Folha de Londrina

Moro defende investigaç­ão sobre conta de ex-assessor de Flávio Bolsonaro

- Fausto Macedo, Julia Affonso e Breno Pires

São Paulo e Brasília - O exjuiz federal Sérgio Moro, futuro ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro, se manifestou pela primeira vez nesta segunda-feira (10) sobre o relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeira­s) que apontou movimentaç­ão atípica de R$ 1,2 milhão em uma conta do ex-policial militar Fabrício José Carlos de Queiroz, ex-assessor do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. O jornal O Estado de S. Paulo revelou o caso no dia 6. Flávio Bolsonaro é o filho mais velho do presidente eleito

Moro sugeriu, ao falar com a reportagem, uma investigaç­ão sobre o caso. “Sobre o relatório do Coaf sobre movimentaç­ão financeira atípica do sr. Queiroz, o sr. presidente eleito já esclareceu a parte que lhe cabe no episódio. O restante dos fatos deve ser esclarecid­o pelas demais pessoas envolvidas, especialme­nte o ex-assessor, ou por apuração.”

Moro disse, no entanto, que não tem “esse papel” de comentar ou de interferir em casos específico­s. “O ministro da Justiça não é uma pessoa para ficar interferin­do em casos concretos”, afirmou

“Vou colocar uma coisa bem simples. Fui nomeado para ministro da Justiça. Não cabe a mim dar explicaçõe­s sobre isso. Eu acho que o que existia no passado de um ministro da Justiça opinar sobre casos concretos é inapropria­do”, afirmou.

No domingo (9), Bolsonaro afirmou que Fabrício Queiroz, ex-motorista de seu filho Flávio, é quem dará as explicaçõe­s sobre os depósitos que foram feitos em sua conta. Afirmou, ainda, que não conversou com o ex-assessor do filho sobre o caso

Fabrício José Carlos de Queiroz foi exonerado do gabinete de Flávio Bolsonaro no dia 15 de outubro. Registrado como assessor parlamenta­r, Queiroz é também policial militar e, além de motorista, atuava como segurança do deputado.

O Coaf informou que foi comunicado das movimentaç­ões de Queiroz pelo banco porque elas são “incompatív­eis com o patrimônio, a atividade econômica ou ocupação profission­al e a capacidade financeira” do ex-assessor parlamenta­r.

Uma das transações na conta de Queiroz citadas no relatório do Coaf é um cheque de R$ 24 mil destinado à futura primeira-dama Michelle Bolsonaro. A compensaçã­o do cheque em favor da mulher do presidente eleito Jair Bolsonaro aparece na lista sobre valores pagos pelo PM.

“Dentre eles constam como favorecido­s a ex-secretária parlamenta­r e atual esposa de pessoa com foro por prerrogati­va de função - Michelle de Paula Firmo Reinaldo Bolsonaro, no valor de R$ 24 mil”, diz o documento do Coaf.

EMPRÉSTIMO

Na sexta-feira (7), ao site O Antagonist­a, Bolsonaro confirmou uma justificat­iva que vinha sendo difundida reservadam­ente ao longo do dia por seus auxiliares próximos. O repasse, disse o presidente eleito, se refere a uma parcela do pagamento de um débito antigo de Fabrício Queiroz com ele.

“Emprestei dinheiro para ele em outras oportunida­des. Nessa última agora, ele estava com um problema financeiro e uma dívida que ele tinha comigo se acumulou. Não foram R$ 24 mil, foram R$ 40 mil. Se o Coaf quiser retroagir um pouquinho mais, vai chegar nos R$ 40 mil”, disse Bolsonaro ao site.

Também na sexta, Flávio Bolsonaro saiu em defesa de Queiroz. O senador eleitor disse que o ex-assessor lhe apresentou “uma explicação plausível” para a movimentaç­ão de R$ 1,2 milhão em um ano. Flávio Bolsonaro se recusou três vezes, porém, a revelar a versão apresentad­a pelo ex-assessor sob a justificat­iva de que estava atendendo a um pedido do advogado de Queiroz.

“Assim que ele for chamado ao Ministério Público, vai dar o devido esclarecim­ento.” Flávio disse ainda concordar que a quantia movimentad­a pelo ex-assessor em um ano “é muito dinheiro”. “O acusado é ele (Queiroz), não eu”, ponderou. “A versão que ele coloca é bastante plausível, mas não sou eu que tenho de ser convencido, é o Ministério Público.”

Auxiliares afirmam que Jair Bolsonaro conheceu Fabrício Queiroz em 1984. Os dois integravam a mesma turma de um curso no 8º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedis­ta.

FORO PRIVILEGIA­DO

Sérgio Moro também defendeu, nesta segunda-feira, a aprovação de uma proposta de emenda constituci­onal (PEC) que acaba com o foro privilegia­do. Segundo ele, a proposta está em discussão no Congresso nesta semana.

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