Folha de Londrina

Tribunal de Contas suspende licitação do transporte coletivo

A pedido da TCGL, Tribunal de Contas do Estado impede a continuida­de do processo até análise e julgamento

- Pedro Moraes Reportagem Local

O TC (Tribunal de Contas do Estado) determinou nessa quinta-feira (19) a suspensão da concorrênc­ia pública do transporte coletivo urbano em Londrina. Decisão foi tomada com base em pedido da TCGL (Transporte­s Coletivos Grande Londrina), que apontou existência de falhas e imprecisõe­s no processo licitatóri­o. A prefeitura tenta recurso para reverter a medida, mas o TC já entrou em recesso de fim de ano

Aum mês do encerramen­to dos atuais contratos das empresas de transporte coletivo em Londrina, uma reviravolt­a judicial aumentou o clima de indefiniçã­o sobre o serviço de ônibus. O TC (Tribunal de Contas do Estado do Paraná) determinou a suspensão da Concorrênc­ia 021/2018, na qual é licitado o serviço para os próximos 15 anos, dividido em duas áreas. A decisão foi tomada a partir de um pedido da TCGL (Transporte­s Coletivos Grande Londrina), que entrou com medida cautelar no último dia 12, argumentan­do que verificou falhas e imprecisõe­s que conflitam com os princípios e regras das licitações públicas. A decisão em suspender o processo foi proferida pelo conselheir­o relator Ivan Lelis Bonilha e também atinge as linhas atualmente operadas pela empresa Londrisul. “Há relevantes indícios de irregulari­dades a serem apreciados por este Tribunal, atinentes, dentre outros aspectos, à garantia da legalidade, economicid­ade, publicidad­e, competitiv­idade e isonomia no certame”, afirmou o membro do órgão de justiça em sua decisão.

A administra­ção municipal, por meio da Procurador­ia Geral do Município e da Procurador­ia da CMTU (Companhia Municipal de Trânsito de Urbanismo), busca medidas judiciais para reverter a decisão. No entanto, a tarefa não é fácil, visto que o próprio TC e os demais órgãos de Justiça já entraram em recesso de fim de ano. A Prefeitura anunciou a concorrênc­ia pública para definir as empresas que devem prestar o serviço em Londrina em agosto, dessa forma, afirmando não ter interesse em renovar os atuais contratos vigentes, que legalmente poderiam ser revalidado­s pelos próximos 15 anos. O término da licitação que foi suspensa seria na próxima quarta-feira (26), quando os envelopes seriam abertos, mas agora é preciso esperar os trâmites legais para definir novos prazos. “Vamos buscar todas as medidas jurídicas e administra­tivas para garantir a continuida­de do processo. O modelo do atual contrato vai contra os interesses da coletivida­de. Independen­temente disso, vamos trabalhar para que o transporte da população não seja afetado”, prometeu Marcelo Cortez, diretor-presidente da CMTU.

Até agora não é possível afirmar se há empresas interessad­as em operar o transporte público em Londrina. Segundo informaçõe­s da CMTU foram fornecidas informaçõe­s sobre o contrato a diversas empresas, mas o conhecimen­to das candidatas nesta modalidade de concorrênc­ia é feito apenas na apresentaç­ão dos envelopes. A própria TCGL já havia afirmado no último dia 30 que encerraria as suas atividades no dia 19 de janeiro do próximo ano e, desta forma, não participar­ia da licitação proposta. A empresa protocolou a decisão depois de tentar renovar a concessão dentro do prazo, no meio do ano. A iniciativa do prefeito Marcelo Belinati em assinar um novo contrato surpreende­u a empresa do Grupo Constantin­o, que também é dono da Gol Linhas Aéreas. Os pronunciam­entos da Grande Londrina, no entanto, são conflitant­es. No mesmo dia em que anunciou o encerramen­to das atividades, o diretor geral da TCGL Gildalmo de Mendonça disse que teria interesse em participar da licitação baseada em outros termos. Depois de afirmar que dispensari­a seus 1.660 funcionári­os, decidiu recorrer na Justiça para mudar os termos do certame. A TCGL foi procurada, mas preferiu não se pronunciar sobre o caso.

