Eficiência na gestão
OSistema Faep apresentou os vencedores de mais uma edição do PER (Programa Empreendedor Rural) no último dia 14. Dez projetos finalistas foram ao palco montado no Expotrade Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, sob os olhares de mais de 5 mil pessoas de todo o Estado, reunidas para o Encontro Estadual de Empreendedores e Líderes Rurais.
Nenhum propunha a invenção da roda: as soluções variavam desde um aumento de 50m² de área plantada de maracujá até a implementação de um novo aviário com sistema de aquecimento alimentado por cavaco granulado, como foi o caso do projeto vencedor, dos irmãos André e Adriano Facin, de Céu Azul, no Oeste do Estado (confira os projetos finalistas na página 7).
Mas também poderia ser apenas o caso de melhorar uma cerca, já que o que mais interessa aos organizadores do programa é o percurso feito pelos participantes. A ideia, segundo a gestora do programa, Luciana Matsuguma, é que os produtores olhem para suas propriedades com lentes de empreendedor e passem a conduzi-las como as empresas que elas, de fato, são.
“O produtor é um empreendedor porque faz a gestão, implanta novas tecnologias, contrata ou demite (a depender do tamanho da propriedade). Ele trabalha com todas as áreas”, explica Matsuguma. “A partir do momento em que compreende que tem uma empresa, ele se torna cada vez mais profissional no que está fazendo.”
A empreitada já dura 15 anos: o PER foi criado em 2003 pelo Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) e pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) do Paraná para atender pessoas ligadas ao meio rural, de proprietários e suas famílias a prestadores de serviço.
O curso inclui uma fase de conteúdos multidisciplinares, que soma 136 horas de aulas semanais com assuntos que vão desde economia até questões jurídicas do meio agrário, passando por gestão e administração rural. Parte-se, então, para o diagnóstico da propriedade, o planejamento estratégico, o estudo de mercado e, por fim, o projeto - que pode ou não ser implementado.
Ao longo desses 15 anos - e 28 mil participantes -, um perfil diferente de produtor foi surgindo, conforme conta o instrutor do Senar Luiz Antonio Tiradentes, “facilitador” do programa desde a primeira edição. Para ele, o produtor rural está se profissionalizando mais e buscando mais informações para se manter competitivo.
“De uma maneira geral, as propriedades rurais, hoje, possuem muitas oportunidades, porque a população mundial está aumentando e a demanda por alimentos é crescente. Por outro lado, há a concorrência, questões climáticas e de mercado e também questões políticas e sociais que também trazem ameaças. O produtor tem de estar atento ao que está acontecendo fora da porteira para conseguir de adaptar”, analisa. “Quando as pessoas vêm ao PER, vêm porque sabem que a concorrência é pesada e se, não fizerem a gestão de forma correta, nem o leite, nem a ave e nem a soja vão dar dinheiro”, diz.
Criz Zanovello, que levou o segundo lugar do prêmio ao lado de Roni Zanovello com um projeto de desenvolvimento de um sistema integrado de produção para o sítio da família, em Santa Maria do Oeste, conta que percebe essa mudança em curso. Para ele, há uma “questão cultural” a ser mudada do campo. “A gente cresce com a ideia de ‘ir levando’ as coisas, sem planejamento”, explica. “Mas essa mudança está acontecendo. E, se não ocorrer, muitas propriedades pequenas, familiares, vão acabar sucumbindo às grandes fazendas”, avalia.
O projeto vencedor neste ano é um bom exemplo de como as ferramentas exploradas pelo curso funcionam neste sentido. Adriano Facin conta que o trabalho possibilitou um diagnóstico preciso do que estava dando retorno na propriedade, que, além de avicultura de corte também produz soja, milho e leite. “O que vinha salvando era a atividade avícola. O PER trouxe esse diagnóstico e nos auxiliou na tomada de decisões e no planejamento”, conta.
O projeto dos irmãos envolve a substituição da lenha utilizada no aquecimento do aviário por cavaco granulado para viabilizar a autossuficiência energética. Isso envolveu, por exemplo, mapear a região para descobrir fornecedores. “Implementar um projeto desses sem saber se era viável poderia dar prejuízo para a propriedade”, explica.
“É extremamente importante para o produtor não sair simplesmente fazendo”, explica Luciana Matsuguma. “Ao colocar no papel, se o projeto é inviável, o produtor terá gastado apenas papel e caneta”, ilustra.
Foram inscritos 89 trabalhos na edição 2018 do PER. Os primeiros colocados ganharam uma viagem técnica internacional a ser feita em 2019.
despertar Curso ajudou a interesse produtor dos filhos, conta
A propriedade do casal Milton, 61, e Luzia Teshima, 51, passou por algumas mudanças desde o início dos anos 2000, quando eles voltaram do Japão, depois de dez anos trabalhando na indústria, decididos a viver no campo.
Compraram a propriedade em Assaí e começaram apenas com a soja. Mas a família cresceu e o rendimento ficou baixo. Em busca de diversificar a produção, tentaram, por exemplo, o bicho da seda. “Não deu muito certo na época”, contou Milton à FOLHA.
Eles acertaram a mão com o frango de corte - hoje, principal atividade econômica da pequena propriedade, que também produz soja e trigo. Eles já produzem cerca de 24 mil frangos. Mas, segundo Luzia, tudo era tocado meio intuitivamente. “A gente dizia: vamos fazer isso, que está na moda, e ver no que dá”, conta.
Por recomendação de um amigo, o casal resolveu fazer o PER e teve resultados animadores. “No próprio curso a gente fez um diagnóstico da situação atual do sítio, e começamos a conhecer os pontos fortes e fracos, que estamos tentando consertar a partir de agora”, disse Milton.
A intenção é colocar em prática o projeto, que foi um dos finalistas: fazer um novo aviário de frango de corte com autossuficiência de lenha. “Estamos correndo atrás de implementar”, conta Luzia. “Fazendo o diagnóstico, a gente consegue ter mais confiança”, diz.
Milton conta que, se antes tudo era feito “com base no que o pessoal comentava” e nos dados que apenas a integradora tinha, hoje o casal se vê com mais autonomia para analisar o cenário e fazer escolhas.
Agora, ele está de olho em outro projeto: fazer com que os filhos se interessem em continuar o que os pais começaram. São três: a mais velha, de 17, está prestando o vestibular. O de 16 faz escola técnica de eletroeletrônica. A mais nova, por enquanto, está fora do radar - tem 7.
“Com esse curso, foi muito bom, porque eles acabaram participando”, conta Milton. “Eles ajudaram na pesquisa, acabaram se envolvendo, percebendo que há novas tecnologias. Acredito que isso os tenha motivado a ver o sítio de uma outra forma”, comemora.
Os argumentos são fortes. “Em contato com os números, eles viram que podem ganhar muito mais aqui do que se forem trabalhar na cidade”, diz Milton. “Fazendo o projeto, eles constataram que há perspectiva, que é possível. E têm tudo na mão.” (R.C.)