Carta aberta ao bispo
Prezado bispo. Na medida em que vossa excelência sucede os apóstolos e que vossa missão vem ordenada pelo próprio Santo Padre forte em santificar e, principalmente, ensinar -, rogamos vossa atenção para um contraponto à grita posta em fato anunciado pela imprensa, que seria de vossa querença a transferência do padre Manuel Joaquim para a paróquia de Sertanópolis.
Bispo estimado, o momento que vivemos pede muita atenção com as mudanças. Cotidianamente falas e atos, tanto de violência quanto de exclusão, contrário senso do ideário cristão, invadem nossos lares e aplacam consciências menos atentas, à ponto de cedermos à crença mentirosa de que o pensamento fascista pode caminhar com o ideário de Cristo - não pôde, não pode e nunca poderá.
Neste cenário, a palavra do Padre Manuel vem sinalizando caminhos de fraternidade e demarcando estações de conforto espiritual, cujo escopo é de ser recepcionado por todo cristão. Sua messe, na opulenta zona sul de Londrina, consubstancia partilha, inclusão e lembrança concreta dos irmãos desfavorecidos - podemos assegurar que, no ponto, Manuel é a própria consciência adormecida no concreto dos condomínios da região.
Por falar em consciência, vinte anos de conhecimento de Manuel Joaquim nos ensinaram que ele não se acomoda, nem se acanha; quanto mais dura se anuncia a peleia, mais a palavra de fraternidade e de aconchego espiritual do padre se impõe - sempre à serviço da causa de Cristo.
Nesta hora escura, em que há severo desvalor político a afligir as minorias, com as reformas trabalhistas desfazendo o que se criou de proteção legislativa em favor do necessitado, a arma do cristão tem sido a consciência - como foi há dois mil anos, quando os onze, humanamente amedrontados com o poder de Roma à serviço do patriciado judaico, valeram-se do amor ao Nazareno para seguir peregrinando.
Se é fato que todo padre deveria ser inquieto, não é menos fato que toda igreja deveria navegar na inquietude dos que buscam a partilha, bem animada pela eucaristia.
Ainda que não existam diferenças entre o povo bom de Sertanópolis e os cristãos de Londrina, a singularidade que se divisa é o alcance da atuação de Manuel Joaquim, aplacando consciências patrícias mais abastadas, em ordem a fazer girar, com muita intensidade, o ideário da cristandade. Talvez seja do que precisemos, afinal, ninguém questionou o patriciado de Jerusalém, ninguém se preocupou em mexer com as consciências da opulência, era muito amém para pouco consciência social.
Talvez seja hora de nós católicos questionarmos se não há mais a fazer pelo irmão que tem fome, frio e solidão. Neste combate, Padre Manuel faz muita diferença na zona sul de Londrina (disso somos testemunhas). Fará ele tamanha diferença em outras paróquias?
Eminência, não seria prudente perder a consciência que dialoga e desperta a opulência - não nos momentos de proliferação do fantasma da violência. Nesta medida, conquanto Vosso magistério primévio reclame jurisdição equilibrada e cristã afinal, estamos fartos de semideuses que, pelo exercício de poder, tudo tem podido ultimamente - ousamos encarecer-lhe, enquanto cristão e católico, uma prece pela mantença do padre Manuel Joaquim à frente da Paróquia Sant’Ana - afinal, ainda há muito a ser feito.
Se é fato que todo padre deveria ser inquieto, não é menos fato que toda igreja deveria navegar na inquietude dos que buscam a partilha, bem animada pela eucaristia"