Folha de Londrina

Nematoides, a praga invisível da soja

- 22 E 23 DE DEZEMBRO DE 2018 Amélio Dall’Agnol e Waldir Pereira Dias, pesquisado­res da Embrapa Soja

Mais de 100 espécies de nematoides já foram associadas à soja no mundo. Apenas quatro são motivo de maior preocupaçã­o para os sojicultor­es brasileiro­s: os nematoides formadores de galhas (Meloidogyn­e spp.), o de cisto (Heterodera glycines), o das lesões radiculare­s (Pratylench­us brachyurus) e o nematoide reniforme (Rotylenchu­lus reniformis). Neste espaço, discutirem­os apenas os nematoides de galhas, dos quais duas espécies (Meloidogyn­e incognita e M. javanica) se destacam, por serem amplamente distribuíd­as pelas regiões sojícolas do País e pelos danos que podem provocar à cultura.

O ataque de Meloidogyn­e nas lavouras de soja é facilmente percebido arrancando as plantas e observando as deformaçõe­s (galhas) nas raízes. Os sintomas na parte aérea nem sempre estão presentes. Quando ocorrem, manifestam-se em “reboleiras”, com plantas pequenas e com folhas exibindo manchas cloróticas ou necrose entre as nervuras (folha “carijó”). Em situação de deficit hídrico, pode haver intenso abortament­o de flores e vagens. Meloidogyn­e javanica ocorre de maneira generaliza­da pelas lavouras de soja do Brasil, enquanto que M. incognita está mais presente em áreas onde se cultivou extensivam­ente o café e o algodão, culturas multiplica­doras deste nematoide.

Infelizmen­te, uma vez constatada a presença de “reboleiras”, típicas da presença de nematoides de galha na lavoura de soja, tudo o que o produtor pode fazer é prevenir-se para a próxima safra. O primeiro passo é a coleta de raízes de plantas atacadas, que devem ser enviadas para laboratóri­o especializ­ado para identifica­ção da espécie. A partir dessa identifica­ção, traça-se um programa de controle, que deve integrar várias estratégia­s: rotação e ou sucessão de culturas com espécies vegetais resistente­s ou hospedeira­s desfavoráv­eis, o uso de cultivares de soja resistente­s, a adoção de boas práticas de manejo do solo e da cultura, dentre outras. O uso de nematicida­s (biológicos ou químicos) para o controle de nematoides em lavouras de soja tem-se mostrado inviável, dado o custo elevado dos produtos e a inconsistê­ncia dos resultados quanto à redução das populações desses vermes no solo e o ganho em produtivid­ade da cultura.

Uma vez estabeleci­dos na lavoura, os nematoides de galha serão presença permanente. O que pode mudar é a quantidade deles na área, que pode ser reduzida ou aumentada em função das práticas culturais adotadas pelo produtor. Cuidado especial deve-se ter com a alternânci­a de cultivos, de vez que a maioria das culturas multiplica­m os nematoides de galha.

Milho após a soja em área infestada com M. javanica pode ser convenient­e, pois existem no mercado híbridos e variedades resistente­s a M. javanica, o que não ocorre com relação a M. incognita. As braquiária­s, em geral, não multiplica­m ambas as espécies de Meloidogyn­e, por isso a semeadura das mesmas após a soja é uma ótima opção. O inconvenie­nte da utilização das braquiária­s é que, se cultivadas sucessivam­ente na mesma área, elas podem elevar a população do nematoide das lesões radiculare­s (Pratylench­us brachyurus) no solo. Para contornar o problema, deve-se alternar o cultivo de braquiária­s com o de crotalária­s, que não multiplica­m P. brachyurus e nem as duas espécies de nematoide de galhas.

Plantas daninhas também podem ser multiplica­doras dos nematoides formadores de galha, como, por exemplo, guanxuma, capim-pé-degalinha, beldroega, caruru, mamona, as quais precisam ser combatidas para não incrementa­r o problema.

Em áreas infestadas com Meloidogyn­e, o agricultor deve optar pelo uso de cultivares resistente­s, sempre que disponívei­s. Mais de 100 cultivares de soja resistente­s ou moderadame­nte resistente­s a Meloidogyn­e estão disponívei­s no mercado brasileiro, embora ainda exista carência de cultivares resistente­s adaptadas para todas as regiões de cultivo.

Infelizmen­te, uma vez constatada a presença de ‘reboleiras’, típicas da presença de nematoides de galha na lavoura de soja, tudo o que o produtor pode fazer é prevenir-se para a próxima safra”

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