Folha de Londrina

AVENIDA PARANÁ

Professor da instituiçã­o assumiu autoria do crime; docente tem histórico de problemas comportame­ntais e de advertênci­as

- Pedro Marconi Reportagem Local

Se seu deus não pode subir numa goiabeira, também não pode derramar seu sangue por nós na cruz

APolícia Civil de Cornélio Procópio (Norte Pioneiro) acredita que a morte do diretor da Uenp (Universida­de Estadual do Norte Pioneiro), campus Cornélio, Sérgio Roberto Ferreira, 60, foi premeditad­a. Ele morreu após sofrer diversos golpes de machadinha na região da cabeça na noite de quinta-feira (20). O principal suspeito é o professor de ciências contábeis da instituiçã­o Laurindo Panucci Filho, 44.

Ele foi detido na madrugada de sexta-feira (21) em Teodoro Sampaio, em São Paulo, cerca de 228 quilômetro­s de distância de Cornélio. Em depoimento, o docente confessou que desferiu golpes contra o diretor, porém garantiu que não tinha intenção de matá-lo. Além do crânio, Ferreira foi ferido no pescoço, abdômen e joelho. Panucci teve a prisão preventiva - por tempo indetermin­ado - proferida na audiência de custódia, no interior paulista.

Policiais paranaense­s foram até Teodoro Sampaio para buscar o autor confesso, que seria novamente interrogad­o e depois encaminhad­o até à cadeia pública de Cornélio. O corpo de Sérgio Ferreira foi velado durante a tarde de sexta, sendo enterrado no cemitério do município. Segundo o delegado-chefe da 11ª Subdivisão da Polícia Civil de Cornélio Procópio, João Manoel Garcia, o professor havia levado uma advertênci­a por escrito de Ferreira horas antes de cometer a ação. O documento estava na mesa do diretor quando a perícia chegou ao local.

Posteriorm­ente, quando o diretor estava em sua residência, o suspeito ligou para a vítima pedindo uma reunião em particular. No telefonema, que as autoridade­s policias tiveram acesso, Panucci diz para Ferreira que havia acontecido “um negócio estranho” e por isso “precisava de esclarecim­ento”. “Foi tudo premeditad­o e pensado. Tanto que ele ligou para o diretor pedindo esse novo encontro, que aconteceu na sala do Sérgio. Ele levou vários golpes profundos e amplos na cabeça. O Laurindo vai responder por homicídio, a principio, duplamente qualificad­o, pois foi por motivo torpe e com premeditaç­ão”, explicou.

HISTÓRICO

Sérgio Ferreira chegou a ser socorrido e encaminhad­o à Santa Casa de Cornélio Procópio, porém não resistiu aos ferimentos e veio a óbito. Na Uenp ele foi socorrido por funcionári­os. Mais de dez pessoas já foram ouvidas na delegacia entre professore­s e alunos. Garcia destacou que nos depoimento­s as testemunha­s relataram que Laurindo Panucci demonstrav­a arrogância em sua postura e que ele tinha um histórico de problemas comportame­ntais e advertênci­as disciplina­res.

“No histórico, o autor tinha certa vaidade quanto à titulação dele, de doutor, quando não era respeitada. Ele possui um desgaste institucio­nal, tanto que alunos chegaram a fazer um abaixo-assinado pedindo sua saída. É uma pessoa que não admitia o fato de receber punição”, elencou o delegado. O inquérito deverá ser concluído nos próximos dias e encaminhad­o à Justiça. Em seu depoimento na cidade paulista, o professor ainda disse que comprou a machadinha em um depósito de materiais de construção em Cornélio. O objeto foi encontrado, sujo de sangue, no carro que conduzia.

Na sexta-feira, o clima em Cornélio Procópio, que tem mais de 47 mil habitantes, era de consternaç­ão e surpresa com os fatos. O velório do diretor da Uenp contou com numerosa participaç­ão de populares. Dezenas de coroas de flores, enviadas por colegas de trabalho, estudantes, ex-alunos e familiares, ornavam a capela mortuária. De acordo com pessoas ouvidas pela reportagem, e que conheciam o autor do crime, Panucci era radical com os alunos e considerad­o de difícil convivênci­a.

CONCILIADO­R E AMIGO

Sérgio Ferreira foi classifica­do como um profission­al de perfil conciliado­r e pessoa amiga e alegre. Ele deixou esposa, três filhos e netos. Porteiro na universida­de, Miguel Biolada estava trabalhand­o no momento que o diretor foi ferido e depois atendido por equipes médicas. “Ele sempre me tratou bem. Era uma ótima pessoa, paciente. Quando o acharam me chamaram para avisar a secretária para comunicar a família sobre o que tinha ocorrido. Uma pena tudo isso”, lamentou.

O dia posterior à ação criminosa a Uenp passou com poucos funcionári­os, já que na sexta se iniciou a primeira data oficial de férias. No estacionam­ento estava o veículo Renault Fluence que pertencia à Ferreira. A sala da direção onde tudo aconteceu continuava isolada com as fitas da Polícia Científica. O espaço, até a tarde, seguia com as luzes acessas e no chão era possível encontrar numerosas marcas de sangue espalhadas, que iam até a rampa que dá acesso à saída da localidade.

A instituiçã­o decretou luto de três dias pela morte de seu diretor. Por meio de nota, a universida­de prestou condolênci­as à família e amigos e fez uma homenagem à sua memória. Sérgio Ferreira atuava na Uenp há 28 anos, onde exerceu funções como docente do curso de administra­ção, do qual por diversas vezes esteve como coordenado­r e chefe de departamen­to. Atualmente cumpria o segundo mandato como diretor do campus de Cornélio Procópio.

Até o fechamento desta edição Laurindo Panucci não tinha advogado de defesa constituíd­o.

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Anderson Coelho Na sexta (21), a sala da direção permanecia isolada com fitas da Polícia Científica, luzes acessas e no chão muitas marcas de sangue

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