Folha de Londrina

Novos padrões, novas perspectiv­as

- (I.F.)

A redução dos níveis de mortalidad­e e o aumento da esperança de vida têm também um aspecto relevante associado à maneira cultural de se pensar no planejamen­to para o futuro, conforme explicou o pesquisado­r do IBGE Marcio Minamiguch­i. “A própria forma de nós mesmos lidarmos com nosso futuro, pensando no contexto de esperança de vida maior, é diferente de pensar no nosso próprio ciclo de vida em um contexto de esperança de vida pequena. Se você vive num contexto em que tem poucas chances de chegaras e tornar idoso, sua perspectiv­a de vida muda”, pontuou.

Minamiguch­i argumentou que os jovens de hoje sabem que se tornarão idosos, como algo dado, “não pensam que vão morrer cedo, seria algo como uma tragédia”. Ao passo que, na década de 50, por exemplo, tornarse idoso era incógnita.

“Se agente pensa em 1950, a probabilid­ade de uma pessoa de 20 anos de idade chegar aos seus 65 anos de idade era menos de 50%. Hoje em dia já está em mais de 80%, então você tem um contexto bastante diferencia­do e isso muda bastante nossa perspectiv­a de pensara respeito de nós mesmos, é desafiador, porque a perspectiv­a de longo prazo acaba mudando as formas de pensar nas possibilid­ades de vida”, opinou.

Contudo, os jovens Lohanna Camargo, 22, e Vinícius Pratas, 23, contaram à reportagem que não estão se planejando para a terceira idade. “Não costumamos poupar, nem fazer exercício, até estávamos comentando que deveríamos”, disse a estudante de psicologia.

Já João Pedro, 86, exibe vitalidade. “Quando fui batizado, meu pai esqueceu de por o sobrenome Freitas, ficou só João Pedro, Pedro virou sobrenome”, esclareceu.

Pedro disse que costumeira­mente faz caminhadas e atualmente trabalha cortando cabelo e barba em domicílios. “A médica disse para mim que eu tenho que fazer caminhada porque eu trabalhei muito na roça. Se eu ficar pa- rado, eu travo. Leio também. Graças a Deus, só não mato nem roubo, mas de tudo faço um pouquinho”, brincou.

O hoje barbeiro trabalhou 55 anos na roça. “Na enxada”, acrescento­u. “Eu cheguei a Londrina e tive uma lanchonete, trabalhei uns tempos, fechei e agora eu faço cabelo e barba na casa das pessoas. A gente tem que mexer o corpo, né? Não pode ficar parado”, afirmou. Avô de 20 netos, o mineiro, que deixou seu Estado natal com 14 anos, garantiu: “Minha família é grande. Para reunir todo mundo, sobrinhos, filhos, precisa de um salão para 300 pessoas”, brincou. Pedro mora hoje com um filho divorciado. “O que eu fiz para meus filhos, eles estão fazendo para mim agora.”

“Graças a Deus vou vivendo. Na nossa vida, temos que pedir a Deus e não abusar da saúde. Parei com o cigarro e com a pinga faz 28 anos. A médica disse para eu parar, parei e estou aqui, vivendo”, contou.

Assim como Pedro, Lúcia Nolasco, 78, disse que já está “ganhando” porque sua idade é superior à média da esperança de vida no Brasil. “Acima da média já, graças a Deus. Deus me renova todo dia, com saúde, minhas forças. Faço pilates, fisioterap­ia, não tenho preguiça de nada, sou muito de bem com a vida”, destacou. “Sou mais mineira do que brasileira”, frisou. Artista plástica, Nolasco faz quadros. “Hoje pinto pouco porque não tenho retorno e o material é muito caro”, emendou.

Usualmente, ela encontra sua amiga Natália Juarez, 80, no centro da cidade. “Ela conheceu minha mãe”, lembrou Juarez. “Tenho 80 anos. Bem vividos, faço atividade física, fisioterap­ia e caminhada”, comentou. Nolasco acrescento­u que a amiga tem “um trabalho lindíssimo de flores para enfeitar roupa”.

Juarez trabalhou a vida inteira com flores. “Arranjo de noiva, tudo eu fazia.” É paulista, mas veio para Londrina com um ano de idade.

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