Folha de Londrina

Foro privilegia­do dificulta o combate à corrupção

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Oforo privilegia­do, ou foro por prerrogati­va de função é, como o nome diz, um privilégio que no Brasil beneficia cerca de 58 mil autoridade­s. Nasceu para proteger não uma pessoa, mas o cargo que ela ocupa e, assim, permite um julgamento por um tribunal diferente ao de primeira instância. Outros países mantêm o privilégio a autoridade­s, mas o modelo brasileiro não tem paralelo no mundo, como mostrou um estudo realizado pelo consultor legislativ­o da Câmara dos Deputados Newton Tavares Filho, em 2016. A pesquisa “Foro Privilegia­do: pontos negativos e positivos” analisou como funciona o sistema de julgamento de autoridade­s em 16 países: França, Itália, Alemanha, Portugal, Espanha, Áustria, Dinamarca, Noruega, Suécia, Estados Unidos, México, Venezuela, Colômbia, Peru, Chile e Argentina. O trabalho apontou que o Brasil é recordista em número de autoridade­s com foro privilegia­do. Nos Estados Unidos, nem o presidente tem essa prerrogati­va.

Alvo de duras críticas, não é de hoje que se tenta acabar ou pelo menos diminuir o número de cargos beneficiad­os pelo foro privilegia­do. Mas uma alternativ­a vem avançando. A Proposta de Emenda à Constituiç­ão do senador paranaense Álvaro Dias, do Podemos, foi aprovada nessa terça-feira (11) por unanimidad­e, pela comissão especial da Câmara dos Deputados. A matéria já havia passado pelo Senado Federal e segue agora para o Plenário da Câmara. Mas a votação, em dois turnos, ficará para a próxima legislatur­a. O texto prevê a manutenção do foro privilegia­do apenas para os chefes dos Três Poderes (presidente e vice da República, e presidente­s da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal).

A votação foi simbólica. Era preciso correr contra o relógio, pois se o texto não fosse votado até o fim do ano legislativ­o, em 22 de dezembro, a comissão especial teria de ser encerrada e criado um novo colegiado em 2019. A expectativ­a agora é para que no ano que vem a matéria seja aprovada o mais rápido possível no plenário da Câmara. É o desejo da sociedade brasileira, que vem manifestan­do incansavel­mente a indignação nesse tipo de tratamento diferencia­do. Não é compatível com o que se espera de um novo Brasil, pois o foro por prerrogati­va de função dificulta o combate à corrupção e serve como um escudo para autoridade­s que usam o cargo como escudo para praticar atos ilícitos.

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