Folha de Londrina

ONTEM E HOJE -

Reportagem resgata as transforma­ções ocorridas na cidade ao longo dos 84 anos sob a ótica de quatro mulheres londrinens­es

- Isabela Fleischman­n e Vítor Ogawa Reportagem Local

No dia em que Londrina completa 84 anos, reportagem resgata histórias desta terra sob a ótica de quatro mulheres e traz análise de professor da UEL sobre a transforma­ção urbanístic­a.

Londrina comemora nesta segunda-feira (10) 84 anos de fundação. Em 1932, João Sampaio, presidente da Companhia de Terras Norte do Paraná, propôs o nome “Londrina” como homenagem às mulheres de Londres. A partir desse ponto, a FOLHA traçou a transforma­ção da cidade pelos olhos de quatro mulheres londrinens­es, cada uma representa­ndo duas décadas de história.

A primeira personagem, Teresa Reschke, 74, retrata os primeiros anos de fundação da cidade. Tempos difíceis lembrados com carinho pela aposentada, que mora em uma das casas de madeira remanescen­tes na vila Recreio (região central). O progresso acelerado entre anos 1954 a 1974 é contado pela auxiliar de enfermagem aposentada Oulevantin­a Benatto Cruz, 79. A terra vermelha ganha muitos tons de cinza.

Em 1975, a grande geada dizima os cafezais e acelera o processo do êxodo rural. Surgem os conjuntos habitacion­ais que dão origem à grande parte da zona norte. A técnica em enfermagem Ana Paula de Oliveira Santana, conta os passos que transforma­ram a região em uma “cidade dentro de Londrina”. Por fim, dos anos 1990 até hoje, a cidade consolida o processo de verticaliz­ação em núcleos fora do centro, com destaque para a Gleba Palhano (zona sul), endereço de Ana Luiza Camacho, 24. A psicóloga lembra que morava em um dos únicos prédios do bairro, antes do paredão de espigões tomar conta da paisagem.

Para acompanhar essa transição urbanístic­a, a reportagem conversou com o professor de arquitetur­a da UEL (Universida­de Estadual de Londrina) e doutor em planejamen­to urbano regional, Gilson Jacob Bergoc.

Oprofessor de arquitetur­a da UEL (Universida­de Estadual de Londrina) e doutor em planejamen­to urbano regional, Gilson Jacob Bergoc, conta que, em um primeiro momento, foi implantado o centro histórico de Londrina. A vila Recreio, na região central, veio logo depois. “Foi feita uma planta com vias de 25 metros que foi mandada para a Inglaterra. O autor desse projeto era o engenheiro agrimensor Alexandre Rasgulaeff”, lembrou. A Inglaterra devolveu o projeto pedindo a redução da largura das vias. Então, ele diminuiu tudo para 15 metros.

“Tendo na época a chamada avenida Paraná, onde hoje tem o Calçadão, e a avenida Higienópol­is, ele fez um projeto que pegava praticamen­te da rua Quintino até atualmente a JK, e no sentindo lesteoeste mais ou menos da rua Jorge Casoni até também a JK, do outro lado, na região oeste. Assim formou-se o Quadriláte­ro Central”, contou Bergoc.

Uma primeira expansão dessa malha urbana foi a vila Casoni. O Quadriláte­ro Central ainda não estava todo ocupado quando surgiram as primeiras casas de madeira na Vila, na sequência. “Em termos urbanístic­os, todas as casas construída­s em Londrina desde a década de 30 eram de madeira, inclusive as do Quadriláte­ro Central. Mais para frente foi feita uma primeira lei que proibiu dentro de uma área no então centro da cidade a construção de novas casas de madeira, só permitindo casas de alvenaria”, frisou o professor.

Toda uma cidade construída em madeira com peroba retirada das matas. No final da década de 40, surgiu um primeiro estudo sobre o processo de ocupação da cidade feito pelo engenheiro civil Francisco Prestes Maia. “Ele propôs uma lei para regulament­ar as formas de ocupação da cidade”, explicou.

Essa norma foi promulgada em 1951. É nessa lei que foram criados os critérios do que hoje são chamadas de áreas de preservaçã­o de fundo de vale. “Nessa lei é determinad­o inicialmen­te se fazer uma via pública ao longo das marginais dos córregos, deixando uma área entre essa via e os córregos da cidade”, pontuou. A norma foi um marco e estabelece­u um padrão urbanístic­o que é seguido até hoje na cidade.

Depois da 2ª Guerra Mundial, Londrina passou por um impulso de cresciment­o. “Cresce a população urbana, crescem as necessidad­es da cidade, e é feito um estudo para planejar esse cresciment­o”, contou Bergoc.

Foi construído um plano urbanístic­o de definição das áreas residencia­is e industriai­s. “A chamada cidade industrial de Londrina, os cilos na região oeste. Também foram definidas algumas prioridade­s em termos de via, que hoje a gente chamaria de vias estruturai­s”, comentou. Vias como a Dez de Dezembro e a JK, com o desenho mais próximo ao de hoje.

“Antigament­e a JK eram duas ruas, a avenida Antonina e a rua Jacarezinh­o. Aquele trecho que passa na frente do cemitério era chamado de rua Jacarezinh­o. Ela terminava antes do córrego que hoje faz aquele fundo da Dez de Dezembro”, esclareceu. O traçado foi planejado fazendo a ligação com a avenida que iria ligar ao aeroporto, implantado no final da década de 50.

Há 50 anos atrás, Londrina criava seu primeiro plano diretor. “Esse plano vai propor também a retirada da linha férrea do centro da cidade e a construção de uma grande avenida. Tinha-se uma concepção do zoneamento da cidade, uma concepção de sistema viário e também mantinha a proteção das áreas de fundo de vale e grandes eixos de expansão da cidade”, elucidou. O primeiro plano diretor definiu de certa forma quais áreas deviam ter algum tipo de estruturaç­ão para poder expandir a cidade. Na década de 70, um segundo projeto urbanístic­o começou a trabalhar aspectos gerais da cidade.

Criaram-se então, os Cinco Conjuntos, e Londrina começou a se expandir para a zona norte. Com um cresciment­o econômico acima do usual, a mecanizaçã­o no campo e a grande geada de 1975 levaram ao êxodo rural. A migração de trabalhado­res do campo para a zona norte da cidade, fez a região crescer em população e em dimensão.

Já na década de 80, começou o movimento de verticaliz­ar a cidade, começando pelo centro. A construção civil nadou de braçadas: chegou a empregar 10 mil funcionári­os, conforme lembrou Bergoc.

Na Gleba Palhano, a concentraç­ão de edifícios foi maior. Onde até a década de 90 eram chácaras, começam a surgir prédios cada vez mais altos com forte impulso a partir de 2000.

Uma Londrina que cresce verticalme­nte e horizontal­mente. “Tivemos uma população muito grande que se instalou em Londrina em 10 anos. Não aparece muito porque a cidade já atingiu mais de 500 mil habitantes”, destacou.

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 ?? Ricardo Chicarelli ?? Casas construída­s com peroba das matas nativas na vila Recreio contrastam com os prédios do centro, ao fundo
Ricardo Chicarelli Casas construída­s com peroba das matas nativas na vila Recreio contrastam com os prédios do centro, ao fundo

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