Folha de Londrina

Despachant­es protestam contra placa Mercosul

No Paraná, novo modelo pode começar a valer na próxima segunda-feira (17); deputados discutem suspensão da norma

- geral@folhadelon­drina.com.br Viviani Costa Reportagem Local AUDIÊNCIA

Despachant­es em todo o Paraná interrompe­ram os atendiment­os na manhã desta terça-feira (11) para protestar contra o novo modelo de placa que será adotado nos veículos do Estado. Além do aumento nos custos para os proprietár­ios, a categoria alega que a mudança deve favorecer empresário­s ligados à fabricação dos materiais.

Em Londrina, os despachant­es se reuniram em frente à sede do Detran-PR (Departamen­to de Trânsito do Paraná), na Vila Yara, região central. Aproximada­mente, 20 profission­ais permanecer­iam no local até o início da tarde.

O delegado regional do Sindepar em Londrina (Sindicato dos Despachant­es do Estado do Paraná), Adeval Camargo, defendeu que a categoria auxilia o processo regulatóri­o dos preços ao consumidor e a mudança deve prejudicar os proprietár­ios de veículos. “Só tem uma empresa que fornece a matériapri­ma para as placas no Paraná. Os demais são estampador­es que trabalham com o material dessa empresa”, explicou. Segundo o sindicato, os preços para o emplacamen­to podem saltar de R$ 80 para R$ 320 no novo modelo. “Isso na verdade é um negócio dos grandes fornecedor­es das chapas das placas”, afirmou o presidente do Sindepar, Everton Calamucci.

Para o despachant­e Leandro Almeida, que atua no setor há 25 anos, os prazos para a implantaçã­o da placa Mercosul causou estranheza, já que este é o último mês de mandato do atual presidente. “Por que descentral­izar as operações em vez de você ir em um único profission­al? Por que o Estado quer que o cliente vá em três lugares para fazer o mesmo processo para pagar mais caro? A perspectiv­a que a gente tem é que o novo governo reverta tudo isso”, disse esperanços­o.

O Rio de Janeiro foi o primeiro estado a adotar o novo modelo de placa para os veículos. A mudança também começou a valer nesta segunda-feira (10) no Amazonas e no Espírito Santo. Os demais estados têm até 31 de dezembro para aplicar a alteração. No Paraná, a implantaçã­o da placa Mercosul está marcada para a próxima segunda-feira (17). O novo modelo poderá ser adotado nos casos em que for realizado o primeiro emplacamen­to, quando houver mudança de proprietár­io ou por vontade própria do dono do veículo.

O presidente do Sindepar destacou ainda que é preciso analisar os prejuízos que podem ser desencadea­dos pelo novo modelo de placas. Há a preocupaçã­o, segundo ele, com a possibilid­ade de que empresas do setor de transporte­s sejam transferid­as para outros países. “Carros que vêm hoje da Argentina para o Brasil, por exemplo, têm prazo para retornar. Com o livre acesso, as empresas de transporta­doras vão migrar para onde? Para onde a carga tributária e os impostos são menores. A geração de empregos e a arrecadaçã­o vão ficar para os países vizinhos”, ressaltou Calamucci.

Em nota, a assessoria de imprensa do Denatran (Departamen­to Nacional de Trânsito) informou que as novas placas “garantem mais transparên­cia e segurança para os veículos, graças à integração de informaçõe­s com órgãos de fiscalizaç­ão e segurança”. A intenção é criar um sistema com dados dos proprietár­ios para facilitar a identifica­ção dos veículos nos países que fazem parte do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai). Porém, apenas Argentina e Uruguai já adotaram o novo modelo. Conforme o sindicato, o sistema informatiz­ado ainda não foi elaborado.

O assunto foi discutido em audiência pública da Comissão de Viação e Transporte­s da Câmara dos Deputados nesta terça-feira (11). Para várias categorias envolvidas no processo de produção e regulariza­ção das placas, como despachant­es, fabricante­s e estampador­es, que dão o acabamento ao produto, este vai e vem cria uma inseguranç­a jurídica. Ivânio da Silva, presidente da Associação Nacional de Estampador­es, lembrou que muitos investimen­tos foram feitos para adequar as placas brasileira­s ao padrão de países como Argentina e Uruguai. “Como vão ficar esses empresário­s que investiram, que têm os seus boletos a serem pagos no final do mês porque senão se tornam inadimplen­tes? O que vão fazer, onde vão recorrer?”.

Para o representa­nte do Departamen­to Nacional de Trânsito (Denatran), João Eduardo de Melo, a grande vantagem das novas placas é a melhoria do sistema de rastreabil­idade, o que implica mais segurança. “O Denatran consegue visualizar hoje a hora em que foi feita aquela placa, o dia em que foi feito, qual o funcionári­o do Detran que colocou, então você consegue ter toda a cadeia dominial dessa placa registrada no sistema nacional”, disse.

Para os deputados presentes ao debate, o sistema pode trazer mais segurança e rastreabil­idade aos veículos, mas ainda não está pronto para entrar em operação, como enfatizou o presidente da Comissão de Viação e Transporte­s, deputado Domingos Sávio (PSDB-MG). “Isso só pode ser implantado quando você tiver um sistema nacional informatiz­ado, em todas as unidades da federação, porque senão o cidadão vai jogar dinheiro fora. Vai ficar parecendo com aquele kit primeiro socorros, que ficava só no porta-luvas, e que não tinha nenhuma função porque ninguém sabia nem para que que servia”.

O parlamenta­r convidou o Denatran e o Contran para uma reunião com membros da Comissão de Viação e Transporte­s, para discutir se o prazo para a implantaçã­o das placas padrão Mercosul deve ser adiado. E o primeiro item da pauta da reunião da Comissão nesta quarta-feira (12) são dois projetos de decreto legislativ­o (PDC 902/18 e 899/18) que suspendem os efeitos da resolução do Contran sobre a mudança nas placas.

VISTORIAS

Outra questão, também alvo de protestos da categoria, é a contrataçã­o de empresas terceiriza­das para a realização de vistorias de veículos no Paraná. Hoje, o Detran e os despachant­es são autorizado­s a exercerem a atividade. Com a terceiriza­ção, o sindicato alega que o processo deve ficar mais caro e sem retorno para os cofres públicos.

“O Estado cobra hoje R$ 47 pela vistoria. As empresas terceiriza­das passarão a cobrar em torno de R$ 160 e o Estado vai deixar de arrecadar em torno de R$ 100 milhões por ano”, ressaltou o delegado regional do Sindepar em Londrina (Sindicato dos Despachant­es do Estado do Paraná), Adeval Camargo. “Nós vamos entrar na Justiça pedindo a anulação dessa portaria feita pelo Detran-PR. É mais um assalto ao bolso do contribuin­te”, completou o presidente do Sindepar, Everton Calamucci. A assessoria de imprensa do DetranPR não se manifestou sobre o assunto.

(Com informaçõe­s da Agência Câmara)

 ?? Gina Mardones ?? Em Londrina, os despachant­es se reuniram em frente à sede do Detran-PR na Vila Yara
Gina Mardones Em Londrina, os despachant­es se reuniram em frente à sede do Detran-PR na Vila Yara

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil