Pedidos a Noel
Quero ganhar um ano que comece com um dia 1º, termine num dia 31 e, entre eles, todo dia eu tenha o que agradecer.
Quero conseguir agradecer também pelas dores, pelos desenganos, doenças e desgraças, até pelas catástrofes agradecer e, quem dera, compreender.
Quero acordar ouvindo passarinhos, não porque eles estejam em falta, mas porque muitas vezes não escuto. Quero beber água sentindo ca-da go-le.
Quero olhar o céu vendo além das estrelas o Infinito, que a gente só vê por dentro.
Quero a alegria dos bem-te-vis, a ligeireza das corruíras, a leveza dos quero-quero.
Quero a altivez dos urubus, planar sobre o mundo no céu azul, me sentir, apesar de tudo, acima de tudo.
Quero comer com a fome dos famintos, sentir o travesseiro com a cabeça dos sem-teto, entrar no chuveiro com a gratidão dos desertos.
Quero ouvir discos com ouvidos adolescentes, ver concertos como quem se conserta.
Quero acarinhar minha cachorra mesmo quando ela não espera.
E caminhar pelas ruas da minha cidade como quem anda pela capital do mundo, se é aqui que, como disse aquele amigo, bate o meu coração.
E chupar sorvete lambendo as gotas, e lamber os dedos lambuzados, e lamber o prato com o pão, e lamber com os olhos meus netos, e lamber o selo da livro que vou enviar a um velho amigo, e lamber a vidraça enchuvarada com o dedo, e lamber as lembranças como quem revive.
Quero também filmes de ação sem violência, romances de amor pela vida inteira, novelas com personagens trabalhadores, noticiários sem corrupção, Estado sem privilégios e governos con-com, com controle e competência.
Quero uma gripe que passe com apenas um espirro. Quero carinhos dados sem motivo nem razão, pois é, assim como cafunés.
Quero elogios, desde que merecidos.
Quero arrepios, não de susto nem de frio, mas daquela emoção que diz você está vivo, está vivo!
Quero o Brasil não à esquerda nem à direita mas sim em frente.
Quero a inflação zerada e as iniciativas multiplicadas. Quero mais ação e menos lero-lero.
Quero que a renda continue chegando como chegam infalivelmente as contas, e governos e empresas com serviços tão ágeis e competentes como a cobrança de contas.
Quero bolsa-sonho para todos, com direito a cada um realizar os sonhos conforme quiser e puder, e quero que possa conforme se esforçar.
Quero muito contrabando de vergonha, honestidade, sinceridade, claridade, produtividade, criatividade, em imensas caixas para todo o povo abrir e desfrutar.
Quero um celular que apite quando eu estiver deixando de ver ou ouvir alguém.
Quero viver como quem tem cada dia um dia a menos e, a cada dia a menos, mais gosto de viver.