Folha de Londrina

Chegada de índios de São Jerônimo sobrecarre­ga serviços da Assistênci­a Social de Londrina

- Isabela Fleischman­n Victor Lopes

Quem passa pela avenida Winston Churchill e outras vias rápidas da região Norte de Londrina já percebeu a movimentaç­ão diferente de índios por ali que até então não acontecia.

Em busca de comerciali­zar artesanato e mudas de orquídeas, 20 famílias indígenas do município de São Jerônimo da Serra foram trazidos de lá - pela própria prefeitura da cidade - para que pudessem fazer as vendas numa cidade maior, aproveitan­do o ritmo de Natal.

Entretanto, essa movimentaç­ão dos indígenas, comum em muitas localidade­s nesta época do ano, acabou sobrecarre­gando os serviços da Secretaria Municipal de Assistênci­a Social de Londrina, que está fazendo de tudo para atendê-los. De acordo com a secretária, Maria Inês Galvão de Melo, três equipes da pasta, que totalizam 15 pessoas, já precisam dar conta de 320 famílias da Reserva Apucaranin­ha e, agora, também dos índios de São Jerônimo da Serra. “São em torno de 50 pessoas, somando adultos e crianças. Temos nossos serviços, nossos usuários, e como as abordagens acontecem diariament­e, é mais uma demanda que a gente não contava. Mas estamos prestando os serviços da secretaria normalment­e.”

Ela relata que desde a chegada dos índios, as equipes da secretaria têm feito as abordagens nos locais onde eles estão, inclusive para saber se querem pernoitar na Casa de Passagem Indígena, localizado na Chácara São Miguel. “Alguns deles, inclu- sive, já deixaram aquela região (da avenida Winston Churchill) e estão em outras localidade­s perto da Saul Elkind. Quando os índios já são usuários dos nossos serviços, isso já faz parte da rotina deles. Quando não são, é preciso convencê-los.”

O grande problema dessa movimentaç­ão, segundo a secretaria, é quando os índios não conseguem fazer a comerciali­zação dos seus produtos. “Quando não vendem, entram na mendicânci­a e como Londrina é uma cidade grande, acaba tendo que absorver essa situação social. Estamos dando toda a assistênci­a possível, mas eles têm que aceitar isso.”

De acordo com a secretária, houve um pedido da pasta por auxílio do escritório local da Funai (Fundação Nacional do Índio) para que auxiliasse no envio deles de volta para São Jerônimo. “Segundo a Funai, eles ficariam aqui até sábado (22), por conta do movimento do Natal”.

São seis famílias kaingangs alocadas em uma das esquinas da avenida Winston Churchill. Segundo a indígena Marina Cândido da Silva, a Funai levou sacos pretos para eles recolherem o lixo do local e alertou para que as mães tivessem cuidado com as crianças, pela proximidad­e com a avenida. A permanênci­a dos indígenas à beira da avenida foi criticada na mídia. “Eles falaram muitas coisas da gente. Disseram que o prefeito ficou bravo. Daqui ligaram lá, vieram aqui filmar”, disse.

As indígenas que conversara­m com a reportagem contaram que pediram ao prefeito de São Jerônimo da Serra, João Ricardo de Mello, que as mandasse para Londrina no recesso de Natal, para visitar os parentes. “Nós pedimos para ele, ele perguntou o que iríamos fazer em Londrina, falamos que iríamos passar Natal com os parentes, mas não falamos que iríamos vender balaio, se não eles não iam deixar”, contou a filha de Marina, Carla da Silva.

Elas lembram que não estão à toa no local, vieram fazer comércio. “Está ruim para vender os balaios. Vendi três só, mas as orquídeas vendi tudo”, contou Marina. Carla acrescento­u que eles precisam de alimento e às vezes pedem. “Falaram muitas coisas de nós, ficaram bravos. Falaram que nós estávamos mendigando na estrada. Mentiram muito”, disse.

Os kaingangs chegaram no dia 16 e devem deixar o local no dia 26. “Pagamos caminhão para voltar, não é a prefeitura que busca, eles só trazem. Ele cobra R$ 900 para buscar todos, fazemos vaquinha para pagar”, lembrou Marina.

É usual que os índios venham para Londrina nesta época do ano. Segundo a indígena, todo ano a prefeitura fornece um ônibus. “Ano passado quando viemos um policial bateu no meu sobrinho. Ele pediu alguma coisa para a mulher e a mulher chamou a polícia e bateram nele. Porque eles pedem, né. Não sei se a mulher pensou mal porque era à noite. Ele nem sabia o porquê de ter apanhado. Falei que tem que ir de dia que aí as pessoas não pensam mal “, relatou.

“Nós somos índios mas não roubamos. É feio roubar, a gente não rouba. Se a pessoa não dá, tudo bem. Eu não mexo com droga, nem sei o que é isso aí, só fumo cigarro. A gente fica sossegado aqui, se a gente ganha as coisas levamos para casa, os alimentos. Nós recebemos pouco do Bolsa Família, e eu pago a luz”, contou Carla.

Já o secretário do Meio Ambiente de São Jerônimo da Serra, Marcelo Melo Costa, disse que os indígenas de São Jerônimo da Serra possuem uma parceria com a pasta de sustentabi­lidade e preservaçã­o das nascentes. Costa acrescento­u que “por trabalhar a anos com os índios”, sabe que o nomadismo “faz parte de uma cultura deles”.

A reportagem da FOLHA entrou em contato com a prefeitura de São Jerônimo para comentar o caso, mas até o fechamento da edição não obteve retorno.

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Gustavo Carneiro As família indígenas estão acampadas em barracas de lona nas avenidas Winston Churchill e Arthur Tomas

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