Folha de Londrina

Consumidor­es pagarão R$ 17 bi em subsídios na conta da luz

- Anne Warth

Brasília -

Os consumidor­es de energia elétrica terão que pagar R$ 17,187 bilhões para cobrir o custo dos subsídios do setor em 2019. O valor foi aprovado pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) para que seja possível cobrir o orçamento da CDE (Conta de Desenvolvi­mento Energético), taxa embutida na conta de luz que banca programas sociais, descontos tarifários e empréstimo­s subsidiado­s para o setor.

O orçamento da CDE neste ano deve somar R$ 20,208 bilhões, mas o fundo setorial contará com fontes de receita próprias de R$ 3,021 bilhões. O déficit da conta, portanto, é de R$ 17,187 bilhões, que serão repassados aos consumidor­es, por meio da conta de luz. No ano passado, o orçamento geral da CDE atingiu R$ 20,053 bilhões. Neste ano, portanto, as despesas aumentaria­m em R$ 155 milhões, ou 1%.

Os subsídios na conta de luz beneficiam diversos grupos de interesse. Na prática, o consumidor residencia­l paga um valor adicional para permitir que outros possam ter descontos tarifários. Todos os grupos beneficiad­os têm seus descontos assegurado­s por lei ou decreto.

Para pagar a CDE 2019, a Aneel prevê que as tarifas vão subir 1,45% em todo o País, em média. Para clientes do Norte e Nordeste, a alta seria de cerca de 0,82%. Para os das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, o aumento seria de 1,74%.

Por nível de tensão, segundo a Aneel, no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, os consumidor­es de alta tensão terão aumento de 2,37% nas tarifas; os de média tensão, 1,78%; e os de baixa tensão, 1,30%. No Norte e Nordeste, o impacto médio será de 1,25% na alta tensão; 0,72% na média tensão; e 0,54% na baixa tensão.

Ainda segundo a Aneel, consumidor­es cativos, atendidos pelas distribuid­oras de energia, sentirão impacto negativo de 0,2% na conta de luz, em média.

A CDE é um fundo setorial que concede benefícios a diversos grupos, como a tarifa social da baixa renda e o programa Luz para Todos; descontos para diversos grupos, como agricultor­es, irrigantes e empresas de saneamento; subsídios para produtores e consumidor­es de energias renováveis; subsídios para a compra de carvão mineral; empréstimo­s subsidiado­s para as distribuid­oras da Eletrobras; compra de combustíve­l para usinas termelétri­cas em regiões isoladas, entre outros.

O presidente da Abrace (Associação Brasileira de Grandes Consumidor­es), Edvaldo Alves de Santana, disse estar decepciona­do em relação ao patamar dos subsídios e cobrou uma postura mais ativa do órgão regulador sobre o tema, com fiscalizaç­ão sobre os beneficiár­ios. A Abrace calculou que a conta estava superestim­ada em R$ 8,5 bilhões.

“Se uma organizaçã­o pode moralizar a CDE, não tenho dúvida que é a Aneel, não o Tribunal de Contas da União (TCU), governo ou Congresso”, disse Santana. “Pelo menos o orçamento de subsídios não cresceu tanto, mas o nosso questionam­ento não era quanto ao impacto na conta de luz, mas sim se esse orçamento não poderia reduzir mais.”

Para a indústria, o aumento será de cerca de 1,5%, segundo a Santana. Porém, os valores variam conforme as distribuid­oras e os clientes e, em alguns casos, pode chegar a até 10% para os clientes de alta tensão no Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

O diretor-geral da Aneel, André Pepitone, disse que os subsídios da CDE são aprovados em lei e decretos e afirmou que o órgão regulador não tem “discricion­ariedade” para reduzir o valor. Ele disse que cabe ao Congresso Nacional discutir a necessidad­e de manutenção de subsídios que incentivam a compra de energia de fontes renováveis, como eólicas e solares, por exemplo.

“Hoje as renováveis já são fontes maturadas, mas recebem um subsídio oneroso ao consumidor brasileiro, que já paga uma tarifa está muito elevada”, disse. Ainda segundo ele, a recomendaç­ão do grupo de trabalho do governo sobre subsídios é extinguir, em até cinco anos, os subsídios para agricultor­es, irrigantes e empresas de saneamento e de água. A redução seria gradual, de 20% ao ano, mas teria que ser proposta e aprovada, por meio de projeto de lei, à Câmara e ao Senado.

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