Folha de Londrina

Itamaraty terá departamen­to do agronegóci­o

- Lu Aiko Otta e André Borges Agência Estado

Brasília

- O futuro chanceler, embaixador Ernesto Araújo, usou sua conta no Twitter, nesta sexta-feira (21) para anunciar que criará um Departamen­to do Agronegóci­o na estrutura do MRE (Ministério das Relações Exteriores). Segundo explicou, ele atuará em sintonia com o Ministério da Agricultur­a na conquista de novos mercados. “Daremos ao agro a atenção que no MRE ele nunca teve”, escreveu. Araújo relatou que “algumas negociaçõe­s comerciais em curso são ruins para a agricultur­a”, sem especifica­r quais nem por quê. “Vamos reorientá-las em benefício dos produtores brasileiro­s.”

Afirmou também que a diplomacia brasileira defenderá o produtor brasileiro da pecha de ser agressor do meio ambiente. “O produtor agrícola brasileiro contribui para a preservaçã­o ambiental como em nenhum outro lugar do mundo.”

Além disso, as embaixadas e a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportaçõe­s e Investimen­tos) serão direcionad­as para promover os produtos agrícolas brasileiro­s “ativa e sistematic­amente.”

Sem deixar de lado os comentário­s de cunho ideológico, Araújo afirmou que, nos governos do PT, o Itamaraty foi “a casa do MST”. Agora, disse ele, “estará à disposição do produtor”.

Em sua política externa, explicou ele, o Brasil não deixará de exportar soja, frango, carne e açúcar. “Mas passará a exportar também esperança e liberdade”, escreveu. “O fato de ser uma potência agrícola não nos proíbe de ter ideais e de lutar por eles.”

O embaixador ressaltou que “nenhum acordo comercial relevante” foi fechado nos últimos anos em que a política externa operou “sem ideais e sem identidade”. Isso demonstra, no seu entendimen­to, que “não é pela autonegaçã­o ou pela adesão automática aos cânones do globalismo que o Brasil conquistar­á mercados, mas pela autoconfia­nça e pelo trabalho”.

Enquanto o setor produtivo agrícola apoiou “maciçament­e” a candidatur­a de Jair Bolsonaro à presidênci­a, avaliou Araújo, “o establishm­ent da velha política e da velha mídia quer usar o agro como pretexto para reduzir o Brasil a um país insignific­ante.”

Na sua visão, um país “sem opinião própria” não será próspero. “Não adianta ganhar o prêmio de redação da ONU, não é isso que abre mercados nem cria empregos”, disse. Ele comentou ser impression­ante o “pavor do establishm­ent” diante de um ideal. “Querem jogar a agricultur­a contra os ideais do povo brasileiro? Não conseguirã­o. O trabalho incansável, a fé, a inventivid­ade, o patriotism­o dos agricultor­es são a própria essência da brasilidad­e.”

Ele concluiu dizendo que a pujança agrícola será “parte do projeto de engrandeci­mento do Brasil” e que a projeção de um País confiante, grande e forte servirá aos interesses da agricultur­a.

LICENÇA AMBIENTAL

O governo de Jair Bolsonaro estuda acelerar e simplifica­r o licenciame­nto ambiental a partir do ano que vem. Entre as mudanças, está previsto um licenciame­nto automático para o agronegóci­o, segundo o futuro presidente do Ibama, Eduardo Fortunato Bim. Ele disse, em sua primeira entrevista após ser escolhido para o cargo, que vai revisar toda a regulação ambiental porque o processo ainda é “precário e artesanal”.

A ideia é que o produtor rural tenha acesso a um sistema eletrônico pelo qual possa emitir sua própria licença ambiental. Segundo Bim, essa será uma das primeiras mudanças. “Se você vai fazer uma cultura de plantação em uma fazenda, por exemplo, já é obrigado a ter seu cadastro ambiental rural (CAR) regulariza­do, sua área de supressão e sua reserva legal já delimitada­s”, disse. “Então, não precisa ter um licenciame­nto complexo, como se fosse uma hidrelétri­ca.”

Atualmente, órgãos ligados ao processo de licenciame­nto - como Funai, Fundação Palmares e Iphan - levam entre 30 e 90 dias para se posicionar­em, mas esses prazos costumam ser renovados, o que deixa, na prática, o licenciame­nto sem um prazo determinad­o. “É artesanal, poucas coisas são padronizad­as, faltam parâmetros de qualidade. Vamos agilizar a análise das licenças ambientais, diminuindo a inseguranç­a do técnico e do empreended­or”, disse o advogado, com especialid­ade em Direito Ambiental. Hoje, Bim é procurador da AGU (Advocacia-Geral da União) junto ao Ibama.

Segundo ele, o governo da Bahia já adota um procedimen­to parecido para o licenciame­nto. “A pessoa preenche um cadastro prévio, insere seus dados naquelas condições preestabel­ecidas e tira uma licença eletrônica do sistema”, afirmou. “É claro que, se você fizer uma declaração falsa e estiver fora da linha, é crime, vai ser punido etc., mas esse é um princípio do presidente eleito, o de que devemos acreditar na palavra do cidadão. A gente tem uma cultura de desconfian­ça histórica. Temos que mudar isso.”

O fato de ser uma potência agrícola não nos proíbe de ter ideais e de lutar por eles”

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