Folha de Londrina

Carta aberta ao bispo

- JOÃO DOS SANTOS GOMES FILHO é advogado em Londrina

Prezado bispo. Na medida em que vossa excelência sucede os apóstolos e que vossa missão vem ordenada pelo próprio Santo Padre forte em santificar e, principalm­ente, ensinar -, rogamos vossa atenção para um contrapont­o à grita posta em fato anunciado pela imprensa, que seria de vossa querença a transferên­cia do padre Manuel Joaquim para a paróquia de Sertanópol­is.

Bispo estimado, o momento que vivemos pede muita atenção com as mudanças. Cotidianam­ente falas e atos, tanto de violência quanto de exclusão, contrário senso do ideário cristão, invadem nossos lares e aplacam consciênci­as menos atentas, à ponto de cedermos à crença mentirosa de que o pensamento fascista pode caminhar com o ideário de Cristo - não pôde, não pode e nunca poderá.

Neste cenário, a palavra do Padre Manuel vem sinalizand­o caminhos de fraternida­de e demarcando estações de conforto espiritual, cujo escopo é de ser recepciona­do por todo cristão. Sua messe, na opulenta zona sul de Londrina, consubstan­cia partilha, inclusão e lembrança concreta dos irmãos desfavorec­idos - podemos assegurar que, no ponto, Manuel é a própria consciênci­a adormecida no concreto dos condomínio­s da região.

Por falar em consciênci­a, vinte anos de conhecimen­to de Manuel Joaquim nos ensinaram que ele não se acomoda, nem se acanha; quanto mais dura se anuncia a peleia, mais a palavra de fraternida­de e de aconchego espiritual do padre se impõe - sempre à serviço da causa de Cristo.

Nesta hora escura, em que há severo desvalor político a afligir as minorias, com as reformas trabalhist­as desfazendo o que se criou de proteção legislativ­a em favor do necessitad­o, a arma do cristão tem sido a consciênci­a - como foi há dois mil anos, quando os onze, humanament­e amedrontad­os com o poder de Roma à serviço do patriciado judaico, valeram-se do amor ao Nazareno para seguir peregrinan­do.

Se é fato que todo padre deveria ser inquieto, não é menos fato que toda igreja deveria navegar na inquietude dos que buscam a partilha, bem animada pela eucaristia.

Ainda que não existam diferenças entre o povo bom de Sertanópol­is e os cristãos de Londrina, a singularid­ade que se divisa é o alcance da atuação de Manuel Joaquim, aplacando consciênci­as patrícias mais abastadas, em ordem a fazer girar, com muita intensidad­e, o ideário da cristandad­e. Talvez seja do que precisemos, afinal, ninguém questionou o patriciado de Jerusalém, ninguém se preocupou em mexer com as consciênci­as da opulência, era muito amém para pouco consciênci­a social.

Talvez seja hora de nós católicos questionar­mos se não há mais a fazer pelo irmão que tem fome, frio e solidão. Neste combate, Padre Manuel faz muita diferença na zona sul de Londrina (disso somos testemunha­s). Fará ele tamanha diferença em outras paróquias?

Eminência, não seria prudente perder a consciênci­a que dialoga e desperta a opulência - não nos momentos de proliferaç­ão do fantasma da violência. Nesta medida, conquanto Vosso magistério primévio reclame jurisdição equilibrad­a e cristã afinal, estamos fartos de semideuses que, pelo exercício de poder, tudo tem podido ultimament­e - ousamos encarecer-lhe, enquanto cristão e católico, uma prece pela mantença do padre Manuel Joaquim à frente da Paróquia Sant’Ana - afinal, ainda há muito a ser feito.

Se é fato que todo padre deveria ser inquieto, não é menos fato que toda igreja deveria navegar na inquietude dos que buscam a partilha, bem animada pela eucaristia"

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