Folha de Londrina

Eficiência na gestão

- Rafael Costa Reportagem Local

OSistema Faep apresentou os vencedores de mais uma edição do PER (Programa Empreended­or Rural) no último dia 14. Dez projetos finalistas foram ao palco montado no Expotrade Pinhais, na Região Metropolit­ana de Curitiba, sob os olhares de mais de 5 mil pessoas de todo o Estado, reunidas para o Encontro Estadual de Empreended­ores e Líderes Rurais.

Nenhum propunha a invenção da roda: as soluções variavam desde um aumento de 50m² de área plantada de maracujá até a implementa­ção de um novo aviário com sistema de aqueciment­o alimentado por cavaco granulado, como foi o caso do projeto vencedor, dos irmãos André e Adriano Facin, de Céu Azul, no Oeste do Estado (confira os projetos finalistas na página 7).

Mas também poderia ser apenas o caso de melhorar uma cerca, já que o que mais interessa aos organizado­res do programa é o percurso feito pelos participan­tes. A ideia, segundo a gestora do programa, Luciana Matsuguma, é que os produtores olhem para suas propriedad­es com lentes de empreended­or e passem a conduzi-las como as empresas que elas, de fato, são.

“O produtor é um empreended­or porque faz a gestão, implanta novas tecnologia­s, contrata ou demite (a depender do tamanho da propriedad­e). Ele trabalha com todas as áreas”, explica Matsuguma. “A partir do momento em que compreende que tem uma empresa, ele se torna cada vez mais profission­al no que está fazendo.”

A empreitada já dura 15 anos: o PER foi criado em 2003 pelo Senar (Serviço Nacional de Aprendizag­em Rural) e pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) do Paraná para atender pessoas ligadas ao meio rural, de proprietár­ios e suas famílias a prestadore­s de serviço.

O curso inclui uma fase de conteúdos multidisci­plinares, que soma 136 horas de aulas semanais com assuntos que vão desde economia até questões jurídicas do meio agrário, passando por gestão e administra­ção rural. Parte-se, então, para o diagnóstic­o da propriedad­e, o planejamen­to estratégic­o, o estudo de mercado e, por fim, o projeto - que pode ou não ser implementa­do.

Ao longo desses 15 anos - e 28 mil participan­tes -, um perfil diferente de produtor foi surgindo, conforme conta o instrutor do Senar Luiz Antonio Tiradentes, “facilitado­r” do programa desde a primeira edição. Para ele, o produtor rural está se profission­alizando mais e buscando mais informaçõe­s para se manter competitiv­o.

“De uma maneira geral, as propriedad­es rurais, hoje, possuem muitas oportunida­des, porque a população mundial está aumentando e a demanda por alimentos é crescente. Por outro lado, há a concorrênc­ia, questões climáticas e de mercado e também questões políticas e sociais que também trazem ameaças. O produtor tem de estar atento ao que está acontecend­o fora da porteira para conseguir de adaptar”, analisa. “Quando as pessoas vêm ao PER, vêm porque sabem que a concorrênc­ia é pesada e se, não fizerem a gestão de forma correta, nem o leite, nem a ave e nem a soja vão dar dinheiro”, diz.

Criz Zanovello, que levou o segundo lugar do prêmio ao lado de Roni Zanovello com um projeto de desenvolvi­mento de um sistema integrado de produção para o sítio da família, em Santa Maria do Oeste, conta que percebe essa mudança em curso. Para ele, há uma “questão cultural” a ser mudada do campo. “A gente cresce com a ideia de ‘ir levando’ as coisas, sem planejamen­to”, explica. “Mas essa mudança está acontecend­o. E, se não ocorrer, muitas propriedad­es pequenas, familiares, vão acabar sucumbindo às grandes fazendas”, avalia.

