Folha de Londrina

LUIZ GERALDO MAZZA

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Reação das esquerdas à extradição do terrorista italiano Cesare Battisti foi tímida

Fugir é melhor

Quando o enfrentame­nto de um problema é complexo como o de manter o governo na contribuiç­ão previdenci­ária, o que aliás não vinha fazendo por método, a saída é cortar legalmente essa correspons­abilidade, o que não significa solução do problema, mas puro escapismo. Cria-se a ilusão de que se resolveu um problema ao cristaliza­r uma situação de caos na perspectiv­a atuarial.

Saques no fundo de pensão primeiro se deram, sob Beto Richa, em nome de empréstimo de R$ 1 bi e 640 milhões que a administra­ção estadual paga em prestações alongadas no regime das Casas Bahia e, em seguida, na transferên­cia de pouco mais de 70 mil inativos dessa conta do Tesouro ao fundo de pensão estadual, uma tomada de R$ 2 bilhões anuais e, isso há bom tempo, desfalcand­o o capital da Paranaprev­idência.

O pior é que durante todo o tempo se assoalhou que essa medida, que deu margem ao massacre do Centro Cívico, com mais de 200 vítimas, era um ato miraculoso que salvara o Paraná em louvor à Lei de Responsabi­lidade Fiscal. E agora assistimos ao encerramen­to da novela num ato em que se espera que venha uma solução geral para o País e em todos os níveis (aposentado­rias do INSS, de servidores públicos, civís e militares, magistrado­s e procurador­es) com a tão falada e cada vez mais mal explicada reforma da Previdênci­a.

Mais riscos

Parece que todos os problemas públicos guardam uma raiz comum: o Sercomtel, que ganhou um baita reforço com a aquisição de 45% de seu capital pela Copel, permanece, há bastante tempo sob pressão da agência reguladora, a Anatel, que insiste no processo de caducidade que move contra a telefônica londrinens­e e acham quem as alegações finais não afastam riscos ao serviço. O governo municipal fez a sua parte liberando aquela obrigação tortuosa de fazer um plebiscito na hipótese de uma alienação. Convenhamo­s que pela delicadeza do tema está faltando uma ação de maior punch político e que faça disso mais do que uma reivindica­ção regional para expressar um anseio paranaense.

Já o prefeito de Londrina, Marcelo Belinati, entende que a solução do problema passaria por um aporte de R$ 100 milhões da Copel que também tem seus problemas e tem despendido razoáveis recursos desde a sua participaç­ão, lá atrás, na aquisição de parte ponderável de seu capital.

Na quinta feira o Conselho de Administra­ção e na sexta a Assembleia Geral Extraordin­ária do Sercomtel analisam o aporte de R$ 120 milhões do grupo de investimen­to 10 de Dezembro.

Facada

Parece que as palavras fortes, contundent­es, fazem parte do glossário bolsonaria­no: depois das críticas à indústria de multas do Ibama e do Ministério do Trabalho veio uma do setor mais doutrinári­o e intelectua­lizado do guru Paulo Guedes que afirmou ser necessário meter a faca no Sistema S, complexo de organizaçõ­es para treinament­o e sob gestão de federações da indústria, comércio e transporte­s. Ele falou diretament­e isso a empresário­s na Firjan no Rio.

Às vezes a fala amacia, como quando o presidente Jair Bolsonaro defende que Raposa Serra do Sol, em Roraima, possa ser explorada nos seus minérios com pagamento de royalties aos índios, o que é um avanço em relação a espelhos e bijuterias da saga colonizado­ra. Outra, de sentido amenizador, foi a de cortar o embalo pela pena de morte ao lembrar que se trata de cláusula pétrea do texto constituci­onal.

Esquerda acuada?

A reação das esquerdas à extradição do terrorista italiano Cesare Battisti foi tida como tímida, limitada a movimentos sociais e partidos, sem qualquer sinal de mobilizaçã­o. O empenho maior deve ser no réveillon que se pretende tributar ao ex presidente Lula em Curitiba, a maior e mais cultuada referência política de oposição. Essa não pode falhar ante a escassa alternativ­a à esquerda num momento de furor direitista como nunca se viu no País. Mais ainda prejudicad­a pelo movimento à sinistra de vários partidos sem o PT, coisa inimagináv­el no Brasil. Esquerda sem PT pode ser tudo, menos esquerda. Aliás, nem os clássicos Partidos Comunistas o expressam com tanta intensidad­e.

Equipe

Se há equipe ministeria­l, coerente em linha doutrinári­a e ideológica, é a da Justiça tanto quanto a da Economia. Sergio Moro escala gente que teve atuação forte na Lava Jato e agora acaba de indicar a subprocura­dora da República, Maria Hilda Marsiaj , para a Secretaria Nacional da Justiça. O atual secretário, delegado da PF Luiz Pontel, terá o posto de futuro secretário executivo do Ministério da Justiça.

Folclore

Técnicos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), da equipe de transição de Bolsonaro estão propondo o fim do Simples Nacional. A proposta é rever incentivos dos regimes de lucro presumido e Simples, diminuí-los e até eliminá-los. Como se vê Simples no nome, mas complexo no conceito.

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