais recursos no nível básico, teremos suporte para um ensino de qualidade e crescimento geral do país. Mediante o exposto, deixamos aqui nossa reflexão acerca do que é de fato preocupante: a profissão docente ou a estrutura destinada a ela quer seja física, humana, material, financeira, dentre outras.
O trabalho do professor precisa ser digno de credibilidade e confiança por parte da sociedade"