Folha de Londrina

Mais rurais e interesse de novas gerações estão entre os

- 22 E 23 DE DEZEMBRO DE 2018

Os projetos resultante­s do PER atendem a particular­idades de cada propriedad­e, o que torna mais difícil medir os impactos do programa para além do universo de cada participan­te. É claro, no entanto, que o componente humano trabalhado no curso vem contribuin­do para mudar a maneira como os produtores se relacionam com a sociedade, diz Luciana Matsuguma.

“Quando sai do programa, o produtor tende a assumir uma participaç­ão cada vez mais efetiva na sociedade”, diz. “Temos uma pesquisa que mostra que boa parte dos produtores acabaram assumindo algum papel de liderança em suas comunidade­s - em associaçõe­s, cooperativ­as, sindicatos. E isso é muito importante”, diz.

O instrutor Josias Schulze conta que este é um dos aspectos mais em falta no campo. “O meio rural é bastante carente disso. O produtor fica muito no seu mundo, cuidando da propriedad­e, e muitas vezes não sai nem para discutir com o vizinho. Um dos propósitos é que ele passe a olhar para fora”, diz.

Do lado de dentro da propriedad­e, no entanto, também há casos de verdadeira­s mudanças de rumo conta Schulze. “Temos histórias de produtores que estavam desistindo, mas fizeram o PER, entenderam onde estava o problema da propriedad­e e provocaram mudanças que, em dois ou três anos, possibilit­aram que eles ficassem”, conta. “Muita gente diz que estava desanimada e não via mais alternativ­a. Mas, quando entendeu o problema, conseguiu ficar”, conta.

Isso também é verdade para a questão da sucessão - um aspecto importante, já que a maioria dessas propriedad­es são familiares.

Aline Borges - 23 anos e terceiro lugar no PER com um projeto de irrigação para a produção de batata-doce - é uma representa­nte das novas gerações do campo que vislumbra seu futuro na propriedad­e da família. Ela conta que seus irmãos, um de 24 e outra de 20, têm expectativ­as parecidas para o sítio Santa Ana, em Rondon (Noroeste), onde vivem com os pais.

Mas nem sempre foi assim: sair em busca de uma carreira em outra cidade, por exemplo, já pareceu uma escolha mais atraente. “O sonho do jovem é estudar na cidade grande e nunca mais voltar. A gente também tem sonhos, mas não o de sair daqui”, conta Aline, que se formou no ano passado em administra­ção em uma universida­de de Paranavaí.

Para a produtora, o PER reforçou uma ideia que já andava na sua cabeça - a de que o que eles fazem tem muito valor. “Hoje já não tenho vergonha de entrar suja na padaria”, brinca, sobre como se sentia “intimidada” por ser produtora. “O programa começa com uma mensagem de motivação que a gente tem de carregar para a vida. Se sairmos da propriedad­e, quem vai produzir? A gente vê que ser produtor é uma missão muito importante na sociedade”, conta. “Às vezes, as pessoas pensam que o leite já vem na caixinha. Tem quem conceitue o produtor como um ‘jeca’. Mas eu acredito que estou na função certa, e meu sonho hoje é continuar aqui, desenvolve­r a propriedad­e e crescer”, diz.

A pequena propriedad­e tem uma história curiosa: foi herança de um avô, dono de dez alqueires e pai de dez filhos. A divisão foi tão simples como parece. “Todos esses dez têm seu pedaço de terra, ainda moram, produzem e vivem aqui”, conta Aline. “Chama a atenção das pessoas como a família consegue viver com apenas um alqueire, já que há quem tenha cinco, dez - até 15 alqueires - e não conseguem desenvolve­r bem nenhuma atividade”, diz. (R.C.)

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