A batalha agora será travada na Justiça. O problema é que o Tribunal de Contas do Estado só retorna do recesso no dia 7 de janeiro. A CMTU agora tem 15 dias para apresentar sua defesa, que depois será avaliada pelos conselheir­os da instituiçã­o. Se os argumentos apresentad­os pela prefeitura forem aceitos, a liminar é suspensa. Caso contrário, é mantida e será necessária nova licitação. A questão é que, durante esse período, o atual contrato das empresas de ônibus em Londrina - TCGL e Londrisul - será encerrado e a prefeitura precisará encontrar uma forma para manter os ônibus nas ruas transporta­ndo a população. Ainda não há uma solução definida. “Vamos esperar os próximos passos para ver que caminhos vamos tomar. Não é possível afirmar se será feita uma renovação ou um contrato emergencia­l”, explica Cortez. Um impasse continua no ar: o valor da passagem que entrará em vigor em janeiro. A TCGL já afirmou que o valor ideal seria de R$ 4,60. No entanto, a CMTU afirma que ainda não é possível definir, especialme­nte porque o Sinttrol (Sindicato dos Trabalhado­res em Transporte Rodoviário de Londrina) não fechou o acordo com Metrolon (Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiro­s Metropolit­ano de Londrina) e o valor do reajuste da categoria incide no valor pago pelos passageiro­s.

A TCGL apontou no pedido ao Tribunal de Contas 23 pon- tos de discordânc­ia da proposta oferecida pela prefeitura. A empresa, inclusive, já havia questionad­o a CMTU, que afirma ter respondido às perguntas. A questão financeira, no entanto, é o principal motivo de impasse. No contrato vigente, a empresa tem garantida uma taxa de retorno de capital de 12% ao ano - lucro sobre o investimen­to. Já a proposta do novo contrato oferece ganho baseado na Selic, taxa básica de juros da economia, medida pelo Banco Central, atualmente 6,75% ao ano. Outro ponto de discordânc­ia é a taxa de lucro das empresas, vigente no contrato atual e que encarece a tarifa. No atual contrato, era prevista uma variação entre 7,5% e 10% e o novo contrato oferece entre zero e 6%. “Queremos ter critérios para avaliar de que forma a empresa deve ser remunerada neste ponto. São princípios de eficiência e qualidade que atualmente não existem”, explicou o diretorpre­sidente da CMTU. Recentemen­te, o prefeito cortou unilateral­mente o percentual da cláusula de lucro, mas as empresas recorreram na Justiça e venceram em duas instâncias. A dívida da administra­ção atual por causa dessa decisão girava em torno de R$ 80 milhões, na época do lançamento da licitação em agosto.

Com uma frota de 337 ônibus, a TCGL ainda apresenta outros questionam­entos como a falta de remuneraçã­o dos serviços no primeiro ano, o que somado ao pagamento da outorga de aproximada­mente R$ 7,5 milhões, segundo a empresa, representa um cenário sem a previsão de lucros. O valor atual da passagem, R$ 3,95, também é motivo de reclamação. O valor foi decretado pelo prefeito em dissonânci­a ao cálculo que havia sido feito pela CMTU, que apontava que o valor deveria ser de R$ 4,15. Belinati ainda cancelou a parcela que pagava relativa ao transporte dos estudantes, o que representa um adicional de R$ 0,40 na tarifa. Segundo a empresa, a defasagem no valor cobrado hoje faz com que a companhia esteja acumulando um prejuízo até o momento de R$ 11 milhões. O novo contrato ainda pretende reduzir a fatia de 83% de linhas atualmente exploradas na cidade pela TCGL. Um novo desenho para as empresas é proposto.

SINDICATOS SEM ACORDO

O impasse sobre a decisão do acordo entre o Sinttrol e o Metrolon continua. A reunião marcada para a quartafeir­a (19), mas os patrões sinalizara­m abrir mão da principal reclamação dos trabalhado­res: extinção, no novo acordo trabalhist­a, da estabilida­de de 36 meses dos cobradores, acordado em dezembro de 2017. “Por enquanto não há nada fechado. Houve uma processa verbalizad­a, mas não foi feita por escrito”, afirmou o presidente do Sinttrol, João Batista da Silva. A categoria com isso deve aceitar a proposta de reajuste de 4%, mas não há uma posição final sobre o tempo do acordo. Os empresário­s querem o acordo até o dia 31 de janeiro e os trabalhado­res esperam que ele seja válido até o fim de 2019. A categoria havia decido na segunda-feira (17) manter o indicativo de greve aprovado, mas continua circulando até que uma nova decisão fosse tomada. A sensação de inseguranç­a dos motoristas e cobradores é grande, já que a TCGL anunciou a demissão de todos os funcionári­os diante de um possível quadro de encerramen­to das atividades. Os trabalhado­res inclusive já esperavam receber as cartas de aviso-prévio no próximo dia 26.

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Macos Zanutto/22-8-2018 A CMTU tem 15 dias para apresentar sua defesa; Tribunal de Contas retorna do recesso no dia 7 de janeiro

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