“Essa entrevista que eu estou tendo aqui com você era impossível!”
Mesmo distante do Palácio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, o Norte do Paraná também sentiu as diretrizes que o AI-5 impuseram, lembra a exparlamentar e militante Elza Correia (PPS). “Porque não era apenas o eixo Rio-São Paulo em que havia movimentos da sociedade civil organizada que se entendiam uma sociedade mais inclusiva, pacifista e humanista, era o Brasil todo, como hoje. E isso representava um grande perigo aos governos militares, porque quanto mais controlado o povo, quanto menos se discutir, menos interferir, melhor”, afirma.
Integrante do movimento feminista e do Proteu, companhia de teatro criada por Nitis Jacon, Correia lembra que chegou a ser detida em um quartel em Apucarana, após ser denunciada por estudantes e professores da universidade. “Naquela época era Fundação Universidade Estadual de Londrina. Os denunciantes eram da universidade, a própria instituição esta- va recheada de professores policiais, estudantes policiais, que era pra vigiar os alunos”, afirma. Na opinião da professora nenhuma ditadura é saudável. “Nem de direita, nem de esquerda. A nossa luta é por liberdade democrática”, afirma.
Quem também se lembra claramente do que aconteceu é Amadeu Felipe da Luz Ferreira. Expreso político e membro fundador do Partido Comunista Brasileiro, ficou sabendo do Ato enquanto estava preso na Fortaleza de Santa Cruz (RJ). “Lá a informação não chegava então o comandante reuniu alguns presos políticos e falou que, daquele momento em diante, o Brasil passou a viver sob o AI-5, e deu a informação de que não tínhamos mais banho de sol, mais nada, e ainda que iria cumprir as ordem com muito bom gosto”, conta. Quando questionado sobre o por quê se de falar sobre a ditadura, não teve dúvidas. “Para que nunca mais aconteça.”