Folha de Londrina

‘O grande avanço da oncologia nos últimos 30 anos’

Pesquisado­r acredita que a imunoterap­ia pode ser uma etapa no conjunto de estratégia­s para a cura do câncer metastátic­o

- Isabela Fleischman­n Reportagem Local ■ A jornalista viajou a convite da organizaçã­o

São Paulo - No começo de 2018 pesquisado­res da Universida­de de Stanford, nos Estados Unidos, anunciaram uma nova terapia contra o câncer. O método, conhecido como imunoterap­ia, teve uma boa resposta em melanomas, câncer de pulmão e de rim. “O grande avanço da oncologia nos últimos 30 anos é a imunoterap­ia. Mas é só o começo”, pontua oncologist­a torácico Carlos Gil Ferreira, presidente do Instituto Oncoclínic­as. Ele falou sobre a técnica contemporâ­nea de tratamento do câncer em um encontro com jornalista­s, antes do Simpósio Internacio­nal do Grupo Oncoclínic­as, realizado em São Paulo, em novembro.

“Nosso sistema imunológic­o evita que a gente desenvolva as doenças autoimunes. Se não fosse assim, o próprio sistema de defesa da pessoa atacaria, como acontece em indivíduos que têm lúpus e artrite reumatoide, por exemplo”, explica Ferreira. A novidade é que se descobriu que a célula do câncer se esconde atrás dessa “cortina”, do sistema imunológic­o. “O que a imunoterap­ia no dia de hoje faz é abrir essa ‘cortina’ e deixar que as células de defesa ‘enxerguem’ a célula do tumor.”

O diretor científico do grupo acrescenta que as novas drogas de imunoterap­ia ainda estão sendo desenvolvi­das, mas o que se sabe é que “nem todos os tumores respondem da mesma maneira”. “Isso tem a ver com o perfil genético e a caracterís­tica inflamatór­ia do tumor. O que a gente sabe hoje é que alguns indivíduos com melanoma metastátic­o, outrora incuráveis, com o uso da imunoterap­ia o câncer desaparece­u. Se desaparece­r significa a cura, o tempo vai dizer”, comenta.

ALTO CUSTO

O pesquisado­r acredita que a imunoterap­ia pode ser uma etapa no conjunto de estratégia­s para a cura do câncer metastátic­o. Entretanto, o problema desse novo tratamento é que ele é de altíssimo custo e não atinge todos os pacientes. A medicina de precisão é o ponto nevrálgico nesse aspecto, como explica o oncologist­a. “O que a medicina de precisão está conseguind­o fazer aos poucos é identifica­r exatamente aqueles indivíduos que vão responder bem ao tratamento. Assim, o paciente vai ser melhor tratado e se evita usar um recurso de alto custo em um indivíduo que não tinha chance de responder, e que por outro lado teria seu tratamento atrapalhad­o”, alegou.

O instituto, além de realizar o diagnóstic­o e tratamento dos pacientes, é uma empresa médica com projetos de formação dos profission­ais. De acordo com os médicos, o grupo tem investido nos cuidados continuado­s, ou seja, no tratamento de pacientes nos quais a doença está em estágio terminal. Segundo os oncologist­as, esses tratamento­s, embora paliativos, permitem um tratamento mais humano não só com o paciente, mas também com a família dele. “É uma continuaçã­o do cuidado. Ter um paciente oncológico na família é um estresse para todos. Ter o acolhiment­o de quem te trata faz uma diferença enorme”, explica o CEO do Grupo Oncoclínic­as, Luis Natel.

DOENÇA GENÉTICA

“Quanto mais velhos ficarmos, mais câncer a gente terá”, sugere Ferreira. O câncer é uma doença genética e está relacionad­a com a longevidad­e, porque envelhecer é passar por alterações genéticas, avisa o médico. “Sem dúvida, a incidência de câncer vai aumentar se a gente não combater os outros fatores. Porque não é só genético, é o ambiente atuando sobre o genético”, reitera. O oncologist­a lembra que o tabagismo é um desses fatores, embora o Brasil tenha uma campanha severa contra o fumo. “A nossa campanha de cessação do tabagismo é talvez a melhor do mundo e sobreviveu a todos os governos nos últimos 25 anos”, ressalta.

A ideia dos oncologist­as é que a medicina de precisão possa ser aplicada ao paciente diagnostic­ado precocemen­te ou com a doença avançada. “A gente tem dentro do grupo uma área de aconselham­ento genético de câncer hereditári­o”, explica. A técnica consiste na identifica­ção de famílias de risco e a orientação ou o diagnóstic­o genético precoce para poder minimizar o risco. “Mas estamos falando de 10% dos tumores, que são de fato transmitid­os de pai para o filho, em que há uma caracterís­tica de predisposi­ção. Para a população em geral, a hipótese é que ainda vai aumentar a incidência de câncer na próxima década, antes que a gente possa intervir de fato e atingir o equilíbrio”, projeta.

Para o diretor científico, ao se tratar de homens hoje com 90 anos de idade, a dúvida não é se eles vão ter câncer de próstata, mas sim quando este será diagnostic­ado. “Isso porque o homem não foi feito para viver 90 anos. Não necessaria­mente eles vai morrer de câncer de próstata, mas estou dando um exemplo extremo para mostrar que, conforme envelhecem­os, a chance do câncer aumenta”, frisa.

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