GMs são afastados por suspeita de desvios
Grupo é investigado por sumiço de dinheiro que estava em veículo apreendido; quantia informada foi de R$ 860 mil, mas apuração da Polícia Civil indicou volume maior
A Polícia Civil cumpriu 11 mandados de busca e apreensão contra guardas municipais suspeitos de desviar dinheiro de uma operação deflagrada no mês passado, na zona sul de Londrina. O secretário de Defesa Social, Evaristo Kuceki, informou que 15 agentes que participaram da ação foram afastados
APolícia Civil de Londrina deflagrou nesta quintafeira (20) uma operação para cumprir 11 mandados de busca e apreensão em residências de guardas municipais. Eles são investigados pelo desvio de dinheiro apreendido durante ocorrência registrada em novembro, na zona sul da cidade. Na ocasião, foram apreendidos R$ 860 mil em um veículo que chegou a ser perseguido pela equipe. No entanto, a Polícia Civil apurou que quantia dentro do carro era maior que a informada no registro da ocorrência.
A Secretaria Municipal de Defesa Social acompanhou as diligências. O secretário responsável pela pasta, Evaristo Kuceki, comentou que 15 guardas foram afastados por terem atuado na ocorrência, sendo que 14 deles são investigados e podem responder pelo crime de peculato. “Até hoje, os guardas foram mantidos nas ruas, à pedido do delegado, para não atrapalhar as investigações”, comentou. Até a manhã desta quinta-feira, sete haviam colaborado com as apurações. Três deles devolveram juntos R$ 60 mil, cada um havia embolsado R$ 20 mil. A quantia transportada teria origem no tráfico de drogas e seria repassada como forma de pagamento a outros traficantes.
O rapaz que dirigia o veículo continua preso. Paulo Lucas de Oliveira Dias está detido preventivamente na Casa de Custódia de Londrina por porte ilegal de arma de fogo. Além do dinheiro, uma pistola 9 mm e dez munições também teriam sido encontradas no veículo. Logo após a prisão, Dias negou ser dono da pistola e não quis falar sobre o dinheiro apreendido. O advogado dele, Diheyson Adalberto Furlan Cunha, alegou que o jovem foi coagido pelos GMs que teriam colocado a arma dentro do veículo para fazer a prisão.
O delegado chefe da 10ª Subdivisão Policial de Londrina, Osmir Neves, informou que a denúncia contra os guardas teria relação com o assassinato do policial militar Wagner da Silva Prado ocorrido dias após a apreensão do dinheiro. O PM foi morto com pelo menos dez tiros quando estava em frente a uma padaria, na zona sul de Londrina. O crime completou um mês na última segunda-feira (17) e continua sob investigação.
“Surgiram informações no sentido de que a execução do policial militar na zona sul de Londrina seria decorrente a uma represália por parte de criminosos associados a essa apreensão de valores”, explicou o delegado.
A Polícia Civil chegou a protocolar pedidos de prisão temporária dos guardas municipais, mas os pedidos fo- ram negados pela Justiça. Os investigadores ainda apuram o envolvimento de outros servidores no desvio de recursos. Além de afastados dos cargos, os guardas responderão a processos administrativos abertos pela Corregedoria da Guarda Municipal. Os que devolveram os valores poderão sofrer redução na pena em caso de condenação. O valor total que estaria no veículo é estimado em R$ 1,5 milhão.
DEFESA
Os advogados Eduardo Duarte Ferreira e Adolfo Góis defendem oito dos 15 guardas municipais. A defesa procurou a FOLHA na tarde desta quinta-feira (20) e afirmou que a Polícia Civil e a Prefeitura de Londrina não têm condições de avaliar o caso. “Nós vamos pedir para que o Gaeco faça uma investigação imparcial.”
Eduardo Duarte Ferreira também questiona a demora da administração pública em cumprir o decreto que foi cumprido nesta quinta-feira (20). Segundo o advogado, este documento foi assinado no último dia 4. “Nós queremos saber por que o prefeito guardou o decreto no bolso por 15 dias.”
Em relação à Polícia Civil, o advogado Eduardo Duarte Ferreira ressalta que o delegado que apura os fatos está “diretamente e indiretamente envolvido com a situação que está apurando”. “Como ele pode presumir que havia R$ 1,5 milhão? Ele, teoricamente, recebeu e contou o dinheiro que estava no carro”, completa o advogado.