Folha de Londrina

Assembleia vota criação das parcerias público-privadas

Projeto que regulament­a o Programa de Parcerias do Paraná, o PAR, chegou à Assembleia Legislativ­a em regime de urgência e vem gerando polêmica principalm­ente por questões como facilitar obtenção de licenças ambientais e terceiriza­r ou privatizar serviços

- Mariana Franco Ramos Reportagem Local politica@folhadelon­drina.com.br

Curitiba - Os deputados estaduais começam a votar nessa segunda-feira (17), em regime de urgência, o projeto de lei 586/2018, que prevê a criação do PAR (Programa de Parcerias do Paraná). A mensagem foi enviada à AL (Assembleia Legislativ­a) pela governador­a Cida Borghetti (PP), a pedido do governador eleito, Ratinho Junior (PSD), com a justificat­iva de dar celeridade às ações da nova administra­ção. O texto, contudo, vem gerando polêmica, sobretudo por facilitar a obtenção de licenças ambientais, permitir a privatizaç­ão ou terceiriza­ção de serviços públicos como os presídios e por ser controvers­a quanto ao papel de fiscalizaç­ão do TC ( Tribunal de Contas).

Na quinta-feira (13), o líder da oposição, Anibelli Neto (MDB), pediu que a mensagem seja analisada também pela Comissão de Obras, antes do envio ao plenário. Ela já passou pela CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) e ainda aguarda parecer da Comissão de Finanças. O presidente da Casa, Ademar Traiano (PSDB), ficou de avaliar. Parlamenta­res de diversos partidos, bem como sindicatos de trabalhado­res, caso do Sindarspen (Agentes Penitenciá­rios), se articulam para apresentar emendas. O próprio líder da transição, Hussein Bakri (PSD), admite que o mais provável é que a proposta original sofra algumas mudanças. A última sessão do ano está prevista para o dia 19 de dezembro.

Conforme a proposta, o PAR será integrado por uma carteira de projetos de desestatiz­ação e de contratos de parcerias, implementa­da e desenvolvi­da por meio de uma unidade gestora e de um órgão deliberati­vo, o CPAR (Conselho do PAR). A matéria também institui o Funpar (Fundo para o Desenvolvi­mento de Projetos de Infraestru­tura), que teria a incumbênci­a de financiar a estruturaç­ão e o desenvolvi­mento dos estudos e dos projetos de parceria do Estado.

Os projetos financiado­s pelo PAR teriam prioridade na obtenção de licenças, alvarás e outras autorizaçõ­es em órgãos e entidades de controle. Seria responsabi­lidade do programa, ainda, enviar relatórios periódicos com dados sobre o andamento dos empreendim­entos à AL. Uma das polêmicas diz respeito ao artigo 26, segundo o qual o Tribunal de Contas poderá se manifestar sobre os projetos do PAR “abstendo-se de censurar o conteúdo” ou de “penalizar os gestores responsáve­is por mera divergênci­a de entendimen­to técnico”.

Outra questão prevista que tem gerado descontent­amento diz respeito à licitação e contrataçã­o de PPPs (Parcerias Público-Privadas). Conforme o novo governo, elas poderão englobar “atividades técnicas de suporte ao poder de polícia”, como funcioname­nto de penitenciá­rias - até mesmo segurança interna -, apoio técnico na gestão do trânsito e serviços de aferição técnica e apoio à gestão e integração de dados e informaçõe­s utilizados para o exercício do poder de polícia e de outras funções indelegáve­is do Estado.

OPINIÕES

Na avaliação de Tadeu Veneri (PT), da oposição, o PL 586 é “uma tragédia e uma desgraça”. “Esse projeto é tão absurdo que permite que, por exemplo, Copel (Companhia Paranaense de Energia) e Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná) contratem PPPs sem o conhecimen­to do Estado e diz que o Tribunal de Contas não pode fiscalizar e dar parecer contrário penalizand­o os gestores”, comentou.

O petista destacou que a matéria muda a lei das licitações e muda os prazos de 90 para 30 dias. “Cria um fundo garantidor, mas diz que, se o Estado estiver inadimplen­te com a empresa por mais de 30 dias, ela pode suspender as obras e processar, para receber juros e mora. Ainda diz que é responsabi­lidade do Estado fazer todo o processo ambiental em 30 dias, o que é uma temeridade, atropelar tudo. Cria na prática uma privatizaç­ão do Estado por dentro, de forma pouco perceptíve­l para a população”.

Tiago Amaral (PSB), hoje membro da base aliada ao governo Cida, disse que é preciso fazer uma avaliação aprofundad­a da matéria, uma vez que ela muda toda a configuraç­ão do governo. “Essa aproximaçã­o com a iniciativa privada, de dar celeridade, modernizar, é fundamenta­l. A grande dificuldad­e é que é um projeto extenso, que chegou com pouco prazo para avaliação”. Um dos pontos que deve ser alvo de emenda, segundo ele, é o do TC. “O texto dá a entender que haveria um cerceament­o ou diminuição na capacidade de ação de fiscalizaç­ão. Se realmente fosse esse o objetivo, seria inaceitáve­l, além de inconstitu­cional”.

De acordo com Bakri, existem sim algumas “disparidad­es”, que serão corrigidas. “O governo Ratinho Junior entende que um dos mecanismos para destravar a máquina, facilitar os investimen­tos e dar agilidade é a implantaçã­o das PPPs. O Estado hoje tem uma série de problemas, como o limite prudencial, se você for contratar alguém. Para otimizar recursos, é preciso estar com o funcioname­nto pleno das PPPs. E existe um prazo de vacância. Temos de aprovar agora”, argumentou.

No trecho do TC, ele explicou que houve um erro. “Todo mundo sabe do poder de fiscalizaç­ão do Tribunal de Contas, que é um poder independen­te. Isso já foi corrigido”, explicou. Sobre a questão da urgência, Bakri justificou que a Casa está analisando o conteúdo há alguns dias. “Uma modificaçã­o aqui ou acolá nós temos humildade de reconhecer que precisa. Esse é o papel do legislativ­o”.

Questionad­o se a iniciativa permitira a privatizaç­ão de empresas públicas, o deputado respondeu que o governo “está estudando alguns setores”. “Não cabe a mim falar. Existem alguns que precisam ser avaliados, nunca perdendo o poder do Estado. A Copel é nossa. Existem pontos como a Copel Telecom - defendemos que ainda continue no controle do Estado, mas que tenha mais investimen­tos e dispute no mercado. A Compagas (Companhia Paranaense de Gás), por exemplo, quanto custa? Quais os cargos? Qual o custo? Essa é a discussão que o governador quer fazer”.

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Sandro Nascimento/Alep Tiago Amaral considera positiva a aproximaçã­o com a iniciativa privada, mas admite ser necessária uma avaliação aprofundad­a do projeto, pois ele muda toda a configuraç­ão do governo
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Pedro de Oliveira/Alep Já Tadeu Veneri, o PL 586 é “uma tragédia e uma desgraça” que, na prática cria uma privatizaç­ão do Estado de forma pouco perceptíve­l para a população
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