Mais rurais e interesse de novas gerações estão entre os
Os projetos resultantes do PER atendem a particularidades de cada propriedade, o que torna mais difícil medir os impactos do programa para além do universo de cada participante. É claro, no entanto, que o componente humano trabalhado no curso vem contribuindo para mudar a maneira como os produtores se relacionam com a sociedade, diz Luciana Matsuguma.
“Quando sai do programa, o produtor tende a assumir uma participação cada vez mais efetiva na sociedade”, diz. “Temos uma pesquisa que mostra que boa parte dos produtores acabaram assumindo algum papel de liderança em suas comunidades - em associações, cooperativas, sindicatos. E isso é muito importante”, diz.
O instrutor Josias Schulze conta que este é um dos aspectos mais em falta no campo. “O meio rural é bastante carente disso. O produtor fica muito no seu mundo, cuidando da propriedade, e muitas vezes não sai nem para discutir com o vizinho. Um dos propósitos é que ele passe a olhar para fora”, diz.
Do lado de dentro da propriedade, no entanto, também há casos de verdadeiras mudanças de rumo conta Schulze. “Temos histórias de produtores que estavam desistindo, mas fizeram o PER, entenderam onde estava o problema da propriedade e provocaram mudanças que, em dois ou três anos, possibilitaram que eles ficassem”, conta. “Muita gente diz que estava desanimada e não via mais alternativa. Mas, quando entendeu o problema, conseguiu ficar”, conta.
Isso também é verdade para a questão da sucessão - um aspecto importante, já que a maioria dessas propriedades são familiares.
Aline Borges - 23 anos e terceiro lugar no PER com um projeto de irrigação para a produção de batata-doce - é uma representante das novas gerações do campo que vislumbra seu futuro na propriedade da família. Ela conta que seus irmãos, um de 24 e outra de 20, têm expectativas parecidas para o sítio Santa Ana, em Rondon (Noroeste), onde vivem com os pais.
Mas nem sempre foi assim: sair em busca de uma carreira em outra cidade, por exemplo, já pareceu uma escolha mais atraente. “O sonho do jovem é estudar na cidade grande e nunca mais voltar. A gente também tem sonhos, mas não o de sair daqui”, conta Aline, que se formou no ano passado em administração em uma universidade de Paranavaí.
Para a produtora, o PER reforçou uma ideia que já andava na sua cabeça - a de que o que eles fazem tem muito valor. “Hoje já não tenho vergonha de entrar suja na padaria”, brinca, sobre como se sentia “intimidada” por ser produtora. “O programa começa com uma mensagem de motivação que a gente tem de carregar para a vida. Se sairmos da propriedade, quem vai produzir? A gente vê que ser produtor é uma missão muito importante na sociedade”, conta. “Às vezes, as pessoas pensam que o leite já vem na caixinha. Tem quem conceitue o produtor como um ‘jeca’. Mas eu acredito que estou na função certa, e meu sonho hoje é continuar aqui, desenvolver a propriedade e crescer”, diz.
A pequena propriedade tem uma história curiosa: foi herança de um avô, dono de dez alqueires e pai de dez filhos. A divisão foi tão simples como parece. “Todos esses dez têm seu pedaço de terra, ainda moram, produzem e vivem aqui”, conta Aline. “Chama a atenção das pessoas como a família consegue viver com apenas um alqueire, já que há quem tenha cinco, dez - até 15 alqueires - e não conseguem desenvolver bem nenhuma atividade”, diz. (R.C.)