Folha de Londrina

Em defesa da liberdade de imprensa

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Na semana passada, a revista americana Time elegeu como Pessoa do Ano um grupo de jornalista­s que chamou de “guardiões” dentro da “guerra da verdade”. Foram destacados, em quatro capas diferentes, Jamal Khashoggi, assassinad­o dentro do consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, e conhecido pelas críticas ferozes ao príncipe herdeiro do país árabe, a filipina Maria Ressa, alvo do governo autoritári­o da sua terra natal, os birmaneses Wa Lone e Kyaw Soe Oo, que foram presos, e a equipe do jornal americano Capital Gazette, onde um atirador matou cinco funcionári­os.

Um relatório do CPJ (Comitê para a Proteção dos Jornalista­s) divulgado na quarta-feira (19) apontou que 34 jornalista­s foram assassinad­os este ano em todo o mundo, maior índice desde 2015. Dois brasileiro­s apareceram na lista, contrarian­do a percepção de que reina uma absoluta liberdade de imprensa no País após uma triste história em que a classe já sentiu tantas vezes o gosto amargo da censura. A Classifica­ção da Liberdade de Imprensa 2018 da ONG Repórteres Sem Fronteiras teve o Brasil em 102º lugar entre 180 países.

Mesmo quando não se recorre à violência literal, o trabalho jornalísti­co é frequentem­ente vítima de ameaças e constrangi­mentos. A situação brasileira é exemplar, com ataques à imprensa partindo de todo o espectro político, da extrema esquerda à extrema direita. Matérias embasadas em fatos e apuração cuidadosa são chamadas de fake news se trazem informaçõe­s negativas sobre o político de determinad­a preferênci­a. Mas teorias conspirató­rias são tomadas como fatos inegáveis se corroboram o que já se pensa.

A verdadeira imprensa fiscaliza, incomoda, combate o autoritari­smo. Preza pela pluralidad­e, pela ética e pela defesa dos interesses da comunidade que atende, e não os dos políticos do momento e seus apoiadores. Quando se defende a liberdade de imprensa, defende-se a liberdade de todos.

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