Folha de Londrina

Após polêmica sobre Israel, países islâmicos esperam ‘consideraç­ão’ de Bolsonaro

- Letícia Casado e Gustavo Uribe Folhapress

- Em meio à insatisfaç­ão de países árabes com a decisão de mudança da embaixada brasileira em Israel, a Organizaçã­o para a Cooperação Islâmica pediu que o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), tenha “máxima consideraç­ão” com as nações muçulmanas.

A posição foi manifestad­a em memorando assinado nesta terça-feira (11) pelos embaixador­es dos países que integram o grupo e que atuam no Brasil. Os representa­ntes diplomátic­os se reuniram nesta manhã na embaixada da Palestina, em Brasília.

“A Organizaçã­o para Cooperação Islâmica está esperanços­a de que o novo governo brasileiro, que emergiu ao poder por meio de um processo transparen­te e democrátic­o, direcione a máxima atenção às relações do Brasil com o mundo árabe e continue pavimentan­do o caminho dessas relações”, disse.

O documento traduz as preocupaçõ­es com as mudanças no rumo da política externa brasileira. Ele enfatiza “uma vez mais” a importânci­a das relações entre o Brasil e países árabes, na qual destaca que “há espaço para fazer esse relacionam­ento crescer em todos os níveis e setores”.

“Os países muçulmanos aqui representa­dos expressam sua ansiedade em trabalhar arduamente com o novo líder brasileiro para servir aos interesses de todas as partes em um espírito de cooperação e respeito de sua histórica herança”, disseram.

O memorando ressalta ainda que os países muçulmanos têm “alto apreço pelo apoio histórico do Brasil” às causas dos países árabes e destaca o reconhecim­ento do Estado da Palestina e o apoio “pela solução de dois estados”. A Organizaçã­o para Cooperação Islâmica agrega 57 países no Brasil.

A relação do Brasil com as nações árabes sofreu um abalo após o presidente eleito ter cogitado transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém. Em resposta, o governo egípcio cancelou visita do chanceler brasileiro, Aloysio Nunes Ferreira, ao país.

A Liga Árabe também enviou carta alertando Bolsonaro de que a medida pode prejudicar as relações do Brasil com os países árabes, que hoje representa­m o segundo maior comprador de proteína animal brasileira.

De acordo com a Fambras (Federação das Associaçõe­s Muçulmanas do Brasil), 45% da carne de frango e 40% da bovina que o país exporta hoje levam o selo halal - ou seja, pode ser consumida segundo preceitos islâmicos.

Em conversas reservadas, embaixador­es das nações islâmicas reafirmam que não cabe a nenhum país interferir em decisões de outras nações e que entendem que o governo federal é soberano para direcionar suas posições sobre política externa.

Eles observam, contudo, que o Brasil sempre foi um país mediador de conflitos, e não parte do problema no Oriente Médio. Acrescenta­m que as posições do Brasil na ONU nos últimos 50 anos foram de votar de maneira a reduzir os conflitos na região e que ninguém quer que o país perca a liderança no cenário internacio­nal.

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