ABRAHAM SHAPIRO
Disciplina e persistência fazem parte da receita para conquistar a tão sonhada aprovação em concurso
Qualquer obstáculo esconde uma oportunidade. Isso não é mais uma bobagem dos livros de autoajuda. É a vida
Em tempos de desemprego, a palavra estabilidade atrai milhares de interessados em uma vaga no serviço público. Nesta semana, os mais de 150 editais com inscrições abertas em todo o país oferecem, aproximadamente, 20 mil vagas. Apesar da quantidade de oportunidades, o caminho até a aprovação inclui horas de dedicação e de estudos para assimilar todo o conteúdo exigido nas provas.
No Paraná, há concursos com inscrições abertas nas câmaras municipais de Chopinzinho e Corumbataí; nas prefeituras de Braganey, Dois Vizinhos, Foz do Iguaçu, Matinhos e Paranavaí; na UFPR (Universidade Federal do Paraná); na Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) e na Itaipu. As vagas são para todos os níveis de escolaridade.
Para quem pensa em deixar o Paraná há outras inúmeras oportunidades. Uma delas está na Polícia Rodoviária Federal, que oferece 500 vagas em 17 estados. As inscrições vão até o dia 18 de dezembro e as provas serão aplicadas no início de fevereiro.
O advogado e professor de música Thiago Ferreira, é um dos interessados neste último concurso. Há cinco anos, ele mantém uma rotina de estudos em busca da tão sonhada vaga no setor público. No entanto, Ferreira se divide entre os trabalhos e os livros para manter a renda mensal. “Estudo, no mínimo, duas horas por dia. Quando abre o edital, aí viro a noite”, explica. O concurseiro optou por aulas online para conseguir aproveitar melhor os horários disponíveis ao longo do dia.
O desafio da aprovação, segundo ele, tem aumentado com a crise. “Acho que a gente vive um dos piores momentos econômicos. Considerando os salários achatadíssimos, o excesso de mão de obra e as condições ruins de emprego, o concurso público atrai muita gente. No concurso da Polícia Civil, por exemplo, tinha 41 mil pessoas inscritas, ou seja, 41 mil pessoas que ganham menos que o salário inicial ou que estão insatisfeitos com a profissão. O concurseiro, hoje, tem que entrar em um nível de excelência maior que antes”, comenta.
Ferreira continua os estudos em casa enquanto aguarda o resultado da primeira fase do concurso da Polícia Civil. Quem também está ansioso pela divulgação dos classificados na primeira etapa é o estudante Almir Lopes, mas este último candidato prefere a ajuda de um cursinho preparatório para enfrentar as provas.
Deficiente visual, Lopes grava as aulas com a ajuda de colegas e funcionários e as escuta ao longo do dia para fixar a matéria. Como apoio, o estudante também imprime textos em braile e escuta conteúdos por meio de um programa de computador. Formado em Administração e pós-graduado em Gestão Empresarial, ele cursa Direito e estuda para as provas. A rotina de estudos para concursos começou há seis anos.
“O objetivo é ter uma estabilidade no futuro porque, hoje, trabalhar na iniciativa privada diante de todas as turbulências na área econômica é um pouco complicado. Nada na vida é fácil. O segredo é ser persistente, ter determinação e buscar um objetivo. Pretendo continuar estudando até conseguir uma vaga”, afirma o estudante.
Quem já está com o emprego e os salários garantidos ressalta que o percurso não é fácil, mas é recompensador. No final de 2015, a relações públicas Gabriela Fonseca resolveu sair do emprego para tentar uma vaga em um programa de trainee. Após seis meses de tentativas frustradas, ela passou a estudar para concursos públicos em geral. “Fiz um concurso na área administrativa e fui muito mal. Resolvi, então, focar o estudo para concursos na minha área. Como não são muitos, estava disposta a rodar o Brasil”, conta.
Em janeiro de 2017, ela esteve em Londrina para concorrer a uma das vagas na Câmara Municipal. O concurso teve mais de 12 mil inscritos para diversos setores. A relações públicas foi aprovada e, desde setembro deste ano, atua no setor de cerimonial da Câmara. Ela deixou Belo Horizonte e seguiu rumo a Londrina.
“Eu estudava das 9h às 18h, com uma hora de almoço. Fazia tabelas com divisão de conteúdos e também resolvia exercícios à tarde. Comecei a me organizar melhor depois que passei a estudar para concursos. Vi vídeos na internet com métodos de estudo e tive orientação de alguns amigos”, explica.
Aos poucos, Fonseca ampliou a jornada de estudos em casa de 4 horas para 8 horas por dia. A relações públicas optou por cursinhos online e adotou algumas providências para evitar distrações. “Eu deletei os perfis das redes sociais e deixava o celular em outro cômodo enquanto estava estudando”, comenta. A disciplina, segundo ela, foi fundamental para a aprovação no concurso público.
Livea Aguiar comemorou a aprovação após três anos de estudo. Hoje servidora do MPU (Ministério Público da União), ela estabeleceu uma rotina para assimilar e revisar os conteúdos enquanto ainda atuava como jornalista e também como organizadora de casamentos. “Quando eu não estava trabalhando, eu estava estudando. Eu não tinha vida social. Assim que eu chegava em casa, almoçava umas 14h e estudava até a noite, até a hora que eu aguentasse”, relembra. No MPU, ela optou por um cargo técnico e resolveu deixar a carreira de lado.
Na reta final, dois meses antes do concurso, Aguiar procurou um cursinho preparatório que a ajudou na resolução de questões. A aprovação veio em 2013. “Foi uma saga. Saí da prova esgotada. Foi um período muito desgastante, mas eu estava muito focada. Fui classificada fora do número de vagas abertas no edital, mas fiquei com muita esperança de ser chamada dentro do prazo de validade do concurso. Fui nomeada em 2014, no dia do meu aniversário. Foi meu maior presente”, comemora.