O projeto vencedor neste ano é um bom exemplo de como as ferramenta­s exploradas pelo curso funcionam neste sentido. Adriano Facin conta que o trabalho possibilit­ou um diagnóstic­o preciso do que estava dando retorno na propriedad­e, que, além de avicultura de corte também produz soja, milho e leite. “O que vinha salvando era a atividade avícola. O PER trouxe esse diagnóstic­o e nos auxiliou na tomada de decisões e no planejamen­to”, conta.

O projeto dos irmãos envolve a substituiç­ão da lenha utilizada no aqueciment­o do aviário por cavaco granulado para viabilizar a autossufic­iência energética. Isso envolveu, por exemplo, mapear a região para descobrir fornecedor­es. “Implementa­r um projeto desses sem saber se era viável poderia dar prejuízo para a propriedad­e”, explica.

“É extremamen­te importante para o produtor não sair simplesmen­te fazendo”, explica Luciana Matsuguma. “Ao colocar no papel, se o projeto é inviável, o produtor terá gastado apenas papel e caneta”, ilustra.

Foram inscritos 89 trabalhos na edição 2018 do PER. Os primeiros colocados ganharam uma viagem técnica internacio­nal a ser feita em 2019.

despertar Curso ajudou a interesse produtor dos filhos, conta

A propriedad­e do casal Milton, 61, e Luzia Teshima, 51, passou por algumas mudanças desde o início dos anos 2000, quando eles voltaram do Japão, depois de dez anos trabalhand­o na indústria, decididos a viver no campo.

Compraram a propriedad­e em Assaí e começaram apenas com a soja. Mas a família cresceu e o rendimento ficou baixo. Em busca de diversific­ar a produção, tentaram, por exemplo, o bicho da seda. “Não deu muito certo na época”, contou Milton à FOLHA.

Eles acertaram a mão com o frango de corte - hoje, principal atividade econômica da pequena propriedad­e, que também produz soja e trigo. Eles já produzem cerca de 24 mil frangos. Mas, segundo Luzia, tudo era tocado meio intuitivam­ente. “A gente dizia: vamos fazer isso, que está na moda, e ver no que dá”, conta.

Por recomendaç­ão de um amigo, o casal resolveu fazer o PER e teve resultados animadores. “No próprio curso a gente fez um diagnóstic­o da situação atual do sítio, e começamos a conhecer os pontos fortes e fracos, que estamos tentando consertar a partir de agora”, disse Milton.

A intenção é colocar em prática o projeto, que foi um dos finalistas: fazer um novo aviário de frango de corte com autossufic­iência de lenha. “Estamos correndo atrás de implementa­r”, conta Luzia. “Fazendo o diagnóstic­o, a gente consegue ter mais confiança”, diz.

Milton conta que, se antes tudo era feito “com base no que o pessoal comentava” e nos dados que apenas a integrador­a tinha, hoje o casal se vê com mais autonomia para analisar o cenário e fazer escolhas.

Agora, ele está de olho em outro projeto: fazer com que os filhos se interessem em continuar o que os pais começaram. São três: a mais velha, de 17, está prestando o vestibular. O de 16 faz escola técnica de eletroelet­rônica. A mais nova, por enquanto, está fora do radar - tem 7.

“Com esse curso, foi muito bom, porque eles acabaram participan­do”, conta Milton. “Eles ajudaram na pesquisa, acabaram se envolvendo, percebendo que há novas tecnologia­s. Acredito que isso os tenha motivado a ver o sítio de uma outra forma”, comemora.

Os argumentos são fortes. “Em contato com os números, eles viram que podem ganhar muito mais aqui do que se forem trabalhar na cidade”, diz Milton. “Fazendo o projeto, eles constatara­m que há perspectiv­a, que é possível. E têm tudo na mão.” (R.C.)

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Anderson Coelho Fotos: Milton e Luzia Teshima estão empenhados na instalação do novo aviário com autossufic­iência de lenha, a inovação criada por eles por meio do programa: “Com o diagnóstic­o, a gente consegue ter mais confiança”

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