AÇÃO SOLIDÁRIA
Moradias de emergência serão destinadas a famílias da Vila Corbélia; iniciativa é da ONG Teto
– Voluntários da ONG Teto construíram neste final de semana 21 casas de emergência na Favela 29 de Março, na Cidade Industrial de Curitiba, incendiada recentemente. Mais de 300 famílias vivem na ocupação.
Curitiba - A organização internacional Teto construiu 21 moradias de emergência na Favela 29 de Março, na CIC (Cidade Industrial de Curitiba), incendiada na noite do dia 7 de dezembro durante uma ação da PM-PR (Polícia Militar do Paraná). Pelo menos 105 casas foram queimadas, segundo um mapeamento feito no local. Mais de 300 famílias vivem na ocupação, onde ainda se podem ver árvores e pedaços de madeira queimados. A ação solidária foi realizada no sábado (22) e domingo (23) e contou com a participação de cerca de 120 voluntários da Teto, integrantes de movimentos sociais, coletivos e de outras comunidades, além dos próprios moradores da ocupação.
As primeiras 21 unidades serão destinadas a famílias com crianças, gestantes, idosos ou pessoas “sozinhas”, seguindo triagem da própria comunidade. A ação foi feita com respaldo da Cohab (Companhia de Habitação Popular de Curitiba), considerando restrições para uso habitacional da área. “Houve negociação entre as partes e conseguimos chegar a um acordo para reconstruir as casas já neste fim de semana”, contou o gestor da Teto no Paraná, Lucas Kogut. Ele diz que foi informado pela prefeitura de que há um plano de regularização fundiária para o local que prevê vias, saneamento básico e energia elétrica. A ONG apoia que os moradores da ocupação permaneçam definitivamente no local.
A meta da Teto é construir 150 moradias emergenciais. Há uma vaquinha online para arrecadar recursos no endereçojuntos.com.vc/pt/29resiste. Cada casa custa cerca de R$ 5 mil. A metodologia construtiva da ONG, que lança mão de painéis pré-fabricados, permite levantar as moradias em 48 horas. A ideia é que estas casas possam ser utilizadas por até três anos.
A ação se baseia no princípio de que, tiradas de uma situação de extrema vulnerabilidade e com suas demandas mais básicas atendidas, essas famílias tenham melhores condições de sair da pobreza. “Temos vários relatos de famílias que, a partir da casa, conseguem ter uma maior estabilidade e segurança para correr atrás de emprego”, explicou Kogut.
Adriany Darly, 42, dona da primeira casa incendiada na 29 de Março, conta que está vivendo com seus três filhos na casa de conhecidos no bairro Fazendinha, a cerca de seis quilômetros dali. “Estamos tocando a vida, mesmo na dificuldade”, contou. “Abatidos todos nós ficamos, mas não dá para entregar os pontos”, disse. Ela contou que, para viabilizar novamente a moradia, os moradores precisam se dedicar ao processo em tempo integral. “Pessoas que alugaram outros locais para morar enquanto reconstroem suas casas muitas vezes perdem oportunidades aqui por não terem um espaço ficar. E, se ficassem, não teriam como trabalhar”, contou.
AMONTOADOS
Segundo Edna Bacilli, coordenadora da Dona Cida (uma ocupação contígua à 29 de Março), há pessoas morando provisoriamente em casas de parentes e de moradores da ocupação vizinha que abriram suas residências para quem estava desalojado. “Estão amontoados, sentem que estão atrapalhando. E tem gente muito traumatizada, entrando em depressão pelo que aconteceu”, disse.
Nayane Saraiva dos Santos está morando em uma casa emprestada na Dona Cida. Ela contou que precisou separar os filhos, de 1, 4 e 7 anos. “Estou com meu bebê de 1 ano e 8 meses, mas minha filha está na casa da minha irmã e meu outro filho está na casa de uma amiga”, contou. “A minha expectativa é que a casa seja construída o mais rápido possível para ter minha família dentro de casa, reunida novamente. Isso é o que mais importa”, disse. Ela contou que os filhos estão assustados com o incêndio e têm medo de ao local. “Nem todo mundo vai conseguir ter uma vida igual à que tinha antes”, disse.
A dona de casa Rejane da Conceição Silva, 34, está na casa de familiares na Corbélia. No sábado, quando ajudava a construir a moradia emergencial em que se instalará com o marido e dois filhos (de 2 e 8 anos), disse esperar que a repercussão da tragédia faça com que o Estado olhe com mais atenção para as pessoas que vivem na ocupação. “Ainda estamos com medo. Mas a vontade de reconstruir a moradia e voltar para seguir a vida é maior”, disse.
Abatidos todos nós ficamos, mas não dá para entregar os pontos”