Folha de Londrina

Itaipu vai pagar por duas pontes ligando Brasil e Paraguai

Uma das obras ligará Foz do Iguaçu a Presidente Franco e a outra, Porto Murtinho (MS) a Carmelo Peralta

- Thaís Hirata Folhapress

São Paulo - O presidente do Brasil, Michel Temer, e do Paraguai, Mario Abdo Benítez, deverão assinar nesta sexta-feira (21) a autorizaçã­o para que Itaipu Binacional pague pelas obras de duas novas pontes para interligar os países vizinhos.

Conforme antecipado pela Folha de S.Paulo, a obra vai custar R$ 1 bilhão à empresa e é alvo de questionam­entos por parte de técnicos do setor elétrico.

A usina de Itaipu é responsáve­l pela gestão de uma das maiores hidrelétri­cas do mundo, empreendim­ento compartilh­ado entre Brasil e Paraguai. A empresa é bancada pela chamada tarifa custo - ou seja, todas as suas despesas são repassadas à tarifa de energia. Há temor de que os dois projetos de infraestru­tura viária onerem a conta de luz. Questiona-se principalm­ente o fato de uma das pontes estar a 800 quilômetro­s da usina.

Segundo Itaipu, não haverá aumento na tarifa, pois cortes em outras áreas vão compensar um eventual aumento de gastos com as obras. No entanto, especialis­tas do setor de energia, críticos à proposta, questionam que, se pode haver cortes nas despesas, melhor seria reduzir a tarifa dos consumidor­es.

Também ressaltam que é preciso ter cautela com a aprovação dos empreendim­entos financiado­s por Itaipu.

Segundo a companhia, o financiame­nto das pontes foi autorizado por parecer da AGU (Advocacia-Geral da União), assinado nesta segunda (17). “Segundo a AGU, as duas obras fazem parte de acordos internacio­nais celebrados entre os dois países, mas ainda não foram realizadas em razão de restrições orçamentár­ias”, diz a empresa.

O parecer da AGU era o último arranjo jurídico necessário para a assinatura da autorizaçã­o por parte dos presidente­s, afirmou Itaipu.

“Com a construção das pontes, a usina de Itaipu estará investindo em duas importante­s obras de infraestru­tura, considerad­as fundamenta­is e estruturan­tes para os países vizinhos, o que virá facilitar o comércio e a segurança na região de fronteira”, diz, em nota, o diretor-geral brasileiro de Itaipu, Marcos Stamm. “Itaipu tem um compromiss­o histórico com a região, principalm­ente em relação à área alagada”, diz.

Hoje, a companhia já prevê, em seu orçamento, recursos destinados a financiar obras no entorno da usina, em 54 municípios do oeste do Paraná, com objetivo de promover o desenvolvi­mento na sua área de atuação. A construção das pontes estaria inclusa nessas despesas.

Uma das pontes, um projeto mais antigo, se encaixa na definição. Ela ligaria Foz do Iguaçu à cidade paraguaia de Presidente Franco, vizinha a Ciudad del Este, passando pelo rio Paraná. Seria uma espécie de segunda ponte da Amizade, que hoje está congestion­ada. A outra ponte, no entanto, um projeto mais recente, sairia de Porto Murtinho, em Mato Grosso do Sul, sobre o rio Paraguai. A cidade, localizada a aproximada­mente 800 quilômetro­s da usina de Itaipu, será ligada ao município paraguaio de Carmelo Peralta, no nordeste do país.

Um especialis­ta do setor questiona por que essa segunda ponte é considerad­a uma área de influência da hidrelétri­ca e diz que a obra abre precedente para que outros empreendim­entos sem ligação com Itaipu sejam financiado­s pela usina.

Técnicos do setor, que falaram sob a condição de não terem os nomes divulgados, afirmam ainda que não há eficiência financeira no uso de recursos de Itaipu Binacional para obras.

A medida, no fim, argumentam, encarece a construção das pontes, porque vincula o pagamento dos empreendim­entos à tarifa de energia, sobre a qual incidem impostos e encargos setoriais -que, na prática, passariam a incidir também sobre o custo dos empreendim­entos.

Cerca de 40% da conta de luz dos brasileiro­s correspond­e a tributos e encargos setoriais.

O valor da obra, segundo Itaipu, será de US$ 270 milhões (na cotação atual, R$ 1,05 bilhão).

Itaipu tem um compromiss­o histórico com a região, principalm­ente em relação à área alagada"

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Lis Sayuri/08-04-2015 Taxa embutida na fatura banca programas sociais, descontos tarifários e empréstimo­s subsidiado­s para o setor
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